Vidas Alternativas Portugal - Brasil

Vidas Alternativas Portugal - Brasil Desde 2013,
OBJECTO SOCIAL: Lutar por uma sociedade cosmopolita e diversif**ada, em igualdade de opo

A NOSSA HISTÓRIA

O projecto de rádio " VIDAS ALTERNATIVAS " começou há 22 anos na Rádio VOXX, com transmissão em directo. Éramos quatro inicialmente, agora somos dois, eu António Serzedelo e o Miguel Rodeia. O programa tem como lema: "UM PROGRAMA MUITO POUCO CATÓLICO, PARA TODOS OS PROTESTANTES SOCIAIS". Como dizíamos coisas fortes, por vezes incómodas a muita gente, um destacado membro do partid

o CDS comprou a rádio, fechando-a numa semana com o intuito de nos calar. O programa foi então para a Rádio Seixal que nos acolheu durante um ano, tendo passado a ser transmitido através sítio na internet:
WWW.VIDASALTERNATIVAS.ORG
Sítio este, que já sofreu três ciber-ataques três vezes por hackers fascistas e duas vezes por portugueses. António Serzedelo
+info in : https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Serzedelo

Na praia ou no campo, faça da exposição solar uma fonte de saúdeMário Beja Santos A importância do sol para a síntese da...
03/07/2025

Na praia ou no campo, faça da exposição solar uma fonte de saúde

Mário Beja Santos

A importância do sol para a síntese da vitamina D na prevenção do raquitismo é de há muito conhecida. Este e muitos outros benefícios que se atribuem à luz solar são hoje motivo de avisos de prudência, pois estão identif**ados os prejuízos quando há uma exposição abusiva e indevida das radiações solares. Toda e qualquer agressão à pele f**a registada. Como e porquê?
Dentre as estruturas que fazem parte da pele, existem células que produzem uma substância escura, chama-se melanina. Conforme a maior ou menor quantidade de melanina produzida, assim é o tom de pele que cada um de nós apresenta. Ora a luz solar estimula o aumento da produção dessa melanina. Ao contrário dos indivíduos dos países nórdicos, nós temos sol em abundância, produzem-se elevados teores de melanina. Então, o que convém saber?
A pele, ao queimar-se, não se bronzeia e cai, retomando o tom que tinha antes da exposição solar. Este processo da queda da pele devido a queimadura é exatamente uma das agressões que a pele não esquece. Para aproveitar o sol sem danif**ar a pele devemos recorrer a um protetor solar. Escolhendo o protetor de acordo com o nosso tipo de pele, e aplicando regularmente, a melanina permite a consolidação do bronzeado. Mas temos de estar atentos ao signif**ado do índice de proteção solar. Trata-se do poder de filtragem das radiações ultravioletas B. Há ainda a ter em conta a presença, ou não, no protetor solar selecionado de um filtro para as radiações ultravioletas A. Sem este filtro a nossa pele é rapidamente agredida. Há quem pense que com o índice de proteção 20 podemos estar 20 vezes mais tempo expostos. Não é aconselhável pensar assim, a eficácia depende da correta escolha do protetor em função do tipo de pele. Mais, basta tomar banho ou limparmo-nos à toalha para que logo diminua a camada de creme. O leitor tem aqui motivos que sobra para conversar com o profissional de saúde para fazer a devida aquisição de um protetor solar.
Mas esta exposição, que se pretende que seja tonif**ante e saudável tem regras: depois do meio dia e até às 16, 16 e 30 horas, as radiações estão na vertical, são muito mais ricas em ultravioletas A, que penetram mais profundamente na pele, são indutoras do cancro, das rugas e do envelhecimento; inicie a exposição solar progressivamente, isto é, tendo em atenção o horário prometido, exponha-se pouco tempo nos primeiros dias e aumente-a diariamente; aplicar, pelo menos meia hora antes da exposição solar, um protetor adequado a cada tipo de pele, e reaplicar de duas em duas horas durante o período da exposição, e sempre após o banho (por isso são de preferir os protetores solares testados para a resistência à água); usar chapéu, preferencialmente com abas, durante a exposição solar; as crianças, e mesmo os adultos, devem beneficiar do uso de uma t-shirt enxuta; ingerir água em abundância para compensar as perdas; os bebés só devem iniciar a época balnear após a autorização do pediatra, recomenda-se que sejam mantidos sempre à sombra; à chegada a casa, e após o banho, recomenda-se a aplicação de uma loção adequada para repor a hidratação; para quem habitualmente se maquilha, deve remover todos os produtos antes da exposição solar, bem como nunca deve aplicar perfumes, loções de banho, desodorizantes e produtos afins; no caso de estar a tomar medicamentos, convém esclarecer-se junto do seu médico ou farmacêutico sobre eventuais incompatibilidades com a exposição solar.
Conte com o aconselhamento do ser farmacêutico, ele pode orientá-lo para a escolha do protetor solar mais adequado, na farmácia pode confirmar estas recomendações para uma exposição solar tonif**ante e saudável.

