07/07/2025
𝐄𝐝𝐢𝐭𝐨𝐫𝐢𝐚𝐥 𝐒𝐍 𝟏𝟕𝟕𝟏 - 𝐕𝐞𝐫ã𝐨 𝟐𝟎𝟐𝟓
𝐑𝐞𝐬𝐢𝐬𝐭ê𝐧𝐜𝐢𝐚 𝐞 𝐄𝐬𝐩𝐞𝐫𝐚𝐧ç𝐚
Os resultados das eleições para a Assembleia da República, realizadas no passado dia 18 de Maio, com o reforço da extrema-direita parlamentar, abrem espaço para a regressão das liberdades e para o aprofundamento do retrocesso da democracia portuguesa, nas suas diversas dimensões, política, económica, social, cultural.
Esta inquietude e estas preocupações são agravadas por um contexto internacional marcado pelo recrudescimento e banalização do belicismo, da violência e do ódio.
Vivemos tempos difíceis, de degeneração social, manipulada pelo poder das grandes empresas financeiras e informacionais.
A hora é de resistência. Resistência pela regeneração da democracia, porque o que não se regenera, degenera. Mas para isso, é preciso compreender e viver este tempo. Como escreveu Bento de Jesus Caraça, em 1933, num contexto também pleno de sombras e nuvens negras, “o que o mundo for amanhã, é o esforço de todos nós que o determinará. Há que resolver os problemas que estão postos à nossa geração e essa resolução não a poderemos fazer sem que, por um prévio esforço do pensamento, procuremos saber, por uma análise fria e raciocinada, quais são esses problemas, quais as soluções que importa dar-lhes – saber donde vimos, onde estamos, para onde vamos”.*
Com esse propósito, não basta ver, é preciso olhar; não basta ouvir, é preciso escutar; não basta falar, é preciso dizer; não basta usar os sentidos, é preciso sentir, com atenção e abertura à fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do outro, sem preconceitos.
Neste processo, importa saber distinguir o fundamental do acessório e ter sempre presente que os fins não justificam os meios, antes os meios devem sempre dignificar os fins.
A hora é também de esperança. Esperança que não espera, não desiste, antes constrói e leva adiante o sonho de uma sociedade melhor para todos, porque “não há mudança sem sonho como não há sonho sem esperança”.**
A esperança é uma condição necessária, mas não suficiente. Só por si, a esperança não transforma a realidade.
Por um lado, é necessário ter em consideração as razões históricas, económicas e sociais que a explicam, conhecer os problemas e as aspirações das pessoas, assim como os factores que condicionam a sua vida material e a sua consciência.
Por outro lado, a esperança deve estar ligada à prática, à acção colectiva, à mobilização política e social, tendo como referência os valores de Abril e os princípios consagrados na Constituição da República Portuguesa.
Só assim, se conseguirá ultrapassar o conformismo, a resignação, o pessimismo e o fatalismo. Só assim, se conseguirá ultrapassar a alma egoísta alimentada pelo culto do individualismo, exacerbado pelo neoliberalismo e “despertar a alma colectiva das massas”,* na construção de uma sociedade baseada na dignidade da pessoa humana.
Fiel aos seus valores fundacionais, ao seu percurso histórico e aos seus princípios editoriais, a Seara Nova contribuirá para o reforço deste grande movimento de Resistência e Esperança, através da sua actividade permanente de reflexão, mobilização e união dos democratas antifascistas, no combate quotidiano pela paz e por um país mais livre, mais justo e mais solidário.
*Bento de Jesus Caraça (1970), “A Cultura Integral do Indivíduo – problema central do nosso tempo”, (conferência realizada em 25 de Maio de 1933), in Conferências e Outros Escritos, Lisboa, pp. 29-58.
**Paulo Freire (2003), Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido, 10.ª edição, (1.ª Edição, 1993), Rio de Janeiro: Paz e Terra.
https://searanova.publ.pt/2025/07/07/resistencia-e-esperanca/