22/12/2025
Moçambique inicia construção da primeira fábrica de telemóveis e entra, pela primeira vez, na indústria electrónica
Projecto liderado pela Moz-Source promete reduzir importações, gerar emprego qualificado e testar a capacidade do país em transformar ambição digital em produção real
MAPUTO – O Governo de Moçambique deu esta segunda-feira (22) um passo inédito no processo de industrialização tecnológica, com o lançamento da primeira pedra da futura fábrica de montagem de telemóveis e equipamentos electrónicos a ser instalada na província de Maputo. A iniciativa, liderada pela empresa Moz-Source, decorre sob coordenação do Ministério das Comunicações e Transformação Digital (MCTD) e representa a primeira experiência concreta do país na montagem local de dispositivos electrónicos de consumo.
A cerimónia foi dirigida pelo Ministro das Comunicações e Transformação Digital, Américo Muchanga, e contou com a presença de várias entidades governamentais e institucionais, entre as quais o Governador da Província de Maputo, o Presidente do Conselho Municipal da Matola Rio, representantes da Moz Park e parceiros estratégicos. A forte presença institucional evidencia a importância política atribuída ao projecto, considerado estratégico para a agenda da transformação digital.
Inserido na estratégia governamental de promoção da inovação, transferência de tecnologia e fortalecimento da produção nacional no sector das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), o empreendimento surge num contexto em que Moçambique continua fortemente dependente da importação de equipamentos electrónicos, com impacto directo na balança comercial e no acesso a dispositivos a preços acessíveis.
Orçado em cerca de três milhões de dólares norte-americanos, o projecto prevê a construção de uma unidade industrial dedicada, numa fase inicial, à montagem local de telemóveis e computadores portáteis, com expansão futura para pequenos electrodomésticos. Apesar de se tratar de montagem e não de produção integral de componentes, a iniciativa é vista como um primeiro passo para a inserção do país na cadeia de valor da indústria electrónica.
A fábrica deverá operar com duas linhas de montagem semi-automáticas, cada uma com aproximadamente 40 metros de comprimento, e uma capacidade inicial estimada em 80 mil unidades por mês, com possibilidade de expansão até 300 mil unidades mensais. Na fase inicial, a produção abrangerá telemóveis 2G e 4G do tipo feature phone, smart feature phones 4G, smartphones 4G de gama média e computadores portáteis, orientados principalmente para o mercado interno e, numa segunda fase, para a região.
Analistas do sector estimam que a entrada em funcionamento da unidade poderá reduzir entre 14% e 15% das importações anuais de telemóveis, um impacto relevante, embora ainda limitado face ao volume global do mercado. O verdadeiro alcance económico do projecto dependerá, segundo especialistas, da capacidade de escalar a produção, garantir competitividade de preços e assegurar padrões de qualidade compatíveis com o mercado regional.
Para além da redução das importações, o Governo destaca a criação de emprego directo e indirecto e a formação de quadros nacionais em manufactura electrónica. No entanto, especialistas alertam que o sucesso do projecto exigirá investimentos contínuos em capacitação técnica, estabilidade energética, logística eficiente e políticas industriais consistentes, sob pena de a iniciativa ficar confinada a uma experiência isolada.
A entrada em funcionamento dos principais equipamentos da fábrica está prevista para um período entre seis a oito meses após o início das obras. O cumprimento destes prazos será um dos primeiros te**es à viabilidade do projecto e à capacidade do Estado e do sector privado de transformar anúncios estratégicos em resultados concretos para a economia nacional.