09/08/2025
A vida é feita de recordações...
Os habitantes de Jazente, Terra de Santa Maria, Padroeira da mesma, ouvem falar pouquíssimo do Reverendo Padre José Correia de Almeida, que paroquiou esta freguesia cerca de 50 anos.
Dedicou-se muito a esta terra e nela quis ficar sepultado.
Faleceu com 81 anos de idade (hoje correspondia, mais ou menos, a 100) e foi sepultado no Cemitério Paroquial em sepultura rasa com o n°13, a 13 de janeiro de 1929.
A junta de freguesia em 3 de outubro de 1993, mandou fazer-lhe um jazigo em pedra com a contribuição monetária de várias pessoas, entre elas, um único conhecido seu familiar, Francisco José Correia de Almeida, residente em Ovar, cunhado da senhora D Arlinda Vasconcelos Taveira de Jazente, que ofereceu a importância de 50.000 escudos.
A homenagem ao Reverendo Padre foi feita a 3 de outubro de 1993, com uma romaria ao cemitério onde o Reverendo Padre Queirós Alves benzeu o referido jazigo.
No fim, foi celebrada uma missa às 12h e 30 m pela sua alma.
Muitas vezes, o meu pai contava que ainda muito jovem conviveu com ele e lhe chamavam o Padre velhinho, com muito carinho.
Tinha uma burrinha que o transportava, principalmente, às visitas aos moribundos que se queriam confessar e receber a Extrema Unção (Santa Unção) e vivia com ele uma criada, ainda mais velhinha do que ele.
Às vezes, quando precisava de ajuda chamava do seu quintal o meu pai:
-Ó Eduardo polícia ( o meu avó paterno é que era da polícia judiciária) podes vir cá?
E lá ia o meu pai todo contente ajudá-lo.
O meu pai contava ainda, que ele era muito meiguinho, carinhoso, dócil, humilde e que as pessoas diziam:
-O nosso Padre velhinho é um Santo.
Por muito tempo foi lembrado e venerado.
Hoje muita gente nunca ouviu falar nele, nem sabe que ele existiu, nem sequer vai junto do seu jazigo.
Ainda vou contar outro caso (claro, contado pelo meu pai) que se passou com a sua burrinha.
Um dia o meu tio e padrinho, e dois primos, resolveram faltar à escola. Marotos como eram, arranjaram um pouco de erva, colocaram-na perto da corda do sino ( na Torre Sineira), foram buscar a burrinha e prenderam-na à corda. Quando ela se movimentava a comer erva, o sino tocava, o Padre Velhinho não estava em casa, a criada veio ralhou-lhes e eles fugiram.
Era costume a professora deles, D Maria Arcanja de Magalhães Alves ( avó da menina Alicinha e da Toninha de Fornos, Jazente) vir todos os dias, à tardinha rezar o terço à igreja.
Nesse dia, a referida criada contou-lhe o sucedido e o nome dos rapazes.
No dia seguinte, entraram na escola e a professora chamou:
-Vinde cá, os da Trindade.
Olharam-se os três e lá foram, levaram três reguadas cada um.
Outro caso, sabendo que um rapaz, ainda novo, estava doente ( tuberculose) e que pedia à mãe um bocadinho de queijo. Pobrezinhos como eram, a mãe não tinha possibilidades, de lhe satisfazer tal desejo.
Chegou aos ouvidos do tal Reverendo Padre e ele deu ordens à criada, para ela ir a Amarante fazer compras e que lhe trouxesse um queijo.
Ao chegar a casa já tarde, ( ia a pé e vinha), o Reverendo Padre já tinha uma grande panela de sopa feita.
Sentaram-se à mesa, comeram e no fim ele pegou no queijo partiu uma fatia para ela e para ele, partiu um bocado grande e cuidando que ela não via, guardou-o num papel de cartucho. Ela disse -lhe:
-Ó sr Abade, comeu casca e tudo!!!
-Pois, estava desejoso de queijo.
Depois disse -lhe:
-Enche-me aquela panela mais pequena com sopa, que eu vou levá-la a fulana.
Pegou na burrinha e lá levou a panela e o queijo.
( Este caso era contado pela minha avó paterna e que lhe foi transmitida pela respetiva criada)
Cheguei ao fim. Gostou do que leu?
