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❤️ De emoções à flor-da-pele
✍🏻 Porque escrever é terapêutico

Adoro escrever cartas de amor e, com o passar do tempo, tenho aprendido a gostar de as escrever sobretudo para mim. Esta...
14/10/2025

Adoro escrever cartas de amor e, com o passar do tempo, tenho aprendido a gostar de as escrever sobretudo para mim. Esta será mais uma delas. Uma carta de regresso e de como é bom regressar à Inês de 14 ou 15 anos, já com 36.

Já vos falei da minha primeira viagem sozinha, a Roma, e de como foi uma aventura tão gratif**ante. O que não vos contei, no meu relato, foi o facto de que, apesar de ter sido uma ida, para mim tornou-se um regresso. Um regresso a mim mesma.

Sempre tive a ideia de que as viagens a sós eram de redescoberta, reencontro, ou só de encontro para quem não se conhece verdadeiramente. Acreditei nisto, sobretudo depois de «Comer, Orar, Amar» se ter tornado um dos meus filmes preferidos – e um livro igualmente bom e inspirador. Admirei a coragem, a resiliência e a força da escritora e, à minha maneira, segui o seu exemplo. Atirei-me de cabeça para Roma e fiz só o que quis. Não foi uma viagem cultural. Foi uma viagem de regresso, de reencontro, de paz e de amor, por mim e para mim.

Pela primeira vez, fiz tudo o que quis e me apeteceu, fiz tudo o que senti que me faria bem e validei todas as minhas emoções. Importei-me comigo mesma. Valorizei-me. Priorizei-me.

Longe de tudo e de todos, consegui olhar melhor para mim, para voltar a entrar no caminho de «quem é a Inês» e entender que sou mais, muito mais do que aquilo que vejo todos os dias ao espelho. Sou feita de cores, sabores, cheiros, séries, filmes, livros, crónicas e diários. Sou feita de cada passo que dou em qualquer direção — basta que decida ir.

Lembrei-me todos os dias de que «é preciso sair da ilha para ver a ilha», e foi mesmo preciso estar longe fisicamente para me ver, para me olhar ao espelho e ver não só as curvas, como também um coração gigante, uns olhos brilhantes e fogosos, força, inteligência, curiosidade e criatividade.

Foi em Roma que me reencontrei com a Inês de há 20 anos, antes de começar a esconder a minha essência atrás da máscara que criei e alimentei todo este tempo. Uma Inês que, ao chegar à adolescência, teve de se proteger do bullying e de todas as coisas que pensou que poderiam ser maldades — mas não eram —, criando um manto invisível para não ser vista, manto esse que se esticou para fora da escola e tem durado tantos anos.

Agora, o que reencontro é uma Inês que, muito embora pense duas vezes antes de falar e agir, também apercebe como é bom, às vezes, fazer e dizer sem pensar, perder medos e inseguranças. «Quem tem boca vai a Roma» — e eu fui! Abri a boca, soltei o meu melhor italiano e ainda fui elogiada pelo meu sotaque. Reencontrei uma Inês que acredita em si mesma e nas suas capacidades. É que eu consigo ser a minha maior inimiga — acho que já todas passámos por isto, não é? —, mas tenho de querer, dever e gostar de ser a minha maior e melhor amiga e, por isso, regresso um pouco mais a mim em cada sessão de psicoterapia que faço e nos dias seguintes, quando penso no que falei, no que ouvi, no que aprendi. Assim como quando estou nas minhas aulas de Astrologia, há sempre mais para aprender sobre mim, sobre quem sou e quero ser, sobre o que quero e quem quero afastar e aproximar, sobre — como diz o meu professor — a minha centelha divina.

Regresso a mim sempre que faço algo de que gosto genuinamente, sempre que descubro mais alguma coisa de que gosto ou não, sempre que descubro um novo restaurante com os meus amigos e posso dizer «gostei» ou «não repetia». Também tenho estas percepções quando escrevo. Regresso à minha essência quando encosto os dedos ao teclado e a caneta ao papel — crónicas, desafios, ideias, apontamentos, no meu diário, you name it! Sempre que escrevo focada em mim — quase sempre, portanto — sei que vou regressar a cantinhos que deixei no escuro e divirto-me imenso a dar-lhes luz novamente, como se tirasse os lençóis da mobília e abrisse janelas de par em par.

E, ao primeiro raio de sol, ter a noção de «caramba, miúda! És uma mulher incrível! Onde é que andaste?» é avassalador! E eu decido se é avassalador de bom ou mau. Tenho escolhido o bom. Tenho escolhido libertar-me do manto invisível, dos julgamentos, das falsas crenças. No fundo, tenho escolhido libertar-me do que me pesa e atrasa a caminhada bonita que é a minha vida.

Muito embora «regresso» possa implicar andar para trás, não tem de ser. O que tenho sentido neste meu regresso é uma melhoria, um crescimento da Inês que ficou guardada e protegida do mundo, para agora se mostrar bem melhor e mais forte, mais preparada — espero eu! — para toda e qualquer aventura do dia a dia.

Regressar, para mim, implica sempre transformações, lembrar-me de como era antes, se gostava do que era, de quem era, o que quero recuperar, onde quero voltar.

E tenho uma certeza gigante: quero voltar a Roma.

Não só por mim, mas pela cidade.

