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✍🏻 Porque escrever é terapêutico

A Sofia Pereira é uma das autoras inscritas na nossa comunidade e a terceira entrevistada da rúbrica que lançamos em Ago...
18/08/2025

A Sofia Pereira é uma das autoras inscritas na nossa comunidade e a terceira entrevistada da rúbrica que lançamos em Agosto: "A artista que habita em mim". Escreve, acima de tudo, textos motivacionais. E, aqui, numa breve entrevista, partilha connosco o que a move, inspira e distingue enquanto artista da escrita.

👉 Entra no link para ler a entrevista: https://emootiva.pt/entrevista/entrevista-ser-artista-e-transformar-a-alma-em-materia-sensivel/

Obrigada, Sofia! ❤️

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Já percorreram longos quilómetros. A viagem de carro ainda vai a meio e a Mariana precisa de um café. Pouco ou nada ouve...
14/08/2025

Já percorreram longos quilómetros. A viagem de carro ainda vai a meio e a Mariana precisa de um café. Pouco ou nada ouve da conversa da amiga.

«Ouve, sonhadora, podemos parar para tomar um café?», pergunta a amiga que a acompanha hoje. Vão para mais um concerto — tornou-se quase obrigatório, durante o verão, fazê-lo. Esse é o grande laço que as une: concertos de verão.

Sendo amigas desde sempre, as suas vidas tomaram rumos diferentes. As oportunidades de estarem juntas tornaram-se mais raras, mas os concertos voltam a juntá-las ano após ano.

«Sim, Marta, paramos. Preciso mesmo de um café!», exclama Mariana, com um sorriso na voz.

Depois de se sentarem, Marta questiona:

«Que sonho te atormenta hoje?»

«Hoje? Nenhum, acho que não sonhei esta noite… pelo menos, que me lembre.»

«Estiveste a sonhar até agora. Por onde andaste, não sei… mas tenho a certeza de que foste perdendo grande parte da conversa que fomos tendo…»

Mariana olha-a surpresa. Na maioria das vezes, consegue fazer ambas as coisas: sonhar e conversar, sem que ninguém repare.

Riem juntas da piada.

«E eu a achar que estava a disfarçar bem», diz Mariana, nada envergonhada pelos sonhos que apareceram durante a viagem.

«Meu amor, conheço-te tão bem… por vezes acho que melhor do que tu. Raramente estás por cá, e, quando o fazes, pouco tempo permaneces. Tudo o que acontece dentro de ti é demasiado importante para que fiques por cá. Um dia, gostava de saber o que se esconde por lá, mesmo sabendo que, por agora, irás continuar a lutar contra isso», termina com um sorriso.

«Marta…», começa Mariana a tentar explicar o que nunca conseguiu fazer.

«Mariana, não precisas de justificar, mas caramba, adorava saber o que anda por aí… Por vezes, ficas tão feliz… Adorava poder fazer parte desses momentos — e dos outros, onde te perdes em dores que eu sei não serem tuas. Poderia, talvez, ajudar-te…», termina.

Mariana pensa nas palavras da amiga. Há já algum tempo que sabe que se perde demasiado dentro de si, mas ainda não tinha total perceção de que o mundo — o seu mundo — também sabia disso.

«Por vezes, tenho medo de me perder dentro de mim», diz com sinceridade. «Por vezes, torna-se tão avassalador… Parece quase outra vida, mesmo sabendo que ela não é real», termina, esperando algum tipo de recriminação ou mesmo preocupação com a sua sanidade mental.

Depois deste desabafo, Mariana demora longos minutos a olhar a amiga. Quando o faz, vĂŞ um sorriso de orgulho no seu rosto.

«Mariana, meu amor, tu não és maluca. De todo! A única coisa que te prende és tu. Tu podes procurar esse mundo onde te perdes, podes criá-lo aqui, na vida real — como lhe chamas —, mas tens medo. Medo de perder o que tens aqui.»

«Não é assim tão fácil, Marta…», diz num tom triste.

«Porquê?»

Os porquês são sempre difíceis de responder, porque as respostas podem ser simples para os outros, mas raramente o são para quem responde. É isso que assombra a resposta.

«Aquela que sou eu lá… não sou eu. Talvez seja por isso», responde.

«Talvez sejas tu, mas ainda estejas escondida dentro de ti por aqui. Talvez só precises de te deixar ir. Que tal experimentares fazê-lo hoje? Só estou aqui eu, e não te vou julgar. Não te vou apontar o dedo em momento nenhum. Vive como achas que deves, e depois logo vês como te sentes. Talvez este seja o momento em que te encontras com essa pessoa que te assombra os sonhos», diz com um sorriso, enquanto se levanta.

