10/09/2025
"OS LAÇOS QUE DEIXAMOS PARTIR! O QUE ACONTECEU CONNOSCO?"
Houve um tempo em que os primos eram como irmãos, os vizinhos tornavam-se família e os domingos eram dias de visitas tranquilas, sem pressa. Ninguém precisava de convite para estar presente em casamentos, funerais ou no Ide. A presença era natural, era amor em ação.
Hoje, porém, a realidade mudou. Muitas vezes, até entre irmãos, a comunicação desaparece quando os pais já não estão mais entre nós. Primos que partilharam férias e celebrações agora se tratam como estranhos, e as nossas crianças quase não se conhecem. Surge a pergunta inevitável: onde foi que errámos?
Na busca por uma vida melhor, com mais educação, melhores carreiras e moradas em lugares de prestígio, fomos deixando os relacionamentos como algo secundário, quase opcional. O tempo em família passou a depender da disponibilidade, e os encontros, pouco a pouco, foram diminuindo até cessarem por completo.
Enquanto isso, o materialismo foi-se infiltrando de forma silenciosa. Casas maiores, viagens internacionais e escolas privadas tornaram-se prioridades, e até as conversas se transformaram em competições. A vulnerabilidade, que outrora fortalecia os laços, hoje é rara. Em vez de partilhar a verdade, protegemos a nossa imagem. As redes sociais tomaram o lugar das conversas de coração, e um simples “tenho saudades de ti” ou “não estou bem” foi substituído por fotografias perfeitas e curtidas sem alma.
Com a partida dos mais velhos, perdemos o elo que mantinha todos unidos. Não aprendemos a segurar uns aos outros. Pequenos rancores transformaram-se em silêncios duradouros, e o amor, sem ser cultivado, foi-se apagando.
O preço dessa perda é alto. A solidão esconde-se atrás de portas bonitas, os problemas de saúde mental crescem em silêncio e os nossos filhos crescem desligados das suas raízes, sem saber o verdadeiro valor da família.
Mas ainda não é tarde. Sempre é possível reatar. Um telefonema para um irmão, mesmo que os anos tenham passado; um convite a um primo, ainda que pareça estranho ou desconfortável. É preciso ensinar às novas gerações que família significa estar presente, que o perdão importa e que a conexão exige esforço e dedicação.
No fim, não serão as casas nem as curtidas que recordaremos, mas sim as pessoas que amámos, ou o arrependimento por aquelas que deixámos escapar. Os laços não desapareceram por si mesmos: fomos nós que os soltámos. Mas eles podem ser recuperados, pouco a pouco, com uma chamada, uma mensagem e um momento de atenção sincera.
Por: M***i Ismail Abdullah
© Al'hidayah Moçambique