Semema Semema, "em meio ao mar de signos", é a revista de arte e cultura do escritor Adriano Dias. Somos uma revista de conteúdo original, múltiplo e democrático.

Compre o livro aqui: https://www.editorapatua.com.br/produto/202030/semema-de-adriano-dias Em meio ao mar de signos que nos cerca, Semema fornece leituras críticas do que vem acontecendo no mundo das artes, da educação e na sociedade como um todo. Aqui divulgamos os diversos pontos de vista sobre os assuntos mais recorrentes dos nossos dias.

Quinta-feira, 5/6, a conversa poética com café será confusa, complexa, estranha e misteriosa. Vamos tantar cantar e dize...
04/06/2025

Quinta-feira, 5/6, a conversa poética com café será confusa, complexa, estranha e misteriosa. Vamos tantar cantar e dizer o que não se diz porque não pode, não dá, não se consegue, mas existe.
É o quarto encontro no charmoso coreto da cafeteria LaMar, na Azevedo Sodré, 59. Um retiro poético no caos urbano, com atendimento de excelência, café e quitutes deliciosos.
O convite está lançado: venha!

Entre o nirvana e o cromossomohá a confusão de vísceras e símbolos que somos.E pouco mais nos vazaalém de quereres parad...
02/06/2025

Entre o nirvana e o cromossomo
há a confusão de vísceras e símbolos que somos.

E pouco mais nos vaza
além de quereres paradoxais
que permitam nossas parcas palavras

como o anseio por paz,
sempre para fora de casa
(no infinito do céu,
no horizonte que não acaba,
nas fossas abissais);

como o amor imenso
feito de tanta posse dentro
e os ódios que ela traz;

como a ordem imposta ao mundo,
fosse o ordenador oriundo
de um reino congruente,
não de um caos latente
e nada mais;

Como se a realidade
que nos nasce
na carne da alma
encontrasse
a coerência que lhe falta
num verso ou numa frase

Como se um desejo instintivo
coubesse inteiro (quase cabe..)
num simples substantivo.

Adriano Dias
Ilustração de L-E-N-T-E-S-C-U-R-A (https://www.behance.net/LenteScura)

Tem os sonhos, com seu brilho lógico, seu aroma liberdade, seu descanso gozoe seu impossível rebaixando meus desejos ao ...
20/03/2025

Tem os sonhos,
com seu brilho lógico, seu aroma liberdade, seu descanso gozo
e seu impossível

rebaixando meus desejos ao plano dos planos,
com seus passos necessários, seu esforço
e seu peso pisoteando as flores dos sonhos,

devolvendo-me ao cotidiano
com seus compromissos, com suas ordens, com suas gentes
e seu voraz imperativo do agora

arrastando o comboio das lacunas do passado,
com tantos planos inconclusos,
com tantos sonhos moribundos,
todos rançosos de seu abandono,

gotejando um visgo derrota em minhas engrenagens,
lembrando os eus planejados que ainda não ocorreram,
os desesperos controlados que ainda os tenho,

como uma massa compacta
sopesando-me ao mais baixo de mim,
onde redijo a fel,
o tempo todo,
o Impossível que me rebaixa os sonhos...

Adriano Dias
Ilustração a sul-coreana Aiden Lee Jangyong

Sobre a minha pátria: Brasil.
05/02/2025

Sobre a minha pátria: Brasil.