A terna viagem por vários Tejos, não faltam avieiros, campinos, fragateiros e Nossa Senhora Mário Beja SantosTejo, Um cr...
02/07/2025

A terna viagem por vários Tejos, não faltam avieiros, campinos, fragateiros e Nossa Senhora

Mário Beja Santos

Tejo, Um cruzeiro religioso e cultural, por Ana da Cunha, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2025, desvenda-nos uma assombrosa viagem que ocorre todos os anos em maio, Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo vem em cruzeiro, percorre 325 quilómetros e o leitor vai de surpresa em surpresa percorrer comunidades ribeirinhas, um universo onde pairam os saberes e a cultura dos pescadores avieiros, tudo começa num interior raiano, ainda espanhol, a última etapa será Porte Brandão, Paço de Arcos e Oeiras, ouviremos depoimentos tocantes de familiares avieiros e nascidos dessa cultura palafítica, não faltarão belas paisagens que atestam a diversidade do Tejo, boa comezaina, danças e cantares, e, de um modo geral, Nossa Senhora é acolhida em triunfo e com carinho. Atenda-se ao que a autora nos procura elucidar: “O Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo tem por missão preservar a cultura dos pescadores vindos da Praia da Vieira. A viagem, que percorre 325 quilómetros pelo Tejo, surgiu em 2012, no âmbito da candidatura da cultura avieira a património nacional e da UNESCO. O cruzeiro não passa só pela cultura avieira. ‘Unir margens’ é o mote da viagem, que procura contribuir para consolidar a identidade das culturas ribeirinhas do Tejo, levando-lhes uma imagem que simboliza essa união entre povos e margens: a Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, concebida a partir dos contributos das comunidades avieiras.”
A leitura que acompanha do princípio ao fim toda esta viagem é o romance Avieiros, de Alves Redol, para conhecer melhor esta cultura viveu na aldeia avieira da Palhota. E começa a viagem, vai-se de comboio em direção a Castelo Branco, o destino é Vila Velha de Ródão, a autora tem à sua espera João Serrano, ele é um dos voluntários que todos os anos põe de pé este cruzeiro religioso, Serrano constituiu a Confraria Ibérica do Tejo, foi aqui que se iniciou a luta pela elevação da cultura avieira a património nacional. Percorre-se a localidade, é obrigatória a visita ao Castelo de Ródão, a viagem prossegue para o Rosmaninhal, uma das freguesias de Idanha-a-Nova, infelizmente hoje localidade com pouca gente, dos 437 habitantes que restam, 248 têm mais de 65 anos. Faz-se a visita à imagem de Nossa Senhora dos Avieiros e do Tejo, coroada de flores e segurando um terço na mão.
Na manhã seguinte, a imagem embarca na grande viagem, o destino é Alcántara e Santiago de Alcántara, no Parque Natural del Tajo Internacional, imagem descarregada para uma pequena embarcação, ouvem-se exclamações, dizem que a Santa é muito bonita. No cais de Sever-Cedillo, que liga o município de Nisa ao município de Cedillo, a comitiva é recebida com cânticos “Miraculosa Rainha dos Céus”, não há fronteiras que separem os povos. Nova fase da viagem, cais de Alvega, uma povoação do concelho de Abrantes, a Santa vai ser recebida com grande alegria, a banda filarmónica recebe-a com tambores, tubas, saxofones e clarinetes. O próximo destino: Mouriscas, vão em bateiras, há uma despedida em que a comunidade acena com lenços brancos. Chegou a hora de falar da boa comida, o comer será acompanhado de vinho tinto, a sobremesa também obedece às tradições: a tigelada, a palha de Abrantes, o bolo lêvedo e as passas de figo fritas. Vêm a propósito falar de histórias de amor e avieiros, chega-se ao Travessão do Pego, sai-se da bateira, a imagem da Senhora é içada pela grua, na Barca do Pego assiste-se a uma missa e depois à pândega, entra em ação o rancho folclórico da casa do Pego.