Mariana deixa-se ficar sentada, a tentar perceber onde foram parar as barreiras que criou.

Ela e a Marta conhecem-se desde sempre. Ela é uma das poucas pessoas que a conhece de verdade, sabe onde está e para onde deseja ir — mesmo que raramente o faça. Desafia-a a seguir em frente, a seguir os seus sonhos. É das poucas que respeita os seus sonhos acordada. É uma das poucas pessoas que respeita a verdadeira ascensão da palavra.

Longos minutos depois, levanta-se e segue a amiga.

Mariana mira, durante vários minutos, o seu reflexo tão familiar. Aprendeu a reconhecer-se no olhar que a fita de volta.

Estes momentos de encontro consigo fazem com que aprenda a reconhecer os sinais.

Os sinais que os olhos lhe transmitem. Os sinais de que vai voltar a viajar para a terra dos sonhos.

Aquela que vê ao longe a viver a vida que ainda não tem. Aquela que sorri abertamente perante a vida, perante os outros. Aquela que sente a terra nos pés, que acorda feliz quando sente o cheiro a terra molhada.

Aquela.

Ela, quando se permite sonhar.

O espelho permite-lhe ver o que poderia ser, se ela se permitisse. O que poderia acontecer com ela. A leveza que poderia chegar se ela se permitisse ser ela no mundo real.

O reflexo devolve-lhe o olhar expectante, como outras vezes em que se encontraram. Ouve a pergunta novamente:

«Estás pronta para embarcar no barco certo, no barco em que o teu futuro ambicionado te aguarda?»

«Mariana, vamos?», a pergunta da amiga trá-la de volta à realidade.

E a magia — a terra dos sonhos — quebra-se. Volta para a sua realidade, deitando um último olhar para o seu reflexo, antes de virar as costas, mais uma vez, aos sonhos que a perturbam, que a perseguem sem se manifestarem — porque ela não o permite.

«Sim, vamos. Precisamos de chegar ao concerto», responde com um sorriso e entusiasmo na voz que nem ela sabe de onde apareceu. Aproxima-se da amiga, abraçam-se e saem da casa de banho.

«E tu precisas de sonhar mais e mais, até que eles se tornem realidade… e tu sejas só uma, inteira.»

Mariana arriscou — e, naquele dia, começou a viver os sonhos que a permitiram sentir.

— Sónia Brandão

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A Inês Biu Faro é uma das autoras inscritas na nossa comunidade e a segunda entrevistada da rúbrica que lançamos em Agos...
11/08/2025

A Inês Biu Faro é uma das autoras inscritas na nossa comunidade e a segunda entrevistada da rúbrica que lançamos em Agosto: A artista que habita em mim. Escreve, acima de tudo, crónicas sempre com um cariz emocional interventivo. E, aqui, numa breve entrevista, partilha connosco o que a move, inspira e distingue enquanto artista da escrita.

👉 Entra no link para ler a entrevista: https://emootiva.pt/entrevista/entrevista-espero-que-quem-me-le-se-sinta-compreendido-que-sinta-que-nao-esta-sozinho/

Obrigada, Inês! ❤️

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Agosto Ă© o mĂŞs em que celebramos o Dia do Artista e, por isso, a data escolhida para darmos inĂ­cio, hoje, Ă  nova rĂşbrica...
04/08/2025

Agosto Ă© o mĂŞs em que celebramos o Dia do Artista e, por isso, a data escolhida para darmos inĂ­cio, hoje, Ă  nova rĂşbrica "A artista que habita em mim".

Na emootiva, queremos dar voz a quem faz da palavra escrita a sua forma de arte — porque escrever também é uma das sete artes: aquela que transforma o silêncio em partilha, que aproxima pessoas, que resgata memórias, que dá voz a quem precisa, que faz sonhar, que motiva, que inspira, que cura, que entretém.

A Estefânia Barroso é uma das autoras inscritas na nossa comunidade. Aliás, a sua presença já vem dos tempos do Desafio-te, a plataforma antecessora da emootiva. Escreve, acima de tudo, contos e crónicas. E, aqui, numa breve entrevista, partilha connosco o que a move, inspira e distingue enquanto artista da escrita.

