1º Festival Baía das Gatas 1984

1º Festival Baía das Gatas 1984 Esta página veio da ideia do Artista e PCA Vlu, V. Ferreira no qual pretende divulgar a real história do nascimento do Festival de Baía das Gatas em 1984

VLÚ RUA D' LISBOA 1984 / LP HEY MORENA - 12.759 Visualizações
24/07/2024

VLÚ RUA D' LISBOA 1984 / LP HEY MORENA - 12.759 Visualizações

22/07/2024

HÁ 40 ANOS, SETEMBRO DE 1984, LOGO APÓS O PRIMEIRO FESTIVAL DA BAÍA DAS GATAS

LP VLÚ - HEY MORENA

Um Comandante da Polícia de Lisboa comprou-me 9 discos por 50,00 euros cada. Ele disse-me que havia pessoas a procurar esse disco e que alguns haviam sido vendidos ultimamente por 200,00 euros cada. Fiquei surpreso. Um italiano ligou-me várias vezes a querer também comprar alguns por 50 euros. Dei-lhe o contacto do meu irmão em Lisboa, que tinha na casa dele ainda um cartão com alguns discos.

Rapazes Vasco, Lúcio e Bulimundo,

Vão ao YouTube e oiçam RUA DE LISBOA com atenção. Fizemos, de facto, um grande trabalho. Parece que há 40 anos gravamos, talvez, a mais sui generis produção musical MODERNA da música de Cabo Verde. Há 40 anos. Tudo está tão incrível, com uma sonoridade especial, perfeitamente atual e vanguardista. O estúdio foi o Angels Studio de Lisboa, na altura o segundo melhor estúdio de Portugal. Uma prova de que a força de vontade, o imbatível espírito de sacrifício e a perseguição séria de objetivos movem montanhas e dão à luz coisas bonitas que acompanham os tempos. O baixo do Lúcio está incrível, a bateria do Bulimundo, aquele congas do João da Silva, "Amanhã" da Guiné, o piano com aquele desempenho originalíssimo e cheio de energia do Vasco, e as minhas guitarras. Tudo está tão incrível. E aquele trabalho de sintetizadores que eu fiz na pós-produção! Afinal, está também ótimo. Com toda a paciência do Técnico Luís Flor. Ele aturou-me com uma paciência dos diabos, enquanto eu e ele procurávamos, com as suas mãos e os nossos ouvidos atentos, a sonoridade e a produção com que finalizamos Rua de Lisboa e todo o disco. A paciência dele aturando-me naquele trabalho de produção, procurando o que eu lhe pedia, foi para mim uma coisa inesquecível. Eu era chato porque queria sempre mais, até chegarmos à sonoridade dos instrumentos e à mistura que eu queria. Eu e ele fizemos a pós-produção e a mistura numa semana. Valeu a pena. Nunca tinha prestado tanta atenção ao trabalho que fizemos. Grande trabalho. É pena que nunca ninguém se tenha dado ao trabalho de analisar esse track e esse disco. Parece que ainda não temos gente para isso, gente preocupada com as nossas sonoridades nas nossas diversas gerações. Esse disco reflete exatamente as razões que nos levaram a criar o Festival da Baía das Gatas: liberdade, criatividade, inovação e elevação espiritual. A diversão seria apenas consequência. E isso, o Festival tinha como primeiro objetivo promover e projetar a liberdade, a inteligência e a espiritualidade da cultura musical de Mindelo em intercâmbio alargado. A Câmara de São Vicente apagou esse objetivo do sumário. Apagaram São Vicente do Festival da Baía das Gatas. Viraram isso de cabeça para baixo. Sign of the times.

Passei a tarde inteira a ouvir o disco, principalmente a faixa Rua de Lisboa. Está de facto fantástico. Setembro de 1984, logo a seguir ao Primeiro Festival da Baía das Gatas. Arrancamos para Lisboa, Portugal, para gravar com 20 contos. Que aventura!!!!

O Bulimundo e o Lúcio foram no m/v Elsie, eu e o Vasco fomos de avião. Um obrigado de grandeza imensurável a todas as pessoas que me ajudaram a tornar esse projeto realidade: Guilherme Santos Ferreira, Capitão Alberto Pancrácio, Kaly Moes, Zeca Abu-Raya, Sr. Coelho, dono do estúdio que nos deixou gravar sem pagar porque ele disse que estávamos a fazer uma música de Cabo Verde interessante e completamente diferente. Admiro Bana Gonçalves, Leão Lopes e João Oliveira, Nando Ferreira, Policarpo Ferreira, Domingos Correia, Alina Ferreira, e os músicos Renato Silva Júnior, Lúcio Vieira, João da Silva, "Amanhã", Bulimundo José Lopes e Vasco Martins.