No dia seguinte os excursionistas encontram-se em Rio de Moinhos, o destino é o Tramagal, há muitos testemunhos de quem aqui nasceu e viveu, saudades não faltam. Do Tramagal vai-se a Constância, a autora percorre a povoação, sente-se que está feliz, e depois a bateira encaminha-se para o Castelo de Almourol. Agora sim, entra-se em território de avieiros, é o Tejo dos mouchões e das culturas agrícolas, é o Tejo de Lezíria, começa-se pelo Porto das Mulheres, volta-se a falar de Avieiros, de Alves Redol, conta-se a história desta gente oriunda da Praia da Vieira de Leiria, os avieiros construíram barracas em estacas, no Porto das Mulheres havia aldeia avieira, já desapareceu. Temos agora uma viagem atribulada até à Azinhaga, há receção pelo rancho folclórico nesta terra de avieiros, cita-se mesmo José Saramago, que aqui nasceu: “À aldeia chamam-lhe Azinhaga, está naquele lugar por assim dizer desde os alvores da nacionalidade (já tinha foral no século décimo terceiro), mas dessa estupenda veterana nada ficou, salvo que lhe passa ao lado (imagino que desde a criação do mundo) e que, até onde alcançam as minhas poucas luzes, nunca mudou de rumo, embora das suas margens tenha saído um número infinito de vezes.”
No dia seguinte chega-se à praia fluvial do Patacão, a comitiva tem direito a um lanche, fala-se demoradamente das aldeias palafíticas fluviais e das origens da aldeia do Patacão. E a viagem prossegue até ao Vale da Figueira, para-se em Porto Carrapiteiro, nova referência a uma história de amor, desta vez entre Xico, da Barreira da Bica, e Olinda, do Patacão, pouco resta dos avieiros nestas localidades. E depois todos se encaminham para a Ribeira de Santarém, aqui houve a aldeia avieira das Caneiras. A próxima paragem será no Porto dos Cucos, uma antiga aldeia avieira na freguesia de Benf**a do Ribatejo, no concelho de Almeirim, nova receção festiva. E na manhã seguinte o novo destino é Porto do Sabugueiro, na freguesia de Muge, em Salvaterra de Magos, mais lembranças históricas destes locais, segue-se Porto de Muge, Valada do Ribatejo e Escaroupim, mais bailarico, em tempos daqui se partia em fragatas, transportando mercadorias para Lisboa. O Escaroupim está hoje gentrif**ado, a bateira para por momentos em frente da Palhota, na freguesia da Valada, a comunidade junta-se em peso para receber a Santa.
A viagem agora encaminha-se para o concelho da Azambuja, para o Porto da Palha, são citadas mais referências à presença avieira. E depois a viagem prossegue para Vila Franca de Xira. “No dia seguinte à procissão na Azambuja, chego ao Esteiro do Nogueira, um antigo bairro avieiro em Vila Franca de Xira. Vejo os barcos a rasgarem o Tejo e a população a festejar. É uma massa de gente: as mulheres com os lenços na cabeça, os homens com os barretes e as redes de pesca, os pés descalços sobre a calçada na rua.” Estamos agora no cais de Alhandra: “A Santa segue do cais, passando pelos anzóis e pelas embarcações dos pescadores que ainda resistem nesta antiga freguesia de Vila Franca de Xira, até chegar à Rua dos Avieiros, onde a imagem f**a a repousar num altar junto à associação de pescadores Rios e Marés.” Lembra-se Soeiro Pereira Gomes, o nadador Batista Pereira e o médico Sousa Martins. Parte-se depois para Póvoa de Santa Iria, daqui para o cais do Trancão (Sacavém), abandona-se o território dos avieiros e entra-se no Tejo dos fragateiros, Sarilhos Pequenos, e depois a Moita, o Barreiro e o Seixal, a Senhora terá direitos a passar por Alfama. E chega-se ao último dia do cruzeiro, vai-se de Porto Brandão até Oeiras.
Fica-se com uma vontade enorme de apanhar o comboio na Gare do Oriente e seguir para Vila Velha de Ródão, Ana da Cunha saliva todo e qualquer viajante para este cruzeiro sem rival onde se unem povos de dois países e se visitam porções tão diversif**adas do Tejo e suas gentes, apetece viajar e partilhar a alegria desta espantosa cultura avieira, que continua a marcar as novas gerações.
Uma belíssima reportagem.

