21/07/2025
As ferrovias e os túneis mais longos do mundo
Por Roberto Kochen*
As ferrovias, por exigirem raios de curva amplos e baixas declividades, muitas vezes necessitam da construção de túneis extensos para transpor terrenos acidentados ou regiões montanhosas.
Essas travessias subterrâneas representam verdadeiras obras-primas da engenharia, tanto pelos desafios técnicos quanto pela relevância logística que assumem.
O maior túnel ferroviário do mundo é o Túnel de Base de São Gotardo, com 57,1 quilômetros de extensão. Localizado nos Alpes Suíços, ele atinge coberturas de até 2.300 metros de rocha ao longo de seu trajeto. Inaugurado recentemente, o túnel foi construído para melhorar a conectividade ferroviária entre o norte e o sul da Europa, encurtando em cerca de 30 quilômetros o trajeto entre Zurique (Suíça) e Milão (Itália), e reduzindo em 45 minutos o tempo de viagem nesse percurso.
A infraestrutura é utilizada por até 250 trens de carga e 65 trens de passageiros por dia, com velocidades que podem chegar a 250 km/h. A construção do túnel enfrentou condições geológicas extremamente complexas, exigindo soluções de engenharia altamente inovadoras, especialmente em aspectos como acesso, ventilação e segurança operacional.
Antes do túnel de São Gotardo, o recordista mundial era o Túnel Seikan, no Japão, com 53,9 quilômetros de extensão. Inaugurado em 1988, ele conecta as ilhas de Honshu e Hokkaido, atravessando parte do leito marinho, e ainda hoje é uma referência em engenharia de túneis submersos.
Outro exemplo notável é o Eurotúnel (conhecido como Túnel do Canal da Mancha), que liga a França ao Reino Unido. Com 50,5 quilômetros de extensão, sendo 37 km submersos, o túnel foi inaugurado em 1994 e permite o transporte de passageiros, veículos e cargas entre os dois países por meio de trens especiais. Tive a oportunidade de avaliar imprevistos de construção, que ocorreram neste túnel, em 1992.
Outros túneis ferroviários de grande destaque incluem:
• Túnel Yulhyeon (Coreia do Sul): com 50,3 km, foi concluído em 2015, ligando Seul à província de Gyeonggi.
• Túnel de Lötschberg (Suíça): parte da ferrovia transalpina, opera desde 2007 com 34,6 km de extensão.
• Túnel de Gongjue (China): localizado a mais de 3.300 m de altitude, tem 32,6 km e foi construído em apenas seis anos.
• Túnel de Guadarrama (Espanha): com 28,4 km, é parte da rede de trens de alta velocidade que conecta Madri a outras regiões.
Esse panorama mostra como os túneis ferroviários de grande extensão têm papel crucial na melhoria da mobilidade e integração de regiões estratégicas. Nesse contexto, destaca-se o recente anúncio do governo brasileiro sobre a possível construção de uma ferrovia ligando o Atlântico ao Pacífico, entre o Brasil e o Peru. Esse projeto tem como objetivo facilitar o escoamento de cargas entre os oceanos e fortalecer a integração comercial entre América do Sul e Ásia, especialmente com a China. Certamente irá requerer túneis longos, passando pelas Cordilheiras Escalera e dos Andes, e superando desafios geológicos e construtivos complexos.
Caso essa ferrovia se concretize, o Brasil poderá figurar no cenário global das grandes obras ferroviárias, contribuindo para uma logística mais eficiente, sustentável e competitiva. Vamos acompanhar com atenção o desenrolar desse importante projeto.
Foto: Guadarrama tunnel / ACCIONA
* Roberto Kochen, engenheiro, professor e doutor pela Politécnica da USP. CEO da GeoCompany Engenharia
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