30/11/2025
Entre polémicas e pontes — o resumo final do evento de M***i Menk em Maputo. Uma leitura independente, sem filtros.
Moz | M***i Menk em Maputo:
EVENTO “BUILDING BRIDGES”: DA CONSTRUÇÃO DO BARULHO À CONSTRUÇÃO DA PONTE
------ >> Um sucesso unânime, coroando o esforço da AMEEM na realização de um encontro histórico em Maputo
Beira, Moçambique, 30 de Novembro de 2025 (Hanif CRV – Media | “Verdade pela Verdade”) – Quando tudo começou com ruído e polémicas sobre bilhetes pagos e acessos diferenciados, o evento anunciado sob o cartaz “BUILDING BRIDGES” — traduzido livremente como “Construindo Pontes” — promovido pela Associação Muçulmana de Empresários e Empreendedores Moçambicanos (AMEEM), já mostrava sinais de gerar expectativas, dentro e fora da comunidade muçulmana em Moçambique.
O slogan não era apenas um mote, mas uma promessa de união, diálogo e aprendizagem que se estenderia para além do espaço físico do encontro.
Antes de se erguer a ponte, ergueu-se o barulho. E foi muito.
A polémica que antecedeu o evento de M***i Menk tornou-se, por si só, um fenómeno mediático. A discussão sobre bilhetes pagos, lugares diferenciados, e sobretudo a suspeita de elitização comercial do conhecimento islâmico, criou uma tempestade que parecia destinada a comprometer o programa antes mesmo do seu início.
Entre as vozes que inflamaram o debate estava a de Mussá Mohamad Ibrahimo, que, em reflexões partilhadas na sua página, não poupou ironias nem desconfortos:
- “Grandes negócios de Quran e hadith! Isslam virou uma academia onde até quem não é muçulmano encontra nicho. Deixou de ser uma questão de fé faz tempo.”
- “Nunca ouvi que no masjid Cauçar há cadeira para este e tapete para aquele que pagou 200. Senta-se junto e em harmonia.”
- “O Isslam é ra***ta. Os indianos, paquistaneses e os dessa origem ditam as regras. É tabu dizer isto, mas todos sabem.”
- “Nós temos problemas reais. E continuamos a encher auditórios para bayans de show off…”
Estas críticas, duras e desconfortáveis, funcionaram como espelho. A comunidade viu-se reflectida num debate que, apesar de ruidoso, era real. E foi nesse ambiente de tensão que o evento teve de se construir.
O DIA EM QUE A PONTE SE ERGUEU
Apesar das pedras, areia e poeira lançadas, a ponte — improvável para muitos — acabou por se erguer. E ergueu-se com cerca de 3.000 pessoas, aplausos e euforia. Os bilhetes esgotaram “como final da Champions League”, diziam alguns. Outros comentavam: “Acredito que, nas próximas edições, não haverá reclamações sobre os valores cobrados.”
A recepção ao evento foi amplamente positiva, como mostram intervenções de participantes e notas elogiosas estampadas nas plataformas digitais, considerando o encontro um marco no país, destacando impacto religioso, comunitário e organizacional pouco comum em Moçambique.
As transmissões ao vivo levaram o evento a milhares. As plataformas ITV Televisão, Smart Bilal, Al-Hidayah Moçambique, Al-Furqan, Espaço Islâmico e Dawat-Naeem Gulamo asseguraram que Moçambique inteiro — e parte da diáspora — acompanhasse a palestra.
No local, as imagens falam por si: espaço amplo, limpo, esteticamente cuidado; palco simples mas funcional; duas grandes telas; bancas (feirantes) organizadas; e, como registámos, no salão, uma disposição de cadeiras que criava duas realidades: a frente com algum conforto e a retaguarda com cadeiras de plástico comuns. Não era luxo, mas também não era igualdade plena.
Com outra visão, o evento poderia ter sido ainda mais inclusivo — num pavilhão, com bilhetes simbólicos e capacidade triplicada — porém, a execução possível foi inegavelmente eficiente.
A PONTE SEGUNDO O PRÓPRIO M***I MENK
O centro do programa não foi o ruído, mas sim a mensagem.
M***i Menk veio a Moçambique com um discurso claro: construção de pontes.
- “A maior dádiva que temos é a paz, e a paz nasce de boa comunicação.”
- “Somos pessoas que ensinam a construir pontes. A unir-nos. A reparar o que está quebrado.”
