O Unicórnio no campo

O Unicórnio no campo No meio das couves também se escreve. Ana, 46, Azinhaga
Jornalista

Um dia vou para a política. Não esperem slogans épicos como “Por um futuro melhor” ou “vamos elevar” qualquer coisa em n...
18/09/2025

Um dia vou para a política.
Não esperem slogans épicos como “Por um futuro melhor” ou “vamos elevar” qualquer coisa em não sei onde e o caraças.
A minha campanha será crua, mas honesta e sem os Vangelis como música de fundo.
Os chavões para os outdoors seriam mais ou menos assim:
1 – Se der, dá. Se não der, olha... saudadinhas à prima que a burra está coxa!

2 – Não percebo muito disto, mas vou esforçar-me para não estragar ainda mais o que já estava mal.

3 – Não prometo mundos e fundos. Pelo menos não vos estou a enganar.

4 – Se eu não souber, aviso já, que vou inventar.
É limpinho.

5 – Vou falhar em várias coisas, mas falharei à vista de todos.

6 – Não esperem milagres, esperem sim por remendos e já vos podem dar por satisfeitos.

8 – Não prometo mudar o mundo. Aliás, mal sei mudar uma lâmpada da cozinha!

9 – Se prometer muito e não cumprir, a culpa não é minha. É das bruxas, do mau olhado e da conjunção astral.

10 – O meu programa é simples, cumprir quatro anos de mandato sem que haja um homicídio associado.

A minha amiga que é cabeleireira, liga-me; - Estou à tua espera há meia hora, nunca mais te lembraste da marcação! Despa...
18/09/2025

A minha amiga que é cabeleireira, liga-me;
- Estou à tua espera há meia hora, nunca mais te lembraste da marcação! Despacha-te, Ana Mota!

Calcei os chinelos, peguei na mala à pressa e pus lá para dentro a carteira e outras coisas essenciais.

Estamos a rir há meia hora porque até uma trincha para lá enfiei.

18/09/2025

Há praxes académicas que cumprem a sua função, a de integrar, acolher, dissolver o medo inicial e permitir que os novos estudantes encontrem empatia num território desconhecido, de forma alegre.
Acho algumas praxes, fofas, engraçadas, descontraídas e necessárias.
São leves, criativas e respeitosas, não ferem a dignidade de ninguém e podem ser memórias felizes.
Há outras que não passam de pura parvoíce e chamar-lhes praxe é um eufemismo para aquilo que são puros exercícios de humilhação e estupidez.
Caríssimos, obrigar jovens recém chegados, longe da proteção familiar, a beber até à exaustão, rastejar em b***a, ouvir insultos ou simular atos degradantes em público não é engraçado, é abuso. Quem acha engraçado, tem problemas de personalidade e de carácter.
É violência simbólica e, não raras vezes, física. É crime.
Aquele que é alvo de humilhação diante dos pares carrega vergonha, ansiedade, baixa autoestima, dificuldade em confiar nos outros e naturalizar a humilhação como “rito de passagem” é perpetuar a ideia perversa de que a violência pode ser instrumento de integração.
Básico, isto é, básico.
O agressor mor, neste contexto, tem um perfil claro, o palhacito. Normalmente, é estudante veterano com a mania que é engraçado e que vai na 87º matrícula e que vê no poder temporário sobre os mais novos uma forma de afirmação e domínio e move-se pelo desejo de impor medo e de mascarar inseguranças pessoais sob a capa de uma suposta autoridade.
Estrelinha que o guie...
O restante grupo, serve-lhe de escudo e o riso cúmplice dos palermas que o acompanham validam o abuso. E atenção, o perfil deste palerma começa logo a aparecer no primeiro ciclo, como o bullie que ainda de fralda, goza com os mais novos ou mais frágeis.
Minha gente, estes que levam as praxes aos extremos, não têm prazer em integrar ninguém e muitos nem sabem a definição do verbo, só têm a intenção de subjugar.
Num Estado de Direito, nenhuma “tradição” pode sobrepor-se ao princípio da dignidade da pessoa humana e o argumentozinho bacoco da “liberdade académica” cai por terra quando a liberdade de um implica a degradação do outro.
Por isso, tudo o que exceda o limite do razoável deve ser nomeado pelo que é, palhaçada, parvoíce, idiotice e, em muitos casos, crime.

17/09/2025

Já abordámos esta febre moderna do “encontra o teu eu interior” e coiso, como se todos tivéssemos uma versão premium no âmago .
Admito a minha ignorância na matéria, mas tenho para mim que a maioria dos coachs andam sempre em “repeat”, debitando mantras. Eis algumas pérolas que se ouvem nesses retiros de almofadinha no chão e com taças a ecoar, no eco, naquele caminho que se faz caminhando e na luz que brilha por si e o carai.

“Sai da tua zona de conforto”
Certamente.
Dormir num colchão no chão é exatamente o que me faltava para alcançar o nirvana.

“Tudo o que precisas já está dentro de ti”
Exceto dinheiro, a nova coleção da Zara, estabilidade emocional, paciência e uma casa na praia.

