08/11/2025
ESTRANHAMOS O NATURAL: SERÁ QUE DESAPRENDEMOS A AMAR?
Ontem ouvi uma amiga falar sobre os seus avós. Ela descrevia o modo como eram unidos, cúmplices na vida simples, firmes no cuidado mútuo. Havia ternura na forma como contava: dois idosos que caminhavam juntos, não por obrigação, mas por escolha diária. E enquanto eu ouvia, percebi que aquilo que ela narrava parecia quase raro nos nossos dias.
Hoje, muitos de nós olhamos para relações profundas como algo extraordinário, quando na verdade já foram tão naturais. Onde se perdeu essa naturalidade? Talvez não tenha sido de uma só vez. Aos poucos, fomos nos distanciando do essencial: da paciência, da escuta, do respeito, do tempo dedicado ao outro. A modernidade obriga-nos a correr atrás de tudo, menos de vínculos verdadeiros.
Quando as histórias de união parecem “de outro tempo”, isso diz mais sobre nós do que sobre o passado. Não é apenas uma nostalgia romântica. É um espelho. Um alerta silencioso de que os valores que sustentam o amor compromisso, sacrifício, lealdade, presença foram deixados no fundo da gaveta.
Não é o colapso inevitável da sociedade. Mas é um aviso. Ou recuperamos a coragem de amar com profundidade, ou continuaremos a admirar (as vezes através de vídeos virais na redes sociais), à distância, aquilo que um dia foi tão natural entre os nossos avós.
Escrito: Júlio Namarroi Júnior