Tenho andado tremendamente intrigado com a palavra pátria.
Quanto ao uso, tem um poder nítido (e absurdo!).
Ouvir – Pátria! – instiga ímpetos de dar um soco, um tiro ou um berro de susto. Talvez ative o dispositivo que nos foi construído ao longo dos milênios em que precisamos permanentemente defender nosso grupo. É como em jogo do time para que torço, ou num ringue, em qualquer situação que me obrigue a defender um lado que pareça ou me convençam ser o meu.
Por isso, é só alguém de confiança atiçar um inimigo que a gente é capaz de se lançar ao seu encalço e destroçá-lo, antes de saber quem fosse. Ainda mais em bando.
Mas quando investigo seu significado, pensando um pouco, parece um conceito tão fortuito, fluido, maleável. Que ato configura uma defesa da pátria, além da guerra? Que coisas ou situações materializam sua ideia? É o idioma, a cultura do povo, nossas comidas, nossos objetos, jeito de falar característico, nossa arquitetura, nossa peculiar mistura? Ou é apenas a bandeira sacodida ao vento em fúria enquanto brada: Brasil!? Só essa sensação pura?
Como professor de literatura me pergunto: o que eu ensino é patriótico? Os grandes mestres da escrita em prosa como Machado, Gregório, Lobato, Gonzaga, Graciliano, Alencar, Oswald. Drummond era patriota? Independente das ideias que defendiam, da ideologia que pregavam, devo contar o que eles contaram, ensinar o que eles escreveram como digno de representar o meu país?
Ensinamos, no alto pedestal de um século quase, que a década de 1920 foi cenário de um embate entre duas correntes que reivindicavam o direito de se definir como Legítima Arte Brasileira (moderna, se possível). Como deve ser fascinante ler toda a produção dessa época.
De um lado, Oswald de Andrade, estudou em Paris (imagina!), viveu a Belle Époque (assistiu “Meia noite em Paris”?), veio cheio de globalismo na pauliceia fervilhando desenvolvimento urbano e industrial.
Defendeu a apropriação das descobertas estruturais e estéticas dos europeus para dar corpo à nova arte brasileira, usando o manancial da cultura popular, nosso mosaico tão diverso. Mário pirou na mesma linha, pesquisou apaixonado as nossas mais peculiares manifestações culturais e costurou tudo numa rapsódia absurda: Macunaíma.
Antropófagos!
Combatidos como entreguistas, estrangeiristas, francesistas, antipatrióticos.
Do outro lado da arena havia os verde-amarelos de Plínio Salgado, vinculado ao movimento integralista, defensores de uma literatura que espelhasse os princípios de sociedade que queriam ver instaurados no país. O nome do movimento refere às cores do símbolo máximo do patriotismo, a bandeira, assim como os valores defendidos estavam ligados à igreja e à restauração da família tradicional. Nosso folclore, nossos heróis, nossas riquezas exaltadas. Preciso ler Cobra Norato. Apaixonados e combativos, produziram menos, repercutiram menos, produziram pouco. É difícil rastrear o seu legado.
Eram os patriotas.
Verde-amarelos.
Ainda temos outros autores gigantes e polêmicos, como Monteiro Lobato ou o cubatense, infelizmente no ostracismo, Afonso Schmidt (o cara escreveu a primeira utopia de ficção científica brasileira – Zanzalás - e se passa em Cubatão!) Mais dezenas de grandes talentos que vêm consolidando um patrimônio cultural que podemos dizer com orgulho: é Brasil. É muito do que o mundo admira em nós, a mais que a natureza (que não é produto nosso, ao contrário, produzimos destroços), o futebol (que nem é mais aquelas coisas) e as bundas de nossas mulheres.
João Gilberto, Hilda Hist, Gilberto Mendes, Caetano Veloso, Mutantes, Hermeto Pascoal, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Chico Buarque, Érico Veríssimo, Glauber Rocha, Paulo Leminski, tantos gigantes contestadores, polêmicos, compõem o caldo mais consistente da nossa pátria, talvez.
Para os quais são apontados (sempre foram) os dedos verdamarelos.
Como será a pátria em que eles não caibam?

Adriano Dias
Ilustração de Augusto Zambonato (https://augustozambonato.com/)

Oração: Santo milagre da normalidade
23/12/2024

Oração: Santo milagre da normalidade

Soneto das Decisões PrecisasÉ preciso berrar o urro que acorde.Ganhar, no rasgo ao dia de seu grito,O vigor para o que v...
15/12/2024

Soneto das Decisões Precisas

É preciso berrar o urro que acorde.
Ganhar, no rasgo ao dia de seu grito,
O vigor para o que vai ser vivido,
Conforme calhe ser a nossa sorte.

É preciso saber calar, mais tarde.
Ganhar, na voz cortante do silêncio,
a eloquência de seu não-som esplêndido,
esse nada com ares de verdade.

É preciso, ainda, mais do que tudo,
Aprender a distinguir os seus usos,
Quando seja o caso de cada uma,

Pois que não há nada pior, em suma,
Que o gritar em vão com que se acostuma,
Ou o calar que deixa a todos confusos.

Adriano Dias
Composição híbrida do americano James Petrucci (http://www.jamespetrucci.com/)

SigoO melhor possívelOs trilhos dos caminhos ao meu disporCom o quanto melhor consigoGovernar os dispositivos de meu maq...
06/12/2024

Sigo
O melhor possível
Os trilhos dos caminhos ao meu dispor
Com o quanto melhor consigo
Governar os dispositivos de meu maquinário interior
Administrando juízos e argumentos
Entre os assaltos dos instintos
E os boicotes dos desejos

Mas se estas rédeas
Diárias
Ardem-me
Demais
À palma
Das mãos
Da alma
Ela
Simplesmente
As larga

Adriano Dias
Ilustração do sul-coreano JaeHoon Choi

https://www.behance.net/plato_o

Tenho respeito aos protocolos,que acho lindo tanta p***adando tons menos animalescos  aos gestos que descontrolo,Mas, no...
04/12/2024

Tenho respeito aos protocolos,
que acho lindo tanta p***a
dando tons menos animalescos
aos gestos que descontrolo,

Mas, no seu caso, dispenso o talher,
que você é de comer com as mãos, mulher!

Adriano Dias
Ilustração do uruguaio Graf n'Arq

Lembra a dor na cabeça no dia daquela escolha maldita?Lembra o arrependimento após a briga,Ocorrida quando o corpo pedia...
03/12/2024

Lembra a dor na cabeça no dia daquela escolha maldita?
Lembra o arrependimento após a briga,
Ocorrida quando o corpo pedia cama, mas não dormia?
Lembra a alegria das decisões todas tomadas depois de enchida ou esvaziada a barriga, ou da noite bem dormida?
Lembra a graça de cada pensamento depois do gozo, como tudo concerta conosco e faz sentido?
É que a gente pensa com o corpo.
Pena que se esquece disso...

Adriano Dias
Desenho dogrego Nicolas Skorupka
[https://www.behance.net/Nicolas-Skorupka]

Endereço

Santos, SP

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