👉 Entra no link para ler a entrevista: https://emootiva.pt/entrevista/entrevista-sou-uma-apaixonada-por-pessoas-e-gosto-de-escrever-sobre-elas/

Obrigada, Estefânia ❤️

Sempre tive esta «peculiar mania» de criar laços para a vida, quer conhecesse a pessoa há cinco minutos, quer conhecesse...
28/07/2025

Sempre tive esta «peculiar mania» de criar laços para a vida, quer conhecesse a pessoa há cinco minutos, quer conhecesse há cinco meses ou mesmo anos.

Por ser uma mulher feita de afectos, espalho-os sempre, deixando estas bonitas fitas invisíveis. Um de cada cor, conforme eu quero e me apetece, sem legendas, estratos, degraus ou qualificações.

Claro que crio laços para a vida! Afinal a Plateia, o Salão de Baile, o Sótão das Mil e Uma Portas, os Jardins, todo o meu País das Maravilhas, não foram só criados para os meus sonhos de menina e mulher. Também os criei para organizar, arrumar, dobrar e perdoar, quando necessário, todos os meus laços para a vida.

Dos meus Laços para a Vida, naturalmente que uns serão mais largos que os outros, mais fortes, mais difíceis de partir ou perder. Grandes amores, grandes amizades, pessoas realmente importantes e marcantes — e até mesmo os meus Avós Paternos, enquanto Estrelas Guia.

Muitos deles mais difíceis de enrolar e guardar nos Baús de Memórias e nas Caixas de Ternura, alguns até ficam com pontinhas de fora e ou revivo e guardo, ou guardo só. Outros bem mais fáceis, ou porque ficou bem resolvido, ou porque não seriam assim tão importantes, ou porque foi do outro lado que foi quebrado e eu não me preocupei em consertar, tendo já aprendido o devido valor da reciprocidade.

Esta peculiaridade de ser Tecedeira de Afectos nem sempre é fácil. É maravilhoso, sim. É como eu sou. É natural em mim. É o meu encanto. Mas e a quantidade de novelos, nós, fios cruzados, direitos, retesados ou lassos que tenho por aqui criados e, muitas vezes, todos baralhados? Laços para a Vida são logo sinónimos para mil aventuras, novas memórias, apagar as antigas, abrir espaços e fechar outros, apagar luzes e acender outras. E, no fim, o meu Jardim está sempre colorido, está sempre cheio de vida.

É uma aprendizagem constante. É uma evolução. É algo que não posso excluir nem evitar. Aprendo com cada nó. Aprendo com cada laço que aumenta no seu comprimento e largura/grossura. Aprendo com cada novelo que é preciso guardar e com cada novelo que é preciso esticar, brincar e viver. Também aprendo a cortar as pontas soltas, a resolvê-las e a perceber se são para guardar ou para deixar ir com o vento.

Quando penso nos meus Laços para a Vida, vejo-os como aquelas brincadeiras de tempos idos há séculos – literalmente –, quando as meninas entrançavam as fitas coloridas em volta de um mastro alto. Acabo por ter fios mais apertados e outros mais apartados, uns mais fortes, outros mais lassos, uns que sei que não se partirão, outros que, de vez em quando me deixam em dúvida, e, ainda, uns quantos que vou deixando estar. Sinto que fiz a minha parte para os manter. Se caírem, é porque tinham de cair.

Nem todos os Laços para a Vida são-no realmente. Gostei de lhes dar este nome e de me intitular Tecedeira de Afectos precisamente por gostar tanto de distribuir afectos e amor. Por fazer tudo sem maldade, quando me aproximo de alguém, é genuíno. Não uso rocas. Gosto de ter os fios e os laços prontos a distribuir, atirar e, se apanharem, teremos as duas pontas presas e, se me for atirado um laço de volta, estará construída a ponte de reciprocidade dos Laços para a Vida.

Quando comecei a pensar nesta frase «laços para a vida», lembrei-me de antigas amizades, que eu realmente pensei e assumi que seriam para a vida e foi do outro lado que o laço se quebrou. Assim como em amores antigos – ex-namorados mesmo! –,que, de vez em quando, vêm passear ao meu Jardim florido, na esperança de verem esta Princesa à janela, de trocarem dois dedos de conversa e ver no que dá. Sem se darem conta de que eu já não sou a mulher que eles, um dia, conheceram, com quem um dia estiveram e namoraram. Somos todos feitos de fases, de mudanças, crescimento e laços. Eles também já não são os rapazes que, um dia, conheci.