s Brigadas Revolucionários (BR) e o Partido Revolucionário do Proletariado (PRP) nas memórias do seu principal artíficeM...
02/07/2025

s Brigadas Revolucionários (BR) e o Partido Revolucionário do Proletariado (PRP) nas memórias do seu principal artífice

Mário Beja Santos

Carlos Antunes, Memórias de um Revolucionário, por Isabel Lindim, Oficina do Livro, 2024, dá-nos a oportunidade de ouvir alguém que entrou na clandestinidade aos 21 anos, que militou no Partido Comunista Português, esteve muito ativo na Roménia e em Paris, lançou mão de métodos que deixaram o Estado Novo em transe, quando passou a destruir equipamento fundamental destinado à guerra colonial. Como observa a autora, o texto resultou da transcrição de duas entrevistas, que decorreram em 2011, uma, outra da realizadora Margarida Gil. É um livro de memórias, sempre escrito na primeira pessoa, sempre mantendo a oralidade de quem possuía o dom de saber contar com uma presença cenográf**a única, cativando na conversação com um poder quase mágico, e daí a autora poder dizer que quase se limitou a fazer ajustes ao conteúdo da gravação.
Tudo vai começar numa infância rural, recorda a sua vida na aldeia, na Serra da Cabreira, Vieira do Minho, dá-nos o seu quadro familiar, a sua vida no Porto, o seu ingresso no Partido Comunista, o seu primeiro casamento e o trabalho partidário. “Ganhava o meu salário e tinha uma vida dupla. Controlava a organização clandestina no Minho e para isso tinha de recrutar, tinha de reunir, tinha de organizar as pessoas para estarem atentas às reivindicações dos trabalhadores, promover a unidade dos trabalhadores em cada empresa, fazer crescer as células, fazer novos recrutamentos.” E não esquece o seu amor ao teatro e a admiração que nutria por Óscar Lopes.
Discorre sobre a vida clandestina, há episódios de um humor faiscante, em Lisboa trabalha em apoio ao secretariado do partido, este num dia é preso num só golpe, foge com a mulher e os filhos, encarregam-no de fazer uma organização de fronteira, deixa-nos uma descrição admirável do que é o seu trabalho numa zona de contrabando. “Os contrabandistas têm uma ordem de solidariedade que é impenetrável. Quando montei o meu primeiro aparelho de fronteira foi ainda para o PC. Fui a primeira pessoa a passar no sítio onde o Cunhal passou a seguir. Para testar o aparelho. Depois com as Brigadas criei outro. O chefe dos contrabandistas de Montalegre é ainda hoje um homem adorado. Morreu. Era um militante extraordinário pela intuição, pela capacidade de organização.” Pensa que o mandaram para a Roménia porque ali havia necessidade de quadros e em nenhumas condições podia ser preso. “Para o Cunhal poder andar com a minha identidade em segurança. O meu nome, a minha carta de condução. Quando cheguei à Roménia, usava o pseudónimo de Sérgio Gomes. O Cunhal é que se chamava Carlos Antunes nessa altura.” A experiência romena não lhe foi feliz, segue então para Paris, não esquece a comoção que teve quando foi ver a Comédie Française.
Começam as suas andanças como clandestino pela Europa, irá visitar a União Soviética, entra num estado de desilusão ideológica, descobre que aquela vida não era o seu ideal, f**ará com muito má impressão de gente que vinha do movimento estudantil português, sublinha as contradições da linha partidária. E assim chegamos à invasão da Checoslováquia, aprofunda-se o fosso ideológico, havia já a pressão na base do PC para a necessidade de fazer a ação armada.
Cunhal criou um grupo que f**ará conhecido por Pró-Cubanos. “Este grupo era comandado por um indivíduo que tinha sido Comando na guerra colonial na Guiné. Segundo parece, era um fulano que matava depressa e bem e, portanto, tinha criado alguma aura de capacidade junto dos militantes, parecia que a guerrilha era uma coisa especial. Mas não era, como nós provámos à sociedade. Era uma questão de militância e de aprender. Se os outros sabem disparar, se os militares sabem disparar e sabem organizar coisas, porque é que nós não havemos de saber?”
