01/08/2025
AGOSTO NA VIDA DE AMÍLCAR CABRAL E NA HISTÓRIA DO PAIGC: O MÊS QUE MUDOU O RUMO DA LUTA PELA LIBERDADE DA PÁTRIA
Por: Iancuba Djola N’Djai
O mês de agosto ocupa um lugar central e transformador na história da luta de libertação nacional da Guiné e Cabo Verde, bem como na vida e na estratégia revolucionária de Amílcar Cabral. Longe de ser apenas um mês de transição ou preparação, agosto concentrou alguns dos momentos mais decisivos e simbólicos da resistência contra o colonialismo português. Entre todos os acontecimentos, destaca-se de forma incontornável o Massacre de Pindjiguiti, no dia 3 de agosto de 1959, como ponto de viragem.
3 DE AGOSTO DE 1959: MASSACRE DE PINDJIGUITI
Nesse dia trágico, cerca de uma centena de trabalhadores portuários (doqueiros) foram mortos e feridos a tiro pela polícia colonial portuguesa, no cais do Porto de Pindjiguiti, em Bissau. Os trabalhadores estavam em greve pacífica, exigindo melhores condições de trabalho e salários dignos. A repressão brutal revelou ao PAIGC — então ainda numa fase inicial de organização — que tinha apenas 2 anos, 10 meses e 15 dias — os limites da luta legal e sindical sob o regime colonial.
Impacto estratégico imediato
Este massacre teve um impacto direto e profundo sobre Cabral, que, em reunião clandestina no dia em que o PAIGC completou apenas 3 anos de idade, decorrida no dia 19 de setembro daquele ano em Bissau:
a) Convenceu os dirigentes do PAIGC de que a luta pacífica e reivindicativa era inviável dentro do quadro colonial;
b) Determinou que a prioridade seria, doravante, focada na mobilização do campo, especialmente o campesinato, como base estratégica da luta;
c) Propôs a instalação acelerada da direção operativa do PAIGC em Conakry, capital da Guiné-Conacri, país recém-independente, que se tornaria retaguarda política, diplomática e militar do PAIGC durante a luta de libertação nacional.
d) Propôs a transformação daquela dolorosa data numa gesta de solidariedade internacional com o martirizado povo da Guiné e Cabo Verde em luta.
Nascimento de um símbolo internacional
A partir de então, por proposta de Amílcar Cabral, o 3 de Agosto foi institucionalizado como "Dia de Solidariedade Internacional para com os Povos da Guiné e Cabo Verde", servindo como plataforma para mobilizar apoios políticos, sindicais e populares em África, Ásia, Europa, América Latina e nos países socialistas. Foi, assim, internacionalizado o sofrimento e a resistência do povo guineense, ao mesmo tempo que se projetava o PAIGC como um movimento legítimo e estratégico na cena mundial.
OUTROS MARCOS DO MÊS DE AGOSTO NA LUTA DE LIBERTAÇÃO
Além de Pindjiguiti, agosto foi frequentemente um mês de intensa atividade revolucionária:
1. Proclamação da Passagem da luta política e pacífica para ação direta e violenta contra as forças colonialistas portuguesas. No dia 3 de agosto de 1961, no 2° aniversário do Massacre de Pindjiguiti, Amílcar Cabral, líder do PAIGC, "proclama o dia 3 de Agosto de 1961 dia da passagem da nossa revolução nacional da fase da luta política à da insurreição nacional, à ação direta contra as forças colonialistas".
2. I Reunião do Conselho Superior do PAIGC. PAIGC dotado de novos órgãos superiores para luta vitoriosa Em agosto de 1971, na cidade de Boke, República irmã da Guiné, de 9 a 16 de agosto, Amílcar Cabral preside aos trabalhos da I Reunião ordinária do Conselho Superior da Luta, novíssimo órgão superior do PAIGC entre congresso criado por decisão da Reunião alargada do Bureau Político do PAIGC realizado em abril de 1970.
Nesta reunião foram, por proposta de Amílcar Cabral, eleitos os membros dos novíssimos órgãos superiores dirigentes do PAIGC, a saber:
a) Comissão Permanente do Comité Executivo da Luta de 3 membros;
b) Comité Executivo da Luta de 24 membros;
c) Conselho Superior da Luta de 85 membros.
3. Preparação da Assembleia Nacional Popular. Após a decisão histórica da I Reunião do Conselho Superior da Luta em agosto de 1971, um ano depois, o PAIGC, sob a liderança de Cabal.
Bissau, 1 de Agosto de 2025