E, nisto, eu tenho tendência a ser igual para com toda a gente. Se quebraram os laços comigo, mesmo depois de eu ter tentado manter da minha parte, quando corto, não há volta a dar. Foram importantes, um dia. Resolvi, enrolei e guardei. Não há mais fio para tecer um laço que foi desfeito.

É precisamente, por sermos todos feitos de mudanças e evoluirmos todos os dias, que os meus Laços para a Vida são cada vez menos distribuídos, mas com mais confiança e mais certezas.

Nunca deixarei de ser uma Tecedeira de Afectos. Os meus Laços para a Vida é que se tornaram mais estritos.

— Inês Biu Faro

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Uma das frases que mais ouvia, quando era criança, não era muito simpática para a «catraia» que fui (ainda que tenha de ...
24/07/2025

Uma das frases que mais ouvia, quando era criança, não era muito simpática para a «catraia» que fui (ainda que tenha de concordar com ela!). A máxima que, tantas vezes, ouvi do meu pai, dos meus familiares mais velhos e, até, de alguns professores era a ameaçadora: «Tens a língua comprida! Um dia, corto-ta!»

A verdade é que, desde que me lembro de falar, sinto que tenho, como se diz popularmente, o coração na boca. Tenho alguma dificuldade em controlar os meus ímpetos verborrágicos — sobretudo quando alguma situação me causa aquela irritação explosiva. Quando isso acontece, dou por mim a soltar um sem-número de palavras, sem que antes elas sejam filtradas pelo bom senso ou, até, pelo filtro da sensibilidade. Tenho de assumir que não me sinto a pessoa mais excecional quando tal acontece. Por um lado, irritei-me – o que provavelmente me terá causado mais umas quantas rugas – e, por outro lado, acabo por magoar algumas pessoas que não mereciam aquela explosão de palavras mal-humoradas. E, mesmo quando são pessoas que mereciam suportar a pior versão de mim, penso que perdi completamente a razão ao perder as estribeiras daquela forma.

É claro que a idade, de mãos dadas com a maturidade, tende a alterar estas características mais explosivas da personalidade das pessoas. E isso aconteceu comigo. Com o passar dos anos, e com a maturidade a chegar, senti que me tornei uma pessoa mais calma, mais ponderada e, sobretudo, mais tolerante. As explosões de palavras tornaram-se menos frequentes. Passei a pensar duas ou três vezes antes de abrir esta boca que tão dificilmente se calava. Passei a ponderar com calma e paciência infinita as situações, verificando se, de facto, elas mereciam a minha irritação e o romper do dique das palavras. E, verdade seja dita, percebi que, na maior parte das vezes, as situações pouco mais merecem do que um silêncio ensurdecedor. Tornei-me, efetivamente, uma pessoa mais afastada daquela menina pespineta a quem ameaçavam cortar a língua!

Conhecem aquele velho provérbio que nos diz que «o lobo perde o pelo, mas não o vício»? Isto como quem diz que uma pessoa pode mudar de aparência, mas nunca a sua essência. Pois, tenho de admitir que é um pouco isso que se passa comigo. Posso ter mudado ou, melhor, moldado a aparência – mais calma, mais ponderada, menos «coração na boca» –, mas a verdade é que esta não é a minha essência. Eu sou, efetivamente, alguém que não gosta muito de pesar cuidadosamente as palavras que vai usar e que prefere ser autêntica naquilo que diz. Ainda que isso possa ser dito de forma ligeiramente desagradável. E, por isso, há momentos em que sinto que o vulcão que existe dentro de mim entra em erupção e, aí, lá saem as palavras, de jorro, sem barragens que as consigam controlar. E, quando estes momentos chegam, inundam quem estiver por perto.

E sabem que mais? Quando isto acontece, sinto-me bem. Sinto que enchi de tal forma que precisei de transbordar, retirar, de forma abrupta, o que estava a mais. E que limpeza à alma isso me traz! Que bem que me sabe voltar a ser aquela criança de língua afiada que diz tudo o que lhe passa pela cabeça, tudo o que lhe vai na alma! Neste feliz reencontro com a criança que fui, sinto-me outra, diferente, renovada.

Quando penso nisso tudo, percebo que a maturidade não apagou quem eu sou na essência. Ensinou-me, sim, a usar melhor aquilo que sou. A menina da língua afiada ainda vive em mim. Talvez esteja mais calma, é verdade, mas continua inteira e fiel à sua natureza. Como referi, o lobo perde o pelo, mas não perde o vício. Este lobo que aqui se apresenta não perdeu o vício, porque esta é a sua forma de ser verdadeira. E sinto que é um privilégio poder, de quando em vez, dar voz ao que vai cá dentro – sem medos, sem filtros e sem culpas. No fim de contas, dá-me uma certa paz ser quem sempre fui — ainda que isso implique, de tempos a tempos, dar plena liberdade à minha língua.