Ocorre então a rutura com o PC, conta-nos a sua vida em Argel, tem aqui comentários e memoráveis. E regressa a Portugal, cria com a Isabel do Carmo as Brigadas Revolucionárias, descreve o debate que se instalou sobre a luta armada, refere a LUAR e a ARA, e como se chegou à definição do que deviam ser as ações armadas.
Entramos agora no mundo das bombas, descreve a primeira ação das Brigadas em 7 de novembro de 1971, na Fonte da Telha, seguir-se-ão ações de sabotagem, ações hilariantes, como largar um porco no Rossio vestido de Almirante Américo Tomás. Lemos as suas memórias e sente-se que ele estava feliz com a sua capacidade de disfarce. “Passei a usar uns óculos que eu dizia que era tipo empregado bancário. Uns oculozinhos assim certinhos. Passei a estar um bocadinho mais louro. Eu nunca cortei o cabelo, nunca fui ao barbeiro nem hoje vou. Eu sempre soube cortar o meu cabelo sozinho. Passei a vestir uma roupinha escura, limpa, elegante, mas que não dava nas vistas. Passei a ser um senhor qualquer igual a toda a gente.” É clandestino e falsário: “Os passaportes quem os arranjava era eu. Era autossuficiente a maquilhar passaportes, mas quando estava todo direitinho, todo bem feito como se tivesse saído do Governo Civil, eu deitava-lhe um bocado de água ou até lhe fazia chichi. Aquilo f**ava um bocado esborratado, mas eu queria um pretexto para que o polícia que me encontrasse na fronteira me interrogasse porque é que o passaporte estava assim.” Ao que ele responderia que teria sido um miúdo que tinha feito chichi no passaporte.
Recorda o escritor Nuno Bragança, a aliança que fez com os católicos, Frei Bento Domingues, a Capela do Rato, o Boletim Anti-Colonial. A maneira como ele conta uma história de uma tentativa de ação no Santuário de Fátima é um verdadeiro espanto. E seguem-se as ações bombistas em objetivos militares, destroem-se camiões, sabota-se a Marconi em Sesimbra e Palmela, sabota-se nos serviços de recrutamento militar, no Quartel-General do Porto, assaltam-se bancos, isto até 19 de abril de 1974. É neste ínterim que Carlos Antunes rememora todo o processo da clandestinidade, onde e como habitava, as senhas e encontros, não deixa de mencionar a prisão após o 25 de Abril e despede-se assim:
“No Portugal daquele tempo as pessoas tinham muito medo da PIDE e estavam convencidas de que era uma organização impressionante na sua capacidade de deteção das coisas. Nalguns aspetos era. Para nós o ser capaz não era tanto a importância ou o número de ações que fôssemos capazes de fazer. Era a continuidade na ação. Portanto, não ser preso e continuar a ação era a coisa mais terrível que podíamos fazer ao inimigo e era também aquilo que mais nos podia projetar na consciência dos trabalhadores, no sentido de eles terem autoconfiança para eles se disponibilizarem a correr riscos. Não era infalível uma pessoa ser presa.
E tivemos razão.
Não corríamos riscos desnecessários, éramos contidos, fazíamos as coisas com calma. Por vezes, sobretudo os exilados, queriam que nós andássemos de pressa demais. Queriam que nós fizéssemos coisas extraordinárias e nós dizíamos: ‘Não temos condições para as fazer e não as fazemos!’. O importante era manter essa cadência, esta capacidade de resistir e dar tempo às pessoas de perceberem que alguma coisa estava a nascer.”.
Um belo testemunho sobre as implicações das Brigadas Revolucionárias no esfarelamento da ideia que o regime omnivigilante da PIDE tudo podia sufocar e impedir um país livre.