- “Precisamos preservar a calma e o amor que há entre as pessoas.”
A palestra sublinhou valores que Moçambique vive de forma particularmente sensível: perdão, convivência, harmonia, responsabilidade social e capacidade de reparar laços rompidos.
A sua satisfação com o país foi evidente:
- “Moçambique é lindo. As pessoas são lindas. Quero voltar com mais tempo. Em breve, se Deus quiser.”
NOS BASTIDORES: SILÊNCIOS, ENCONTROS E AGENDAS
À margem do programa público, M***i Menk foi recebido pela Presidente da Assembleia da República, Margarida Adamugi Talapa. Junto de uma delegação com forte presença empresarial, religiosa e comunitária, discutiu-se o terrorismo em Nampula e a necessidade de reforçar a assistência humanitária.
A AMEEM, em conjunto com parceiros, já havia, antes deste encontro, procedido à entrega de dez toneladas de alimentos a famílias deslocadas de Memba, e mantém em curso uma campanha de angariação de recursos para apoio a estas comunidades.
A PAR foi clara: “É uma honra tê-lo cá. Iniciativas que promovam paz, diálogo e inclusão terão sempre portas abertas.”
O AGRADECIMENTO DA ORGANIZAÇÃO — E O QUE F**A NAS ENTRELINHAS
Após o evento, a AMEEM divulgou mensagens de agradecimento ao público e à equipa de media. Reconheceu falhas, pediu desculpas e elogiou o profissionalismo dos que trabalharam na transmissão e documentação do encontro. Sobretudo, reconheceu que o trabalho da media começa muito antes e termina muito depois.
Contudo, quando solicitámos uma entrevista formal à organização com quatro perguntas-chave para profissionalizar este artigo, não obtivemos respostas concretas. As questões enviadas foram as seguintes:
1. O evento traz como tema central “Building Bridges”. Na visão da organização, que pontes concretas se pretendeu construir com este encontro em Maputo — dentro e fora da comunidade muçulmana?
2. Quais foram os maiores desafios na preparação desta mega-feira e do programa com M***i Menk, e como foram superados?
3. O evento contou com uma forte rede de parceiros — logísticos, mediáticos e comunitários. Que papel tiveram estes parceiros na viabilização do projecto e que lições f**am para futuros eventos?
4. Há planos para transformar esta iniciativa num marco anual ou numa nova plataforma permanente de união e cooperação, seguindo o espírito de “construir pontes”?
A cortesia e a boa vontade foram reconhecidas, mas algumas questões f**aram sem resposta. Este silêncio também faz parte da história.
O QUE SOBRA DA PONTE QUE SE CONSTRUIU
No final, o evento “Building Bridges” construiu, sim, pontes. Mas também deixou fissuras à vista:
- Construiu uma ponte de adesão popular.
- Construiu uma ponte institucional com o Estado.
- Construiu uma ponte emocional com milhares de fiéis.
Mas não reparou as fissuras expostas no pré-evento — críticas sobre suposto comércio da fé, elitização, desigualdades internas e tensões raciais e culturais na comunidade islâmica moçambicana. Essas continuam lá.
Talvez seja precisamente esse o maior sinal de maturidade: um evento pode ser um sucesso absoluto e ainda assim ser apenas o início de um debate necessário.
CONCLUSÃO: ENTRE O BARULHO E A CONSTRUÇÃO DA PONTE
O evento de M***i Menk foi, simultaneamente:
- um sucesso logístico;
- um triunfo de mobilização;
- um gesto institucional forte;
- uma experiência espiritual enriquecedora;
- e um espelho incómodo para a própria comunidade.
A polémica que o antecedeu, longe de o destruir, apenas o contextualizou. A ponte construída não apaga o barulho inicial, mas mostra que, mesmo no meio da turbulência, a comunidade procurou — e encontrou — um ponto comum.
Este artigo, construído com independência e sem respostas oficiais, cumpre o papel que nos cabe: observar, contextualizar, analisar e registar. Porque pontes constroem-se também assim — com verdade, com memória e, inevitavelmente, com crítica. (🖋️ © 2025 | Hanif CRV – Media | Texto elaborado sob curadoria de Hanif CRV (nome legal: Mahamad Hanif M***a – MhM) | 📧 mhm.b.mz@gmail | 📱 +258 84/87 5728092 | 📷 Reprodução)