10/12/2025
Moz | Crítica Sinistralidade:
SUSPENSÃO DA CITYLINK APÓS ACIDENTE NA MANHIÇA: DECISÃO NECESSÁRIA, MAS INSUFICIENTE?
------ >> Governo reage à tragédia que matou sete pessoas. Sociedade questiona se o problema está nos condutores ou no próprio sistema rodoviário
Beira, Moçambique, 10 de Dezembro de 2025 (Hanif CRV – Media | “Verdade pela Verdade”) – O acidente na Manhiça que resultou na morte de sete pessoas voltou a colocar em destaque a vulnerabilidade das estradas nacionais e a insuficiência das medidas de segurança. A suspensão da CityLink é uma resposta imediata, mas levanta questões sobre se o problema é apenas das empresas de transporte ou da própria infraestrutura rodoviária.
O Governo anunciou, no dia 10 de Dezembro, a suspensão imediata da actividade de transporte de passageiros da Transportes IDEAL, Lda (CityLink), depois do acidente ocorrido na Manhiça, província de Maputo, que provocou sete mortos e deixou um rasto de destruição. A decisão abrange também o motorista da viatura envolvida. A medida foi tomada com base no Código da Estrada e no Regulamento de Transporte em Veículos Automóveis, enquanto decorre uma peritagem para decisão final.
A interrupção surge na sequência da divulgação, nas redes sociais, de imagens captadas por câmaras de vigilância privada que mostram o autocarro a realizar uma ultrapassagem irregular em sentido contrário — num momento em que a via parecia não oferecer as mínimas condições para tal manobra. A colisão frontal com uma viatura de passageiros de menor porte foi inevitável. Sete vidas perderam-se em poucos segundos.
A frieza factual é conhecida. O que falta, porém, é a resposta para a pergunta maior que se repete a cada tragédia: "como evitar que isto continue a acontecer?
O VÍDEO QUE FECHA UMA DISCUSSÃO E ABRE OUTRA
As imagens viralizadas reduziram o espaço para dúvida quanto ao comportamento do condutor. Ainda assim, o Governo abriu uma comissão de inquérito, com prazo de quinze dias, para clarif**ar responsabilidades e recomendar medidas. Parte da opinião pública considerou o procedimento redundante, dada a evidência visual; outras vozes defendem que, mesmo com provas claras, é necessário processo formal para não comprometer decisões legais subsequentes.
A questão subjacente é maior do que o vídeo: será que o sistema está preparado para prevenir ou apenas para reagir depois da tragédia?
ENTRE A PUNIÇÃO E O IMPACTO SOCIAL
A suspensão da empresa teve reacção imediata, mas divide opiniões. Por um lado, protege o princípio de responsabilização no sector e sinaliza que a segurança rodoviária não pode ser negociável. Por outro, pode signif**ar paralisação de salários e instabilidade para famílias cuja renda depende da transportadora. É uma decisão dura — inevitável para muitos, insuficiente para outros.
A suspensão resolve o acidente que já ocorreu. Não impede o próximo.
UMA ESTRADA QUE NÃO ACOMPANHA O VOLUME DE VIDA QUE NELA CIRCULA
Num país onde longos troços da EN1 mantêm formato linear e estreito — e onde camiões lentos, autocarros lotados e viaturas ligeiras disputam o mesmo espaço — ultrapassagens forçadas tornam-se frequentes. Quando não há separação de faixas ou alternativas de fluxo, o erro humano transforma-se, facilmente, em tragédia colectiva.
Alguns analistas insistem que a raiz do problema não está apenas no motorista que falha, mas num modelo viário que não absorve o trânsito real. Expansão da EN1, separadores físicos, vias adicionais e zonas de ultrapassagem seguras seriam, segundo esta linha de pensamento, medidas estruturantes para reduzir o risco.
TECNOLOGIA, CONTROLO E RESPONSABILIZAÇÃO: O DEBATE REACENDE
A discussão pública reacendeu-se com força. Transportadores de mercadorias, que operam com sensores de fadiga, GPS, registos de velocidade e alertas automáticos, questionam por que razão empresas que transportam vidas — e não carga — continuam a circular com padrões inferiores de controlo.
Entre as sugestões defendidas no debate:
- instalação obrigatória de 'dashcams' internas e externas;
- monitorização centralizada em tempo real pelo INATRO e PRM;
- registo nacional unif**ado de condutores profissionais, impedindo que motoristas com histórico grave mudem de empresa sem rastreabilidade;
- travão electrónico que limite velocidade acima de determinado limiar;
- penalizações severas para entidades que ignorem manutenção ou lotação.
Mais do que tecnologia, o público questiona a "vontade institucional". Um sistema que existe mas não é fiscalizado funciona apenas no papel.
RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL? SIM. MAS A COLECTIVA PESA MAIS
Culpar o motorista é simples — e, neste caso, inevitável à luz do vídeo. Mas acidentes repetidos, com matrículas diferentes, apontam para uma responsabilidade mais ampla: Estado, operadores, fiscalização, manutenção de estradas, cultura de circulação, pressão comercial sobre horários e até o comportamento de passageiros, que muitas vezes silenciam perante práticas de risco.
O erro humano pode ser o gatilho. O ambiente que o permite é o pavio.
O PAÍS NÃO PODE ACOSTUMAR-SE A CONTAR VÍTIMAS
Hoje foi CityLink. Amanhã será outra chapa. O país acumula números que parecem estatística, mas são famílias destruídas, sonhos enterrados, vidas interrompidas na EN1. A suspensão pode ser correcta como gesto, mas será apenas simbólica se não for acompanhada de reforma estrutural.
A verdadeira pergunta não é quantos serão punidos. É quantos serão salvos. (🖋️ © 2025 | Hanif CRV – Media | Texto elaborado sob curadoria de Hanif CRV (nome legal: Mahamad Hanif M***a – MhM) | 📧 mhm.b.mz@gmail | 📱 +258 84/87 5728092 | 📷 Reprodução/Ilustração)