04/08/2025
Quem vê os vídeos da minha mãe aqui ou a encontra sentadinha nas visitas e comemorações familiares, não imagina o que acontece antes dessa cena: banho tomado, unha cortada, cabelo aparado, remédios, nebulizações, compressas... tantos cuidados que cabem na rotina de quem cuida.
"Pronto, lá vem ela reclamar de novo!"
Infelizmente, algumas coisas precisam ser repetidas. Quem não vive essa rotina não tem noção do desgaste físico e emocional que ela exige. Eu também não sabia. Mesmo tendo cuidado do meu pai, nunca tinha vivido algo tão constante.
Além do esforço físico, há o peso da vigilância contínua: prevenir acidentes, lidar com as confusões e tentar estar sempre presente, atenta. Isso cansa. Muito.
Na maior parte do tempo, minha mãe está lúcida, cheia de conversa. Mostro fotos dos netos, repasso as histórias que chegam pelo WhatsApp, explico cenas de novela. Mas, às vezes, ela se perde: pede pra ir pra casa ou visitar a sobrinha que mora “na rua de baixo”, quando, na verdade, está em Portugal.
Com a internet, aprendi a lidar com esses momentos e que embarcar nas confusões pode ser mais leve do que corrigi-las. No dia seguinte, ela já nem lembra mais.
Mas quem acha que isso não pesa, se engana.
O desgaste é real e constante. E o esforço mental de reagir bem a cada situação difícil também esgota. Ao longo do dia, preciso fazer escolhas invisíveis. Como, por exemplo, avaliar se posso confiar que terei tempo de tomar um banho rápido durante o Jornal Nacional, sem que algo aconteça.
Todos os dias, peço saúde física e mental. Paciência e sabedoria para encontrar as palavras certas diante das perguntas mais difíceis.