Pedindo emprestadas as palavras Ă  Carolina Deslandes:

«Ai, se eu fosse mais calada
Ou se falasse devagar (…)
Ai, se eu fosse mais reservada (…)
Ai, se eu fosse mais calada
Ou tivesse tento na língua»

— Estefânia Barroso

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Quando o nosso olhar se cruza com algo quebrado, o nosso instinto diz-nos para tentar consertá-lo.Foi assim quando te ol...
23/07/2025

Quando o nosso olhar se cruza com algo quebrado, o nosso instinto diz-nos para tentar consertá-lo.

Foi assim quando te olhei.

Percebi, desde o inĂ­cio, que algo estava quebrado dentro de ti.

Não sabia a extensão do dano até te conhecer, mas sabia.

Soube nesse dia e, instintivamente, aproximei-me com a certeza de que te poderia «curar», o que quer que estivesse quebrado.

Comecei a tornar-me presente na tua vida, em ti. Tornei-me a tua bengala, aquela que te instigava a viver, a seguir em frente, mesmo que os teus olhos derramassem lágrimas sem motivo aparente.

Durante algum tempo, mantive-me ali, só como acompanhante, porque tu estavas demasiado preso na dor para perceberes que eu precisava e queria ser mais do que isso — queria saber tudo sobre ti para, daí, podermos seguir.

Mas, com o passar do tempo, percebi que me estava a tornar demasiado segura para ti. Estava sempre lá, sempre presente, sem questionar, sem julgar, e soube que tinha de mudar.

Mudei.

Afastei-me, na esperança de que percebesses a minha ausência — não porque eu já não te limpava as lágrimas, mas porque sentias a minha falta. A falta…

Mas tu estavas demasiado quebrado para perceberes. NĂŁo percebeste.

Não sentiste a minha falta, porque eu continuei a estar presente, mesmo estando a alguns passos de distância.

Ganhei coragem para sair da minha zona de conforto e comecei a questionar.

Perguntei, vezes e vezes sem conta, o que te tinha destruído. Nunca respondeste — limitavas-te a olhar-me nos olhos, até que a intensidade desse olhar se tornasse insuportável para mim e eu desviasse o olhar com medo de mim mesma, com medo de que o que quer que fosse também me destruísse.

Por vezes, senti que era um pássaro demasiado perto do sol, que por vezes chamuscava algumas das p***s.

Quase desisti.

Deixei de perguntar.

Deixei de te limpar as lágrimas.

Comecei a caminhar noutro sentido.

Mesmo assim, o que me atraiu no inĂ­cio continuou a atrair-me.

Continuei a perambular em teu redor — mais distante, mas continuei ali.

Foi quando percebeste.

Percebeste que eu me estava a afastar.

E, sem perguntas, disseste:

— Quando alguém destrói a tua essência, quando alguém te fere tão profundamente que te esqueces de quem és, é quase impossível voltar. Lamento ainda estar lá.

Dando-me o direito de escolher para onde ir.

Pela primeira vez, percebi o quĂŁo longe estavas.

Ninguém te poderia curar.

Eu só poderia continuar a limpar as tuas lágrimas e aguardar que regressasses.

O que te destruiu demorou anos a sair do teu coração, da tua mente.

Mas, depois daquelas palavras, eu soube que poderias voltar, e que, de alguma forma, me querias encontrar quando esse dia chegasse.

Esperei — e tu apareceste. Emergiste do nevoeiro que te prendeu, das palavras que te feriram, das memórias que continuas a carregar. Nunca mais precisei de te limpar as lágrimas para seguires em frente.

Não te curei. Limitei-me a esperar ao teu lado até que esse dia chegasse.

— Sónia Brandão

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Sempre tive verões muito semelhantes – pelo menos, aqueles dos quais me lembro. Metade do mês de agosto com o pai e a ou...
21/07/2025

Sempre tive verões muito semelhantes – pelo menos, aqueles dos quais me lembro. Metade do mês de agosto com o pai e a outra metade com a mãe – alternadamente, como quaisquer outros filhos de pais separados. Os meses antes e depois eram divididos entre a casa da mãe e a casa dos avós, ou até mesmo ATL’s do Jardim Zoológico.

