18/09/2025
Há praxes académicas que cumprem a sua função, a de integrar, acolher, dissolver o medo inicial e permitir que os novos estudantes encontrem empatia num território desconhecido, de forma alegre.
Acho algumas praxes, fofas, engraçadas, descontraídas e necessárias.
São leves, criativas e respeitosas, não ferem a dignidade de ninguém e podem ser memórias felizes.
Há outras que não passam de pura parvoíce e chamar-lhes praxe é um eufemismo para aquilo que são puros exercícios de humilhação e estupidez.
Caríssimos, obrigar jovens recém chegados, longe da proteção familiar, a beber até à exaustão, rastejar em b***a, ouvir insultos ou simular atos degradantes em público não é engraçado, é abuso. Quem acha engraçado, tem problemas de personalidade e de carácter.
É violência simbólica e, não raras vezes, física. É crime.
Aquele que é alvo de humilhação diante dos pares carrega vergonha, ansiedade, baixa autoestima, dificuldade em confiar nos outros e naturalizar a humilhação como “rito de passagem” é perpetuar a ideia perversa de que a violência pode ser instrumento de integração.
Básico, isto é, básico.
O agressor mor, neste contexto, tem um perfil claro, o palhacito. Normalmente, é estudante veterano com a mania que é engraçado e que vai na 87º matrícula e que vê no poder temporário sobre os mais novos uma forma de afirmação e domínio e move-se pelo desejo de impor medo e de mascarar inseguranças pessoais sob a capa de uma suposta autoridade.
Estrelinha que o guie...
O restante grupo, serve-lhe de escudo e o riso cúmplice dos palermas que o acompanham validam o abuso. E atenção, o perfil deste palerma começa logo a aparecer no primeiro ciclo, como o bullie que ainda de fralda, goza com os mais novos ou mais frágeis.
Minha gente, estes que levam as praxes aos extremos, não têm prazer em integrar ninguém e muitos nem sabem a definição do verbo, só têm a intenção de subjugar.
Num Estado de Direito, nenhuma “tradição” pode sobrepor-se ao princípio da dignidade da pessoa humana e o argumentozinho bacoco da “liberdade académica” cai por terra quando a liberdade de um implica a degradação do outro.
Por isso, tudo o que exceda o limite do razoável deve ser nomeado pelo que é, palhaçada, parvoíce, idiotice e, em muitos casos, crime.