
25/06/2025
Filhas da Mata
Somos as filhas da mata, de pés descalços e alma nua,
Sensíveis como o orvalho, intensas como a lua.
Trazemos no olhar um mistério antigo,
Algo que encanta, assusta… mas sempre obriga a olhar de novo, bem mais fundo.
Somos remédio de raiz, cura que arde e transforma,
Mas também somos veneno — se feridas, a alma se deforma.
Poesia viva nos gestos, feitiço nos sorrisos,
Temos espinhos e mel, e nossos passos seguem seus próprios ritos.
Chamam-nos de bruxas, selvagens, encantadas,
E há verdade em cada nome — somos mil almas entrelaçadas.
Teimamos como a água que fura pedra,
Mas, se o chamado interno for mais forte, sumimos na floresta sem deixar pegada.
Carregamos beleza, sim, mas também incertezas que o mundo não enxerga,
E na dor que a vida trouxe, tecemos cura como quem enlaça erva.
Somos delicadas sem sermos frágeis —
Acolhemos a lágrima, mas também sopramos ventos que reviram lares.
Dos venenos da vida, fizemos poções sagradas,
Bebemos sombras até que virassem luz nas madrugadas.
Cada alma que cruza nosso caminho conhece um lado do nosso ser,
Porque damos a cada um o reflexo que merece ver.
Somos paixão, verdade, tempestade e clareza,
Filhas da mata, do sagrado, da natureza.
E se às vezes parecemos incompreendidas, é porque sentimos o mundo além da razão —
Com o coração em chamas e os pés fincados no chão.
Ewê Ossain
Eli