Ainda assim, quero contar-vos a memĂłria de verĂŁo mais bonita e presente que tenho: eu vi os meus avĂłs a casarem! [risos] Isto Ă©, vi-os renovarem os seus votos quando celebraram as Bodas de Ouro.

Foi no dia 21 de agosto de 2010 e, muito embora fosse «ap***s» uma renovação de votos, foi um autêntico casamento. A minha avó quis ter tudo a que tinha direito. Desde as flores na igreja, à festa, comida boa e gente feliz à sua volta, entre aqueles que lá tinham estado 50 anos antes e aqueles que a vida lhe trouxe. E o meu avô deu à sua Nelinha tudo o que ela lhe pediu.

Lembro-me de que, no dia 20, fomos «obrigados» a sair cedo de casa e só poderíamos voltar praticamente para dormir. A casa seria limpa a fundo. No jardim, iriam montar a tenda, as mesas e as decorações. A cozinha e a sala seriam ocupadas com a empresa de catering. Eu só tinha levado o vestido de cerimónia e roupa de festa para o dia anterior e para o dia seguinte – imaginem-me a almoçar numa tasca com um vestido vermelho elegante e saltos altos. [risos]

Todos os elementos se envolveram, de uma maneira ou de outra. Queríamos todos oferecer presentes memoráveis. Então, os três filhos ocuparam-se de fazer um álbum fotográfico, a partir dessas e de outras fotografias encontradas; os netos fizeram um filme com a história da Família Biu. Mas não nos ficámos por aqui – claro que não. Numa família de músicos, claro que as maiores prendas foram musicais. A minha mãe cantou, os meus primos tocaram – eu não toquei; na altura, era percussionista e não dava muito jeito. E eu fiz a parte que melhor sabia: escrever!

De um rasgão, uma semana antes da cerimónia, ocupei três páginas com o texto mais bonito que alguma vez escrevi. Tinha pensado lê-lo na boda, mas o padre convidou-me a lê-lo antes do final da missa. Mal comecei, já sentia as lágrimas a caírem-me pelo rosto. Fui lendo e soluçando, respirando fundo. Quando terminei e levantei a cabeça, toda a audiência estava em lágrimas e ganhei o melhor abraço do mundo: o dos noivos.

E a festa… mesas fartas, comida boa, gargalhadas por causa do vídeo, o álbum que circulava e danças na relva. Ao final da noite, já todos tínhamos trocado de sapatos ou estávamos descalços, de pés na relva, a dançarmos ao som da Shakira e a tirarmos as mais bonitas fotografias de família que temos.

Comemos, bebemos, chorámos, brincámos e celebrámos o que é fazer parte de uma família tão bonita e como nos calhou esta sorte tão grande de estarmos todos juntos e tão felizes.

Todos os anos é uma data que se repete e que se comemora. Quando apareceram os filhos e, depois, os netos, os avós nunca mais quiseram comemorar sozinhos. Celebrar a sua união é também celebrar a família que construíram, é celebrar o amor, a amizade, o sentido de família, é cultivar ainda mais a união entre todos.

E, naquele ano, escrevi assim: «Cinquenta anos de casamento, de amizade, de vida em comum e de amor. Cinquenta anos de casamento, uma vida, uma aventura! Que, desde tão jovens, souberam enfrentar com tanta força e sorrisos. Vocês são realmente um exemplo de felicidade, cumplicidade e respeito mútuos. E é maravilhoso fazer parte de tanta felicidade. Espero continuar a aprender muito convosco. Até aqui, os Avós passaram 50 anos de batalhas diárias pelo bem-estar e felicidade de todos. Cinquenta anos a criarem e a aumentarem a família que hoje somos.

Lutaram contra doenças e venceram. Lutaram contra crises e venceram. Viram os seus filhos desviarem-se dos destinos que queriam que seguissem e continuaram a sorrir! Eles, que queriam ser paraquedistas, astronautas ou terroristas, são hoje dois excelentes engenheiros e uma belíssima cantora lírica. Formaram-se na vida com mérito e com o orgulho dos pais, que, tal como aos filhos, têm ensinado aos netos o melhor da vida e os seus maiores valores: honestidade, amizade, tolerância, compreensão e força de viver!»

Todos os verões comemoramos as Bodas dos Avós Biu, mas em 2010 foi diferente, completamente diferente. Foi o casamento mais bonito a que já fui, sem nem ter visto um vestido branco.

A Nelinha e o Humberto casaram! Vivam os noivos!!

