
12/05/2025
Fomos assistir à peça Hysteria, do Grupo XIX de Teatro, e saímos impactados.
A potência do espetáculo continua impressionante, mesmo mais de duas décadas após sua estreia. Ainda mais simbólica é a sua encenação neste momento: a última temporada do grupo em sua sede histórica, na Vila Maria Zélia, zona leste de São Paulo.
Após 21 anos de ocupação artística contínua, o Grupo XIX se vê forçado a deixar o espaço em razão do valor do aluguel, hoje incompatível com a realidade de um coletivo teatral que depende de políticas públicas de fomento à cultura. A situação revela, mais uma vez, o enfraquecimento de iniciativas culturais de longo prazo e o desmonte das estruturas que as sustentam.
A Vila Maria Zélia não é apenas um cenário — é parte integrante da dramaturgia do grupo, que, desde 2004, transformou esse conjunto tombado em um espaço de criação, formação e difusão cultural. A saída do XIX de lá representa, para além da perda de um espaço físico, o rompimento de um vínculo simbólico com a cidade e com a memória do trabalho artístico realizado ali.
Em cena, Hysteria expõe as violências cometidas contra mulheres em instituições psiquiátricas no século 19, mas os ecos dessa repressão ainda se fazem ouvir. O espetáculo permanece atual ao tratar de corpos silenciados e de vozes que lutam por existência e escuta — o que nos faz pensar nas muitas formas de exclusão que persistem hoje, inclusive no campo da cultura.
As últimas apresentações de Hysteria acontecem nos dias 16 e 17 de maio. Já no dia 25, haverá uma apresentação única da peça Hygiene, também parte do repertório do grupo. Os ingressos e mais informações estão disponíveis pelo no perfil
Mais do que prestigiar um espetáculo, é uma oportunidade de reconhecer e apoiar uma trajetória artística que ajudou a reconfigurar a cena teatral paulistana — e de refletir sobre os rumos que estamos tomando enquanto sociedade no trato com a cultura.