“Se acreditares, já estás a meio caminho”
O outro meio caminho, curiosamente, é pago em suaves prestações até ao próximo retiro de almofadinha no chão.

“O universo conspira a teu favor”
Claro.
Entre expansão das galáxias, o universo faz sempre um intervalo para resolver o meu problema com a perda de colágeno, de massa magra e retração gengival.

“A gratidão transforma tudo”
Sem dúvida, transforma sobretudo a conta bancária do coach.

“Se podes sonhar, podes realizar”
Interessante. Sonho recorrentemente com Bora Bora.
Nada.

“Torna-te a melhor versão de ti mesmo”
Adorava, mas aparentemente a minha melhor versão vive no Instagram, com o filtro Paris e luz lateral.

“Não são os acontecimentos que contam, mas como reages a eles”
Portanto, se eu reagir com gratidão a levar com uma porta nas trombas, presumo que esteja automaticamente curada.

“A abundância é o teu estado natural”
Sem dúvida.
Abundância de contas, emails por responder e perímetro abdominal.

“Se não mudares nada, nada muda”
Wow.
Uma revelação digna de Einstein.

17/09/2025

Há gente que escreve com tanto mel que até parece que lamberam o pote do Winnie the Pooh. É tudo “gratidãozinha”, “abençoada”, e palavras de açucar. É tão enjoativo que a meio da frase já dei três vómitozinhos para dentro, só para equilibrar os níveis de glicose.

Agora deu para estar na moda chamar “mãe guerreira” a qualquer mãe. E sim, já sei que vão logo dizer: “ah, mas todas as ...
16/09/2025

Agora deu para estar na moda chamar “mãe guerreira” a qualquer mãe. E sim, já sei que vão logo dizer: “ah, mas todas as mães são guerreiras porque cada uma tem as suas lutas”. Pronto, sosseguem, que eu estou aqui para esclarecer.
“Guerreira” é a Xena. Lembram-se? Olhos azuis, cabelo comprido, distribuía tareias como quem distribui folhetos na feira. Isso sim, era guerreira.
Claro que existem mães do catano, ninguém está a tirar o mérito, mas a banalização do termo é tanta que parece que vivemos todas num campo de batalha contra o Império Romano.
Exemplo:
– Uma mãe tira uma foto com um garfo na mão: “grande mãe guerreira!”
– Uma mãe segura uma fralda: “mãe guerreira!”
– Uma mãe nem foto põe e escreve uma frase aldrabada do Pinterest: “mãe guerreira!”
Tenham calma. Guerreira eram as nossas avós, que andavam a cavar de sol a sol com filhos pendurados na mama e ainda tinham que trepar a árvores para se safarem de toiros tresmalhados.
Pronto, agora é só esperar pelas “mães guerreiras” em fúria nos comentários em 3, 2, 1…

15/09/2025

Pequeno prólogo sobre o regresso às aulas

Quando entrei no básico ia cheia de medo. Primeiro porque vinha de um colégio de freiras, depois porque nunca tinha falado com rapazes, a seguir porque não sabia o que fazer com tanta liberdade, e ainda porque estava vestida como um s**o de batatas, t-shirt até aos joelhos e calças Uniform onde cabia eu e o Vasco Santana, enquanto as outras raparigas já iam justinhas como se estivessem numa passerelle.
A verdade é que o medo durou pouco. Sempre me safei socialmente e, em poucos dias, já tinha amigos. Alguns ainda cá andam, outros ficaram pelo caminho. Bullying a sério não sofri, e quando alguém o tentou, resolveu-se com duas galhetas bem enfiadas na tipa que me perseguia e atormentava.
E sim, agora vêm vocês dizer: “ai, mas a violência não resolve nada”.
Pois, mas resolveu. E quem me chateava nunca mais voltou a chatear.
Fim da história.
Hoje recomeçam as aulas. E há miúdos a tremer porque não são tão engraçadinhos e desembaraçados.
Todos os motivos são válidos.
Se há os que entram na escola de peito feito e dominam tudo num instante, também há os que não conseguem logo de imediato. Esses precisam de ajuda, de integração.
E sim, o papel dos colegas é fundamental, mas o que ninguém gosta de ouvir é que isso começa em casa.
Ensinar a não g***r com quem é mais tímido, por exemplo, não é trabalho do professor, nem do vizinho, nem do padeiro. É dos pais. É da família. É aí que se aprende, ponto. Depois espalha-se para a escola, para a vida e para o resto. Não é preciso diploma em psicologia para chegar a esta conclusão, só um bocadinho de cérebro.
Portanto, ensinem os vossos filhos a serem pessoas decentes.
Eu faço o mesmo com o meu.
Só assim se pode falar em “mundo melhor” sem parecer uma frase feita de cartaz de sala de aula ou campanha eleitoral.
Bom regresso às aulas para os vossos filhos e netos.