— Inês Biu Faro

✍️ Neste mês de Julho, as autoras inscritas na emootiva foram desafiadas a escrever sobre uma memória de verão. ❤️

Num mundo que vive em aceleração constante, onde cada minuto é preenchido com compromissos, obrigações e metas a cumprir...
18/07/2025

Num mundo que vive em aceleração constante, onde cada minuto é preenchido com compromissos, obrigações e metas a cumprir, parar pode parecer um ato de fraqueza. Mas e se te dissesse que parar é, na verdade, um dos gestos mais poderosos que podes fazer por ti?

Descansar é muito mais do que dormir ou desligar. É escutar o corpo, respeitar os seus limites, acolher o cansaço com compaixão. É dar tempo à mente para respirar, ao coração para sentir, à alma para reencontrar o caminho. Quando escolhes parar, estás a escolher cuidar de ti — e isso é tudo menos egoísmo. É amor-próprio. É coragem.

Vivemos tempos em que a exaustão é romantizada e o estar sempre ocupado é confundido com sucesso. Mas a verdade é que ninguém consegue dar o melhor de si quando vive em piloto automático. A criatividade precisa de espaço. A clareza nasce no silêncio. A motivação renasce no repouso. Só quem sabe parar, sabe recomeçar com propósito.

Parar é também um ato de liberdade. Um gesto de resistência contra a ideia de que o teu valor depende ap***s do que fazes ou produzes. Tu vales pelo que és — com ou sem agenda cheia, com ou sem resultados visíveis. O descanso devolve-te essa verdade. Relembra-te que a tua existência é digna, mesmo nos dias em que o mais importante que fazes é simplesmente respirar fundo.

Por isso, não tenhas medo de parar. Desliga o ruído. Respira devagar. Caminha sem pressa. Fecha os olhos sem culpa. O mundo não vai acabar se te afastares por um momento — mas a tua saúde, os teus sonhos, a tua tranquilidade de espírito e a tua paz interior podem florescer se começares a cuidar melhor de ti.

Faz do descanso uma prioridade. Não como fuga, mas como fonte de energia. Não como desculpa, mas como decisão consciente. Porque descansar não é perder tempo — é ganhar vida.

Tu mereces. Hoje e sempre.

— Sofia Pereira

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– Desculpe, menina, não pude deixar de reparar. Costuma vir aqui todos os dias, não é?– Sim, gosto de sair do trabalho e...
17/07/2025

– Desculpe, menina, não pude deixar de reparar. Costuma vir aqui todos os dias, não é?

– Sim, gosto de sair do trabalho e reservar um momento só para mim antes de ir para casa e regressar à rotina.

– E gosta muito de ler…

– … é a melhor maneira de sonhar acordada, com romances.

– Desculpe que me intrometa, mas a menina é tão bonita. Espero que, um dia, tenha o seu romance. Boas leituras e até outro dia.

– Oh… obrigada! – Violetta sentiu-se a corar e não conseguiu dizer mais nada.

Violetta ficou sem reacção. Não pela interrupção dos seus sonhos literários, mas por ter sido vista, notada. Estava habituada a ficar invisível naquele banco, com os seus livros, dia após dia. E, quando começou a cair em si, percebeu que não só não esperava ser abordada, como por um homem, aquele homem.

Há meses que tinha desistido das aplicações de encontros. A última vez que tinha tido sorte durara tão pouco que a deixou desiludida com este método para conhecer outrém. E foi quando menos esperou que um homem bonito, com boa energia e simpático, a abordou, sem sequer ter dito o seu nome ou perguntado o dela. Um diálogo curto e que a fez sonhar o resto da noite: «Será que o verei novamente?» «Será que era mesmo um homem ou o Matteo saltou do meu livro para a realidade?» Violetta tinha tendência a sonhar acordada com os parágrafos que tinha acabado de ler, querendo fazer parte destes romances.

– Olá, como está? Ontem, não lhe disse, não quis parecer-me intrometido. Há já algum tempo que reparo em si, na sua serenidade no meio do caos citadino. Demorei para meter conversa consigo, mas não conseguia esperar mais e enchi-me de coragem…

– Mas… mas… eu meto medo, para precisar de coragem? – Violetta parecia algo intrigada e ofendida.

– Muito pelo contrário! A sua tranquilidade é tão bonita que é preciso coragem para a interromper. Desculpe, não me apresentei: chamo-me Bruno e também passo por aqui todos os dias.