A desdita dos comandos africanos da Guiné na labiríntica historiografia pós-colonialMário Beja SantosPara me licenciar e...
29/05/2025

A desdita dos comandos africanos da Guiné na labiríntica historiografia pós-colonial
Mário Beja Santos
Para me licenciar em História, aprendi que esta é a ciência do Homem no tempo, tempo que tem um antes, um durante e um depois, o investigador compulsa a documentação, pode socorrer-se de depoimentos escritos ou orais, em caso algum pode encobrir provas ou manejá-las de modo que a sua narrativa esteja em plena concordância com as acusações que comportam os recados que aparentam corresponder à clara certidão da verdade.
Os fuzilamentos dos comandos guineenses que combateram do lado português continuam a ser matéria fraturante, pasto de trabalhos que no fundo pretendem demonstrar como a nossa descolonização foi caótica, praticou injustiças, deixou um estendal de misérias. Sofia da Palma Rodrigues doutorou-se sobre este tema, ouviu velhos antigos combatentes, responsabiliza as autoridades portuguesas que acompanharam o prescrito pelo Acordo de Argel, e as subsequentes de desleixo criminoso, abandonaram, afinal, à mercê dos rancores do PAIGC homens que tinham sido valorosos a combater pela soberania portuguesa. É uma crítica acintosa, um uso atrabiliário da bibliografia e de diferentes fontes documentais, assim se escreve Por ti, Portugal, eu juro! A história dos comandos africanos da Guiné, por Sofia da Palma Rodrigues, Edições Tinta-da-China, 2024.
De acordo com o que se escreveu nos volumes dedicados à Guiné na Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, publicados pelo Estado-Maior do Exército, em 1969, o governador e comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, António de Spínola, concebeu uma força especial de comandos e fuzileiros, que deu origem a três companhias de comandos e duas de fuzileiros, as primeiras vieram a agrupar-se no chamado Batalhão dos Comandos Africanos. Fez-se uma seleção por recrutamento voluntário de gente que veio dos pelotões de caçadores nativos, das forças das milícias, sobretudo. Está comprovado que as autoridades do PAIGC, o presidente Luís Cabral e os políticos do seu círculo, foram inteiramente responsáveis pelos crimes perpetrados após a independência, perseguindo, prendendo, torturando e fuzilando elementos dessas forças especiais, tanto dos comandos como dos fuzileiros, e mentindo descaradamente, forjando intentonas ou dizendo nada saber sobre estes fuzilamentos. Nos diferentes livros que escreveu, nas entrevistas que deu, Luís Cabral negou sempre conhecimento dessas matanças. Só que os seus colaboradores têm vindo a escrever que as coisas não se passaram assim. Veja-se o que disse Manecas Santos num livro também publicado em 2024 intitulado Uma biografia da luta, Rosa de Porcelana Editora, página 113:
“Pouco tempo após a independência, talvez por volta de 1976, Luís Cabral foi passar férias à Suécia. No regresso, fez uma paragem em Lisboa. Tinha boas relações com Ramalho Eanes que o convidou para um jantar. Durante a conversa, Eanes falou-lhe de um conjunto de militares, antigos efetivos do exército colonial, que ainda estavam detidos na Guiné. Fez-lhe um pedido: que fossem devolvidos a Portugal, mediante a sua garantia pessoal de que não se envolveriam em qualquer intriga posterior contra o PAIGC ou o Estado da Guiné-Bissau.
Luís concordou. Assim que chegou a Bissau, convocou o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Umaru Djaló; Nino Vieira ministro do Interior; e António Alcântara Buscardini, chefe dos Serviços de Segurança do Estado. Informou-os sobre o acordo feito com Eanes e solicitou que providenciassem os documentos de viagem necessários para o regresso a Portugal dos militares em questão.
Foi então que Buscardini, com toda a desfaçatez, informou o presidente que os soldados que tinha prometido devolver já tinham sido executados. Ou seja, Buscardini tinha tomado individualmente uma decisão que punha em causa a palavra do chefe de Estado perante um homólogo; e tinha cometido uma violência contra os prisioneiros que teria sido impensável para o PAIGC, mesmo durante as hostilidades da luta armada.”