Há mais de vinte cinco anos, quando ainda tinha contorno nos maxilares e os dentes todos (ok, isso ainda se mantém), dei...
14/09/2025

Há mais de vinte cinco anos, quando ainda tinha contorno nos maxilares e os dentes todos (ok, isso ainda se mantém), dei os primeiros passos no jornalismo “a sério”.
Munida da teoria aprendida na faculdade e de uma prática que não era totalmente nula, já que começara a trabalhar na área aos quinze anos, acreditava saber as agruras que me esperavam.
Num desses inícios profissionais, fui incumbida de entrevistar um presidente de câmara recentemente empossado. Estava nervosa como o raio, com uma ignorância política quase absoluta, mas avancei. Levei comigo a minha Canon, adquirida com o salário de estágio (num tempo em que um recém licenciado auferia perto de 900€), e um gravador prateado, novíssimo, a vanguarda tecnológica da altura.Recebida na sala do autarca, sentei-me frente a ele, mantendo uma postura formal. A entrevista decorreu entre tremores discretos, e uma postura de arrogância que só reforçava a minha insegurança. Foram duas longas horas. No final, respirei de alívio, carreguei no botão do gravador e agradeci silenciosamente o fim daquela provação.
De regresso à redação, com o guião escrito no meu caderno, preparei-me para a transcrição. Que é só uma das maiores secas de sempre no jornalismo. A transcrição.
Foi então que percebi: nada havia sido gravado. Zero. Nem um som, o vazio absoluto.
As opções eram várias, poderia ter chorado, escorregado dramaticamente por uma parede como em certos filmes, ou até mergulhado no Tejo para nunca mais regressar, mas, em vez disso, recorri à memória e, para colmatar falhas, ao recurso mais antigo do jornalismo: a imaginação. Reconstruí oitenta por cento das respostas em discurso direto, inspirada no que me parecia plausível que o presidente tivesse dito.
O artigo saiu. E, surpreendentemente, continuei viva, sem processos judiciais, sem reprimendas públicas. Nunca soube se o texto foi considerado brilhante ou tão desastroso que ninguém ousou comentar.
Moral da história, façam sempre, tentem sempre.
E se falharem, evitem o Tejo, o Zêzere é bem mais límpido.

12/09/2025

Há coisas tão elementares que me espanta que não sejam de compreensão universal.
Por exemplo: escrevo um texto nesta página, que abri, que administro, cujas sílabas sou eu que junto e, ainda assim, há quem se sinta no direito de insultar, de despejar baboseiras.
Aceito opiniões diferentes, isso não é o problema. O problema é usar cinco dedinhos de testa de forma tão limitada. Tinha que estar completamente fora de mim para, por exemplo, invadir a página de alguém com ideias distintas e disparar insultos.
A vida é simples.
Nas redes sociais, alguns insistem em complicar.
Esta página é minha.
Eu escrevo.
Há três hipóteses:
1 — Concordam com o que escrevo. Olha que bom.
2 — Não concordam. Olha que bom.
Contanto que defendam a vossa posição de forma civilizada, sem ofender a minha pessoa e são bem vindos.
3 — Ofendem, usam linguagem menos própria com comentários parvos e vão a c@gar cornos Tejo abaixo.

Simples assim.

12/09/2025

Há quem faça apresentações online e presenciais para pais, dignas de tese académica sobre “como retirar telemóveis, tablets e computadores às crianças”. Diagramas, técnicas, manobras de diversão, todo um manual.
E eu, ingénua, sempre a achar que bastava isto:
— “Mãe, posso ir ver tablet?”
— “Não.”
Fim da história.

11/09/2025

Num estabelecimento comercial fui atendida por um p**o que me chamou de “minha senhora”.
Sorri, mas por dentro a minha alma escorregava em câmara lenta por uma parede húmida, ao som de Lacrimosa. Se tivesse bracinhos, a minha alma estendê-los-ia para o poente, se tivesse rosto, a minha alma choraria em lágrimas duplas, em cadência perfeita com o som do piano.
Só desespero.
Só dor.
Sempre ladeira abaixo, caramba.

Como sabem os mais próximos, há cerca de seis meses foi-me diagnosticado um aneurisma numa artéria próxima do baço.Apesa...
10/09/2025

Como sabem os mais próximos, há cerca de seis meses foi-me diagnosticado um aneurisma numa artéria próxima do baço.
Apesar da palavra ser um bocadinho assustadora, a situação manteve-se estável, prova disso é que continuo por aqui, intacta, cheia de ganas.
Segundo duas avaliações médicas, a solução considerada mais segura seria a esplenectomia, isto é, a remoção cirúrgica do baço.
Porém, apesar de ser clinicamente viável, não me pareceu aceitável abdicar de um órgão funcional apenas porque “se pode viver sem ele”. Minha gente, se cá está, tem que ter um propósito.
Com o acompanhamento próximo de um amigo médico que também é primo, procurei alternativa.
Em maio, submeti-me a uma embolização do aneurisma.
Ontem, em consulta de Radiologia de Intervenção, recebi a confirmação de que o aneurisma foi definitivamente resolvido e que posso, assim, retomar a minha vida descansadinha.
A foto tem um "quê" de dramático e tenho uma pele que até mete cobiça.
Antonio Robalo Nunes
Dr. Tiago Bilhim

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