Um abraço àqueles que ainda estão vivos, que tenham longa vida com tudo o que de bom a vida tem para nos dar e que Deus tenha no conforto do Paraíso aqueles que já partiram ao Seu encontro. All the best, pessoal.

Valdemiro Ferreira VLÚ

21/07/2024
21/07/2024

40 Anos Festival de Música da Baía das Gatas versus Festival de Woodstock

O Festival de Woodstock foi um empreendimento comercial de quatro jovens amigos que resolveram aplicar o seu dinheiro em um grande espetáculo musical sob as égides de paz, amor e música, para ganhar dinheiro. Tiveram sorte: afluíram 400.000 pessoas, a 18.000 dólares cada, e ficaram milionários. O que aconteceu depois foi espontâneo. O pessoal jovem, que procurava espaços de liberdade e diversão, afluiu todo e marcou o festival espontaneamente, com forte contradição aos costumes da época.

Quanto ao Festival de Música da Baía das Gatas, o objetivo embrionário que nos moveu foi diferente. Em primeiro lugar, o embrião do FBG fomos nós, músicos, e não empreendedores comerciais com fim lucrativo. Na Baía, sob minha proposta, porque a necessidade, a motivação era reivindicar nosso espaço no quadro da cultura musical da terra, considerando que, por fazermos uma música que não era nem morna, nem coladeira, nem funaná, por fazermos uma música criativa, livre, diferente dos nossos gêneros tradicionais, éramos oficialmente preteridos e considerados culturalmente alienados. Essa foi a motivação embrionária e a razão que nos levou a escolher precisamente a Baía das Gatas, uma praia frequentada pelos políticos e a classe dominante da ilha todos os fins de semana, e não uma quinta no interior da ilha, ou a Laginha, ou Monte Sossego, ou a Praça Nova, como era a proposta do Vasco. É que o Vasco estava focado na fama do grupo, nas áreas onde haveria maior público. Eu estava focado na conquista de espaço cultural e reconhecimento.

O Festival Baía das Gatas nunca foi um empreendimento comercial com enfoque em ganhar dinheiro. Foi embrionariamente uma absoluta intenção de expansão de liberdade cultural, musical e alargamento do pensamento nessa perspetiva, apenas. O pessoal jovem fã do espírito livre dos anos 60, que abraçaram o projeto no arranque, na altura, apenas, assíduos, fãs e colaboradores do Vasco e da Galeria para a gestão de bar, logística de cartazes, portaria e limpezas, “incorporaram-no” esse espírito de liberdade que na altura ainda reinava.

Portanto, as motivações embrionárias dos dois festivais foram diferentes. Porém, embora realizados com 15 anos de distância, o Festival de Woodstock influenciou sim o Festival da Baía das Gatas, mas seguramente não foi ele que embrionariamente motivou a realização do Festival de Música da Baía das Gatas. A ideia, a determinação de fazer os concertos na Baía já havia sido solidificada por nós, músicos, eu, Vlu Ferreira, Vasco Martins, Lúcio Vieira, Bulimundo e Tony Miranda, que era no momento a banda, antes do rótulo Gota D’Água, que brilhava nas noites de música ao vivo da Galeria Nho Djunga, desde 1982. O Cooks apenas sugeriu que se lhe chamasse Festival da Baía, e a partir daí foram incorporadas influências do Festival de Woodstock, nos vários encontros e momentos que antecederam o dia D do Festival, sob o comando do primeiro presidente da organização, Daniel Medina, coadjuvado por uma multidão de apaixonados colaboradores, entre os quais é importante destacar o Engenheiro Gabriel Évora.
A multidão de jovens que abraçou o projeto e colaborou apaixonadamente na realização do primeiro Festival de Música da Baía das Gatas dá um livro de efeitos e fatos que seria bom escrever.

Texto por: VLU FERREIRA

Endereço

Mindelo

Telefone

+2389594010

Website

Notificações

Seja o primeiro a receber as novidades e deixe-nos enviar-lhe um email quando 1º Festival Baía das Gatas 1984 publica notícias e promoções. O seu endereço de email não será utilizado para qualquer outro propósito, e pode cancelar a subscrição a qualquer momento.

Compartilhar

Categoria