13/06/2025
Sombras da Caminhada
Por Daélio
Sempre fomos dois sonhadores. Eu e o Jonathan. Solteiros, cheios de esperanças, com o peito aberto ao amor e os pés prontos para caminhar longe em busca de algo que não sabíamos definir bem — talvez uma mulher, talvez um destino.
Decidimos abandonar o conforto do vilarejo por uns dias. Só andar. Andamos por campos, estradas de areia, dormimos sob estrelas, falámos dos nossos sonhos, rimos das nossas desilusões. Até que, num final de tarde dourado, ela apareceu.
Uma moça... linda, serena, de olhos calmos e sorriso misterioso. Nós dois sentimos algo forte. E ali, no silêncio do nosso encantamento, decidimos que cada um teria a chance de conquistar o seu lugar no coração dela.
Jonathan tentou primeiro. Não foi aceite. Depois fui eu... e, para minha surpresa, ela gostou de mim. Tivemos encontros leves, apenas conversas, risos, olhares trocados. Nada mais. Mas o suficiente para nascer algo bonito.
O que eu não sabia era que o coração do meu amigo guardava um veneno silencioso.
Uma manhã, enquanto eu tomava sol perto do rio, ele chegou com um ar estranho e disse:
— Fidelino… sabias que essa moça é feiticeira? Já matou muitos homens. No próximo encontro, se ela tentar tocar no teu traseiro, não deixes. É assim que ela mata.
Fiquei em choque. O olhar dele era firme, mas sombrio. A dúvida se instalou.
Mais tarde, descobri que, no mesmo dia, ele procurou a moça e disse:
— Sabes que meu amigo tem cauda? Um rabo de verdade, escondido. Tenta tocar-lhe na bunda e verás como ele foge. Vai negar, vai saltar.
Nos encontros seguintes, já não éramos os mesmos. Ela tentava, discretamente, tocar-me… e eu, com medo, fugia. Saltava. Ela via minha reação e pensava: “É verdade… ele tem cauda.”
Eu tentava segurá-la, abraçá-la… e ela, com receio, se afastava. No meu coração, sussurrava o medo: “É verdade… ela é feiticeira.”
Duas almas que se gostavam, agora cercadas por desconfianças plantadas por um amigo.
A relação acabou antes mesmo de começar. O medo venceu o amor.
Tempos depois, decidi contar-lhe tudo. Falei do que o Jonathan me dissera. Ela me ouviu em silêncio. Não falou nada… mas no coração dela, algo se partiu.
Dias depois, ela e o Jonathan começaram a namorar. E hoje têm dois filhos.
Soube, muito depois, que ela descobriu a verdade. Mas já era tarde. A vida havia seguido.
Fiquei com a dor e com a lição:
não é só o inimigo que nos destrói. Às vezes, é a sombra que caminha ao nosso lado.
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