Esta é a versão de Manecas Santos, acontece que Luís Cabral, por mais uma vez, falou em tribunais e em tentativas de complô feitas pelos comandos, teria sido a justiça a decidir o seu fuzilamento. Como se sabe, não há uma só prova de qualquer envolvimento de comandos e fuzileiros em complôs e sabe-se que os fuzilamentos se prolongaram até finais de 1977.
Esta ilustre doutora diz abertamente ao que vem: “Este livro foca-se na recolha de testemunhos que põem em causa as narrativas oficiais que tanto Portugal como a Guiné-Bissau escolheram contar sobre si, e sobre os relatos de pessoas que foram cuspidas para fora de ambos os projetos políticos.” Por outras palavras, os historiadores, na plenitude andam a mentir. Por vezes diz coisas sem qualquer fundamento, como dizer que o PAIGC dominava já mais de metade do território quando Spínola se viu obrigado a apostar nos militares africanos e a dar-lhe funções de maior importância no Exército. É facto que Spínola apostou fortíssimo nestes comandos, eles foram utilizados para as operações mais arrojadas, fizeram muitas vezes vacilar os guerrilheiros do PAIGC e as populações por ele dominadas. Chegaram a ser cruciais em momentos em que se previa a hecatombe, como no cerco a Guidaje, em que os comandos entraram no Senegal e puseram o PAIGC em pânico, em Cumbamori.
Se esta historiografia pós-colonial servisse para pôr esta situação em pratos limpos, ouvir-se-iam aqueles que estiveram a pôr em execução o Acordo de Argel. A senhora doutora nunca refere as conversações travadas pelo brigadeiro graduado Carlos Fabião com os oficiais e sargentos dos comandos e dos fuzileiros, Fabião já faleceu, mas deixou depoimento do que fez e como fez. Nem uma palavra. O PAIGC aceitou incorporar todas as forças militares que combatiam do lado português, não cumpriram. Naquele vendaval de acusações que a doutora faz ao comportamento das autoridades portuguesas, não há nem uma palavra sobre a atmosfera que se viveu em Portugal, particularmente a partir do 11 de março, em que os spinolistas entraram em debandada. Era igualmente compreensível que na análise da situação concreta que se vivia nas conversações entre as autoridades portuguesas e as do PAIGC, estas apelassem à desmobilização das forças especiais, temiam que com a saída dos portugueses se gerassem focos de guerra civil. Valia a pena que a doutora tivesse procurado a documentação desta época nos arquivos da Defesa Nacional e não se limitasse a dizer que Glória Alves, o 2º comandante do Batalhão de Comandos afirmara que os guineenses tinham retirado o seu nome da lista que fora proposta por Fabião para virem para Portugal, fala também em Florindo Morais, mas diz que estes dois responsáveis não eram capazes de garantir como o processo aconteceu e recorre-se de interrogações: “Foram mesmo todos os que tinham o nome na lista a desistir? Houve alguém a precipitar esta decisão? O que terá levado estes militares a deixarem de querer ir para Portugal?” Será isto maneira de fazer historiografia? Andou a fazer entrevistas aos comandos africanos e esta questão não era importante?
Chegámos por fim ao mau da festa, Almeida Santos, que escreveu e promulgou o Decreto-Lei n.º 308-A/75, de 24 de junho, que previa que só conservariam a nacionalidade os cidadãos portugueses nascidos em África que tivessem pais, avós ou bisavós com linhagem europeia goesa. Nem uma palavra para a avalanche de retornados que começavam a afluir, nenhum partido político ao tempo contestou a necessidade desta legislação e, como é sabido, daí por diante, nenhum governo alterou a essência deste princípio da nacionalidade. É facto que se devia ter a seu tempo agido em nome do artigo 25º do anexo do Acordo de Argel, mas, como também é sabido, é assunto face ao qual nenhuma governação quis tratar por via diplomática pelas autoridades da República da Guiné-Bissau, a partir da Resolução do Conselho de Ministros nº18/83 em que se definiu que o pagamento das pensões seria transferido para o Estado da Guiné-Bissau, em troca Portugal perdoaria uma dívida de juros vencida no valor de 200 milhões de escudos. O que será que a senhora doutora queria, que cortássemos relações com a Guiné-Bissau por não cumprir com o estipulado?
Fuzilamento de comandos guineenses matéria fraturante? Sim, enquanto faltar historiografia que busque com rigor o tratamento das fontes e trate com a devida prudência as lacunas e omissões da História oral. Livro que não convence.