– Olá! Sou a Violetta. Obrigada pelos seus elogios de ontem e hoje. Não sei como consigo, mas o facto é que, se não tiver este momento para mim e para os meus sonhos, sinto que a realidade da vida quotidiana me trará agruras. Ler sempre me ajudou a manter o brilho nos olhos.

– E que olhos…

– Diga?

– Desculpe… – Bruno corou e Violetta soltou um sorriso tímido – tem um sorriso tão bonito quanto o seu olhar. Posso convidá-la para um café?

– Pode, sim. – Violetta não sabia se estava mesmo a viver aquele momento ou se seria mais um dos seus sonhos acordada.

O café prolongou-se para jantar e, no final da noite, já se tratavam por «tu» e tinham trocado números de telemóvel e redes sociais. As primeiras mensagens chegaram ao amanhecer do dia seguinte. Combinaram voltar a encontrar-se ao final do dia, mas na condição de Bruno levar um livro e permitir-se sentir a tranquilidade que Violetta sentia e de que ele tanto gostou.

– E o teu livro?

– Não trouxe nenhum… Olhei para a minha estante e reparei que não tenho quase nenhum romance. São quase todos livros técnicos, desde os tempos da faculdade. Sabes?

– Entendo. Então, é a minha vez de te pedir desculpa pela intromissão. Pensei em emprestar-te este. Espero que gostes.

– «Olhai os Lírios do Campo»? Não conheço.

– É um bonito romance para te estreares no género. – Violetta sentia-se muito orgulhosa de si mesma, de conhecer bem os seus romances favoritos e sentir-se confiante para os recomendar. – Vais gostar. Confia em mim.

– Obrigada. – Bruno corava – Vou confiar. – Deu-lhe um beijo no rosto e confirmou o que tanto o atraía em Violetta: a sua beleza natural, o seu brilho.

Os encontros passaram a ser quase diários. Depois de uma hora de leitura, sentados no banco, seguia-se outra hora de conversa e comentários sobre o que liam e o que poderiam sugerir um ao outro. Violetta sentia-se cada vez mais à vontade, com menos inseguranças e medos. Chegava a casa feliz. Contava o seu dia às suas gatinhas, Mimi e Musetta. Não queria sonhar demais, mas não resistia. Estava a viver momentos parecidos com aqueles sobre os quais lia e imaginava. Bruno parecia-lhe ser um bom homem: bonito, simpático, inteligente, conversador. Se não acontecesse nada de romântico, sabia que, pelo menos, um novo bom amigo teria. Mas quem é que ela queria enganar? Claro que ela sonhava com os momentos românticos. Não era por acaso que lhe sugeria e emprestava os seus romances preferidos, dos seus autores preferidos.

Às leituras diárias juntaram-se os passeios aos domingos, por onde lhes apetecesse. Violetta mal podia esperar por voltar a encontrar Bruno. Ainda assim, retraía-se: não queria magoar-se novamente, não queria dar e não ser retribuída, muito embora permitisse que ele tivesse gestos ternurentos para consigo. Mãos dadas, beijos no rosto, abraços quando o tempo começou a esfriar.

– Violetta, faz hoje um mês que meti conversa contigo pela primeira vez!

– Não tinha dado conta… – Violetta ria-se timidamente.

– Não sabes mentir. Sabes melhor que eu. Hoje, posso eu sugerir-te um livro?

– Já conheces mais romances?

– Conheço. Tenho sido bem ensinado.

– Diz-me… – Violetta sentia-se lisonjeada e estava ansiosa por saber que livro receberia. – «Para Sempre Teu»?

– Acho que o título diz tudo, não achas? – Bruno nunca se sentira corar tanto quanto hoje. Aos 35 anos, sentia-se apaixonado e percebera a linguagem de amor de Violetta. Queria retribuir tudo o que já tinha recebido dela.

– Aceito! – Violetta sentiu-se a sorrir como nunca. – Aceito que sejas meu para sempre. – Bruno segurou-lhe ternamente no rosto e beijou-a. Sentiam ambos os frémitos de um amor adolescente, com a maturidade que os 35 traziam.

A rotina bonita e tranquila de lerem juntos, no banco do café, instalou-se. Violetta continuava a sentir-se bem com a sua solidão, embora agora estivesse acompanhada. Continuava a sonhar e a mergulhar nos seus livros como sempre fizera. Sentia que compreendia, cada vez melhor, as personagens das suas histórias e que já não precisava de as invejar. Vivia, agora, o seu romance com Bruno. E tudo graças aos livros, àquele banco e aos seus sonhos.

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