22/10/2025
Há momentos em que o corpo percebe a dor antes que a mente consiga a elaborar.
E nesse hiato, quando a dor é intensa, surge o silêncio entre o afeto bruto e a possibilidade de representá-lo em palavras.
Quando a mente ainda não consegue transformar a vivência emocional em pensamento claro, o psiquismo recorre à contenção: um “está tudo bem” que não é negação, mas um recurso transitório de preservação do self.
Outras vezes, falar sobre o que pensa ou sente parece transbordar ou trazer para o concreto, real, algo que avassala.
Então, grande parte das vezes, não se reprime a expressão emocional conscientemente, apenas é o que a pessoa consegue fazer naquele momento por não dispor de linguagem psíquica para dar contorno à experiência de forma mais madura.
O “está tudo bem”, nesse contexto, funciona como uma ponte entre o caos interno e a tentativa de seguir.
Serve para não desorganizar, para manter a coesão mínima até que o afeto possa ser sentido de modo tolerável.
A terapia, então, não apressa o rompimento desse silêncio.
Ela oferece um espaço suficientemente seguro para que, aos poucos, aquilo que era apenas sensação se torne pensamento e o que era defesa possa virar elaboração
Tais Becker
Psicóloga CRP 07/12364