Obra de referência sobre os últimos anos do colonialismo portuguêsMário Beja SantosPublicado em novembro de 2024, pela B...
29/05/2025

Obra de referência sobre os últimos anos do colonialismo português

Mário Beja Santos

Publicado em novembro de 2024, pela Bertrand, Crepúsculo do Império, Portugal e as guerras de descolonização, coordenado por Pedro Aires Oliveira e João Vieira Borges, este volume de quase oitocentas páginas, que reúne a colaboração de mais de três dezenas de autores, destina-se a familiarizar o público com algumas das investigações mais inovadoras acerca das guerras coloniais de Portugal. Beneficia, naturalmente de avanços historiográficos facilitados pela abertura dos arquivos portugueses. “Instituições como o Arquivo Histórico Militar e o Arquivo da Defesa Nacional têm recebido, nos últimos anos, signif**ativas incorporações, e funcionam segundo normas que, em geral, se alinham com as políticas de acesso arquivístico mais abertas no plano internacional. Como a história das guerras coloniais não se cinge apenas à sua dimensão militar e operacional, outros arquivos têm sido procurados pelos investigadores, com destaque para os acervos depositados nos Arquivos Nacionais Torre do Tombo e nos Arquivos Histórico-Diplomático e Histórico-Ultramarino. A isto teremos também de acrescentar toda uma pletora de arquivos internacionais, que tanto inclui os antigos aliados ocidentais de Portugal como os de vários ex-satélites da URSS que a partir de 1990 adotaram regras mais abertas no tocante aos acervos dos seus serviços diplomáticos e de inteligência (como a República Checa), ou a constelação de países do agora chamado Sul Global que desempenharam papel de relevo na solidariedade e apoio aos movimentos independentistas das colónias portuguesas”.
Vejamos, em síntese, a estrutura da obra. A primeira parte intitula-se “Enquadramento”, aqui se procura estabelecer um quando contextual das guerras coloniais portuguesas em termos políticos, estratégicos e militares; a segunda parte denomina-se “Economia e Sociedade”, aqui explora-se a dimensão económica das guerras e os seus impactos sociais; a terceira parte obedece ao mote “Mobilização, Luta e Propaganda”, procura familiarizar os leitores com diversos aspetos da conduta do conflito, numa visão que procura conciliar uma abordagem analítica e algum sentido cronológico; “Dor e Sofrimento” é a quarta parte, aqui se enunciam os aspetos mais dolorosos do conflito, aqueles que resultam das baixas em operações militares, atrocidades, situações de cativeiro. A quinta e última parte é “Fim do Império”, são duas sínteses sobre as vicissitudes deste processo, primeiro na metrópole e em África, e depois nos territórios onde o nível de empenhamento militar português foi comparativamente menor do que em África, mas nem por isso menos gerador de consequências dramáticas, basta recordar Timor.
Sendo totalmente inviável alargar comentários a todos os diferentes comentários, vejamos, a título meramente ilustrativo o modo como os investigadores abordaram certos temas:
“Insistir na tese da vitória traída pode ser politicamente conveniente ainda hoje, mas é insistir em não querer perceber que uma guerrilha não ter por objetivo uma vitória convencional. Ela aposta na atrição prolongada da vontade de combater de um inimigo à partida muito mais forte. As guerrilhas independentistas sabiam não ser realista, nem tiveram como objetivo marchar sobre Lisboa, Paris ou Londres, pois não precisavam disso para atingir o seu objetivo estratégico: transformar o colonialismo num ativo tóxico na política internacional e demasiado custoso em vidas e despesas para ser viável a prazo na política interna das potências colonizadoras.”
“Ponto determinante foi a incapacidade de o poder político transmitir às suas Forças Armadas o que pretendia delas, isto é, o que considerava uma vitória e qual o seu objetivo. Esta incapacidade está plasmada nas cartas de comando entregues pelo Governo aos generais quando os nomeava comandantes-chefes. São todas elas idênticas e do tipo de ordens gerais: manter a ordem no território, colaborar com as autoridades civis e assegurar a relação pacíf**a entre os habitantes. Com esta latitude de objetivos cada general deduziu a sua missão. E daí cada um ter agido de acordo com a sua análise.
A perda da vontade de combater é uma das condições para o fim de uma guerra. Os capitães preferiram derrubar o regime, antes que o regime fizesse dele os bodes expiatórios da sua incapacidade, como acontecera na Índia. Preferiram defender o seu povo antes que o regime levasse o povo à exaustão.
O 25 de Abril de 1974 também resulta do sentimento de desconfiança dos militares relativamente ao poder político da ditadura do Estado Novo e dos seus dirigentes.”
No ensaio dedicado à estratégia e liderança do Conselho Superior de Defesa Nacional, abordando-se a situação na Guiné no período que vai de novembro de 1969 a maio de 1973, escreve-se:
“A situação na Guiné era a mais crítica. Na reunião de maio de 1971, Spínola deixou claro não ser possível vencer militarmente, levantando forte oposição dos ministros da Defesa e do Ultramar, que preconizavam a possível solução política teria de ter uma vitória no campo militar. Para Spínola, a solução ultrapassava largamente a possibilidade de uma vitória militar, e apenas no quadro de uma plataforma diplomática e política era possível encontrar uma solução de fundo para a Guiné. Qualquer solução que fosse orientada para a vitória militar tinha apenas como consequência e exaustão de recursos humanos, materiais e financeiros. Sem demonstrar aberta concordância com Spínola, Caetano considerava que o esforço financeiro suportado era muito elevado e não tinha a certeza de que a economia do país pudesse continuar a suportá-lo por muito mais tempo.”
Abordando a condição em que f**aram os combatentes africanos que tinham sido leais a Portugal, vejamos o que se escreve sobre a Guiné:
“O elevado número de guineenses ao serviço de Portugal, a sua reconhecida destreza militar, e a própria notoriedade alcançada por muitos deles num território com aquelas dimensões, tornava o PAIGC particularmente receoso quanto à desmobilização daqueles elementos. O seu desarmamento começou a ser feito a partir de 19 de agosto, imediatamente após o acordo de independência, sob a supervisão do brigadeiro Carlos Fabião. Esse processo deveria ter lugar contra o pagamento de seis meses de salário e uma guia de marcha que habilitaria os antigos combatentes a apresentarem-se ao serviço nas Forças Armadas do Novo Estado, a partir de janeiro de 1975. A possibilidade de os militares guineenses das Forças Armadas portuguesas, na qualidade de cidadãos da República da Guiné-Bissau, serem elegíveis para o pagamento de pensões de sangue, invalidez e reforma por parte do Estado português estava previsto no Acordo de Argel, mas nos anos seguintes nenhum programa completo para concretizar essa promessa seria implementado. A queda em desgraça do setor spinolista da Revolução, na sequência dos acontecimentos do 11 de março de 1975 em Lisboa, trouxe graves consequências para estes elementos, particularmente para os que se tinham distinguido em unidades de operações especiais. Os serviços de segurança do novo Estado, organizados por elementos formados na URSS, RDA e Checoslováquia, terão sido instrumentais na identif**ação e eliminação de vários ex-comandos. Dados revelados em 1980, mencionam 53 fuzilamentos ocorridos em 1965, mas as matanças conheceriam um novo pico em 1978, a propósito de rumores que apontavam para o envolvimento de antigos elementos do Exército colonial num alegado golpe de Estado liderado por Malam Sanhá, um ex-comando.”
Livro essencial, portanto.

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