
29/04/2025
Ontem, dia 28 de Abril, às 11h33 alguém puxou a ficha da Europa.
Num instante, Portugal, Espanha, França e Alemanha afundaram-se num escuro pesado.
O frigorífico calou-se, o ecrã morreu, o telemóvel tornou-se um peso morto. Só às 21h20 a luz voltou e, nessas nove horas, percebi na pele que a minha vida depende de um único cabo.
Não houve romance, houve aflição. Elevadores cheios de gente a contar respirações. Carruagens paradas em túneis onde o ar custa a entrar. Doentes ligados a ventiladores que vivem do ronco cansado dos geradores. Medicamentos sem frio, comida estragada, pequenos negócios a somar prejuízos.
Mesmo assim, o escuro trouxe imagens improváveis: crianças a correr na rua, vizinhos encostados às portas a partilhar histórias em vez de emojis. O blackout não inventou ternura: apenas desligou o ruído que a adormece.
A verdade nua é esta: não precisamos de um colapso eléctrico para pousar o telemóvel. Precisamos de coragem. Eu preciso. Empurro ecrãs aos miúdos para comprar silêncio, adianto trabalhos em vez de apreciar apenas o café, fujo de olhar nos olhos de quem vive ao meu lado. Nenhuma falha técnica desculpa isto — é uma escolha minha.
O corte acabou, a ferida ficou à vista. Somos frágeis como o fio que alimenta o router e ele pode partir de novo amanhã.
Por isso pergunto-te: estás bem? Sobreviveste ao susto?
Mantém lanternas, powerbanks e garrafões à mão, sim, mas sobretudo mantém o coração ligado. Fala com quem te é próximo hoje, não no próximo apagão.
Que a próxima falha, se vier, nos apanhe vivos — não apenas online.
A luz voltou. Não deixes que a lição se apague.