28/09/2025
A Queda do Dólar no Brasil e a Ilusão de Mérito Presidencial.
Por Geraldo Vilger - 28/09/2025.
Nos últimos meses, o dólar tem despencado no Brasil, caindo 13,7% desde o início de 2025, de R$ 6,18 para R$ 5,33. Alguns entusiastas do governo Lula (hic) não hesitam em atribuir essa valorização do real às políticas do presidente, como se fosse um triunfo da gestão petista.
No entanto, essa narrativa é não só simplista, mas também revela uma fragilidade: quem precisa creditar ao Lula algo que é majoritariamente fruto de dinâmicas globais assume, implicitamente, que não há conquistas domésticas substanciais para destacar.
A desvalorização do dólar não é um fenômeno isolado no Brasil. Pelo contrário, a moeda americana perde força no mundo todo, com o índice DXY caindo para 97,9, o menor nível desde 2022.
Moedas como o euro, o rublo e o peso mexicano valorizaram-se ainda mais contra o dólar. A principal causa? A estratégia econômica do presidente dos EUA, Donald Trump, batizada de "tarifaço". Trump impôs sobretaxas a produtos de centenas de países, visando atrair investimentos para os EUA, reduzir déficits comerciais – que quase dobraram em meses recentes – e promover a reindustrialização americana. Como explica o especialista Otávio Oliveira, do banco Daycoval, essa política de "América em primeiro lugar" desafia o protagonismo chinês e gera incerteza global, enfraquecendo o dólar.
Outros fatores globais reforçam essa tendência: inflação persistente nos EUA (2,9% em 12 meses, acima da meta), corte de juros pelo Federal Reserve em resposta ao desemprego crescente, e a redução das reservas mundiais em dólar, de 64,8% em 2015 para 57,7% em 2025. Bancos centrais diversificam para ativos como ouro, cujo preço subiu 32%. No Brasil, um modelo matemático de economistas do FGV Ibre e BRCG Consultoria confirma que a queda é impulsionada principalmente pelo cenário externo, com o diferencial de juros (Selic em 15%) atuando como atrativo secundário para investimentos estrangeiros.
Atribuir isso ao Lula é se fazer de besta. Ignora-se o contexto internacional para inflar um suposto sucesso presidencial, o que sugere uma escassez de realizações concretas – como controle efetivo da dívida pública, que chega a R$ 9,6 trilhões (77,6% do PIB). Em vez de narrativas políticas, precisamos de análises econômicas reais. A queda do dólar beneficia o Brasil, mas seu crédito vai para Trump e o mercado global, não para Brasília.