
27/08/2025
A PRISÃO INVISÍVEL DOS PADRÕES
Vivemos numa gaiola que não tem grades visíveis, mas que sufoca cada respiração. Chamam-lhe “padrão”, como se fosse algo natural, inevitável, eterno. Mas não é. É apenas um hábito social tão repetido que já ninguém lembra o instante em que ele começou — e muito menos o porquê.
O que hoje parece “normal” um dia foi estranho. O que agora todos seguem cegamente um dia soaria absurdo. Mas a repetição tem esse veneno: faz-nos confundir convenção com verdade, moda com identidade, aparência com essência.
As pessoas já não sabem o que é viver fora dos moldes. Acham que cortar o cabelo de certa forma, vestir uma roupa, falar num tom, seguir um roteiro de vida — estudar, trabalhar, casar, ter filhos — é destino, quando na verdade é só condicionamento. É como se o mundo tivesse decidido que há apenas uma estrada, e todos aceitam caminhar nela mesmo que a alma grite por atalhos e descampados.
O mais assustador não é a existência dos padrões. É a incapacidade de imaginar a vida sem eles. As pessoas tornaram-se incapazes de olhar para trás, para um tempo em que nada disto fazia sentido. Um tempo em que o homem não precisava de se encaixar em números de calças, em horários de relógio, em cargos de empresa.
Aceitamos tanto as regras que já não sabemos quem somos sem elas. É como se tivéssemos esquecido o gosto da liberdade bruta, aquela que não precisa de aprovação, nem “likes”, nem manual de instruções.
E eu pergunto: até quando vamos engolir padrões como se fossem mandamentos divinos? Até quando vamos confundir ser aceito com ser feliz?
Talvez a resposta esteja no momento em que alguém, finalmente, tenha coragem de parar, cuspir as normas e dizer: “Eu não sigo. Eu sou.”
Porque o ser humano só volta a ser humano quando se lembra que o normal é invenção, e a essência é escolha.