
14/10/2025
Adoro escrever cartas de amor e, com o passar do tempo, tenho aprendido a gostar de as escrever sobretudo para mim. Esta será mais uma delas. Uma carta de regresso e de como é bom regressar à Inês de 14 ou 15 anos, já com 36.
Já vos falei da minha primeira viagem sozinha, a Roma, e de como foi uma aventura tão gratif**ante. O que não vos contei, no meu relato, foi o facto de que, apesar de ter sido uma ida, para mim tornou-se um regresso. Um regresso a mim mesma.
Sempre tive a ideia de que as viagens a sós eram de redescoberta, reencontro, ou só de encontro para quem não se conhece verdadeiramente. Acreditei nisto, sobretudo depois de «Comer, Orar, Amar» se ter tornado um dos meus filmes preferidos – e um livro igualmente bom e inspirador. Admirei a coragem, a resiliência e a força da escritora e, à minha maneira, segui o seu exemplo. Atirei-me de cabeça para Roma e fiz só o que quis. Não foi uma viagem cultural. Foi uma viagem de regresso, de reencontro, de paz e de amor, por mim e para mim.
Pela primeira vez, fiz tudo o que quis e me apeteceu, fiz tudo o que senti que me faria bem e validei todas as minhas emoções. Importei-me comigo mesma. Valorizei-me. Priorizei-me.
Longe de tudo e de todos, consegui olhar melhor para mim, para voltar a entrar no caminho de «quem é a Inês» e entender que sou mais, muito mais do que aquilo que vejo todos os dias ao espelho. Sou feita de cores, sabores, cheiros, séries, filmes, livros, crónicas e diários. Sou feita de cada passo que dou em qualquer direção — basta que decida ir.
Lembrei-me todos os dias de que «é preciso sair da ilha para ver a ilha», e foi mesmo preciso estar longe fisicamente para me ver, para me olhar ao espelho e ver não só as curvas, como também um coração gigante, uns olhos brilhantes e fogosos, força, inteligência, curiosidade e criatividade.
Foi em Roma que me reencontrei com a Inês de há 20 anos, antes de começar a esconder a minha essência atrás da máscara que criei e alimentei todo este tempo. Uma Inês que, ao chegar à adolescência, teve de se proteger do bullying e de todas as coisas que pensou que poderiam ser maldades — mas não eram —, criando um manto invisível para não ser vista, manto esse que se esticou para fora da escola e tem durado tantos anos.
Agora, o que reencontro é uma Inês que, muito embora pense duas vezes antes de falar e agir, também apercebe como é bom, às vezes, fazer e dizer sem pensar, perder medos e inseguranças. «Quem tem boca vai a Roma» — e eu fui! Abri a boca, soltei o meu melhor italiano e ainda fui elogiada pelo meu sotaque. Reencontrei uma Inês que acredita em si mesma e nas suas capacidades. É que eu consigo ser a minha maior inimiga — acho que já todas passámos por isto, não é? —, mas tenho de querer, dever e gostar de ser a minha maior e melhor amiga e, por isso, regresso um pouco mais a mim em cada sessão de psicoterapia que faço e nos dias seguintes, quando penso no que falei, no que ouvi, no que aprendi. Assim como quando estou nas minhas aulas de Astrologia, há sempre mais para aprender sobre mim, sobre quem sou e quero ser, sobre o que quero e quem quero afastar e aproximar, sobre — como diz o meu professor — a minha centelha divina.
Regresso a mim sempre que faço algo de que gosto genuinamente, sempre que descubro mais alguma coisa de que gosto ou não, sempre que descubro um novo restaurante com os meus amigos e posso dizer «gostei» ou «não repetia». Também tenho estas percepções quando escrevo. Regresso à minha essência quando encosto os dedos ao teclado e a caneta ao papel — crónicas, desafios, ideias, apontamentos, no meu diário, you name it! Sempre que escrevo focada em mim — quase sempre, portanto — sei que vou regressar a cantinhos que deixei no escuro e divirto-me imenso a dar-lhes luz novamente, como se tirasse os lençóis da mobília e abrisse janelas de par em par.
E, ao primeiro raio de sol, ter a noção de «caramba, miúda! És uma mulher incrível! Onde é que andaste?» é avassalador! E eu decido se é avassalador de bom ou mau. Tenho escolhido o bom. Tenho escolhido libertar-me do manto invisível, dos julgamentos, das falsas crenças. No fundo, tenho escolhido libertar-me do que me pesa e atrasa a caminhada bonita que é a minha vida.
Muito embora «regresso» possa implicar andar para trás, não tem de ser. O que tenho sentido neste meu regresso é uma melhoria, um crescimento da Inês que ficou guardada e protegida do mundo, para agora se mostrar bem melhor e mais forte, mais preparada — espero eu! — para toda e qualquer aventura do dia a dia.
Regressar, para mim, implica sempre transformações, lembrar-me de como era antes, se gostava do que era, de quem era, o que quero recuperar, onde quero voltar.
E tenho uma certeza gigante: quero voltar a Roma.
Não só por mim, mas pela cidade.
— Inês Biu Faro
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