— Inês Biu Faro

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Escolho as cores de cada linha, cada tom, cada contraste, cada pequeno pormenor. Perco-me a encontrar a luz perfeita par...
13/10/2025

Escolho as cores de cada linha, cada tom, cada contraste, cada pequeno pormenor. Perco-me a encontrar a luz perfeita para o momento e não há mais nada à volta: vou iniciar mais uma peça artesanal, daquelas que tanto gosto de fazer – um artigo personalizado para um bebé.

Será um bordado, cheio de cor e amor? Um babete que vai encantar quem o vir colocado naquele bebé ou uma fraldinha de pano com uma pequena frase. Talvez uma toalha de banho para aquela rotina que passa a ser especial ou uma mantinha para cobrir o ovo. Quem sabe, uma almofada para decorar a cama ou um quadro com os dados de nascimento, como lembrete do inicio da aventura mais deliciosa da vida, que f**a eternizado ali, na parede.

Será um bonequinho em crochê? Um peluche para acompanhar sempre o bebé ou um polvinho para f**ar do lado dele desde o nascimento. Um mobile para o berço ou um quadro decorativo. Um doudou para adormecer o bebé ou um pormenor lá do quartinho. Talvez o nome para pendurar no berço ou na parede. Ou um simples porta-chaves para os papás ou os avós.

Escolho por onde vou começar: a primeira cor, os primeiros pontos. Preparo a linha, a agulha e a magia começa. O amor que carrego em mim f**a em cada ponto e faz parte de cada peça terminada. Ali, sei que posso sempre amar mais, de uma forma boa. Como se cada ponto se refizesse dentro de mim, juntando os pequenos pedacinhos que teimam em autodestruir-se. Assim, me reconstruo, entre as linhas coloridas que me fazem acreditar e sonhar de novo, e de novo, a cada peça.

Umas vezes, são coisas mais simples – e eu aprendi a valorizá-las e a amá-las na mesma medida que as mais trabalhadas. Mas, confesso, apaixono-me sempre pelos trabalhos maiores, mais exigentes, com mais pormenores. Ocupam-me mais tempo, mas é tão gratif**ante chegar ao final! Esses são momentos em que tenho orgulho de mim mesma: quando tenho na minha frente o resultado final de um trabalho.

Às vezes, os pontos enlaçam-se e os fios teimam em desunir-se. Ou, por algum lapso de atenção, cansaço ou um piscar de olhos, um ponto f**a no sítio errado. É irritante! Tenho de parar, perceber onde está o problema e voltar atrás para corrigir. Na vida, é um pouco assim também. Por vezes, precisamos de parar para descobrir o que está errado, ou o que nos faz mal, para o podermos corrigir e voltar a f**ar bem. Talvez precise de bordar a minha vida com o mesmo cuidado com que bordo cada pecinha preciosa. Talvez precise de acreditar mais em mim, como acredito em cada volta que dou na linha para completar o ponto necessário naquele momento.

O encanto está em chegar ao final, após cada ponto, sabendo que ali está amor: o de quem idealizou aquele tema, aquela peça e o meu, que lhe dei cor e vida para tornar realidade a ideia de alguém.

Houve um dia em que a palavra “entrelinhas” me fez um sentido gigantesco ao pensar nela, porque lhe encontrei um duplo sentido ou porque me encontrei nela.

“Entrelinhas” porque as adoro. Porque me cativa lê-las e descobri-las, à minha maneira. E porque me dá um gostinho especial escrevê-las.

“Entre linhas” porque é parte da realidade em que vivo. E, aqui, não são só as linhas dos meus cadernos – aqueles onde vou espalhando palavras… Mas, sim, as linhas com que as minhas mãos trabalham: os meus bordados, as minhas costuras, o meu crochê e os meus amigurumis.

Sabes porque gosto tanto de criar estas coisas para bebés? É que, desde que me lembro, sempre tive o desejo de ser mãe. Pudesse eu ter dezenas de filhos que era mesmo isso que faria! Como a vida não o permite… encontrei nas peças de bebé um refúgio que me acalma e que leva parte de mim para cada um daqueles bebés que usa aquilo que passou pelas minhas mãos.

É carinho, cuidado e amor, entre cada ponto. É sonho e desejo em cada cor. É orgulho e prazer em cada sorriso e elogio ao resultado final. E é tudo isso que me preenche, me faz continuar e me vai alimentando os sonhos e curando os desejos que foram f**ando perdidos no tempo.

E é aí, nas minhas mãos, que vive o meu talento (e a magia): entre as linhas e as palavras.

Sou amor. Sou uma artesã de palavras.

— Daniela Rodrigues

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Há dias em que tudo parece mais pesado, não é? Dias em que o simples ato de te levantares da cama já é uma vitória.A ver...
12/10/2025

Há dias em que tudo parece mais pesado, não é? Dias em que o simples ato de te levantares da cama já é uma vitória.

A verdade é que a depressão e a ansiedade podem chegar a qualquer momento, sem aviso prévio e sem motivo claro. Podem bater à tua porta mesmo quando tudo parece estar bem. E isso não quer dizer que te falte força ou vontade. Quer dizer apenas que és humano/a — e que também precisas de cuidado.

Durante muito tempo, falar sobre saúde mental foi quase um tabu. Escondia-se o que se sentia, por medo do julgamento. Quantas vezes já ouviste frases como «anima-te», «calma», «isso passa», «tens é de pensar positivo»?

Mas quem sente a dor da depressão sabe que não é assim tão simples. Não é falta de coragem. Não é preguiça, nem dramatismo. É uma doença séria, que dói, que consome, dilacera e que, infelizmente, pode mesmo tirar vidas.

Por isso, é tão importante olharmos para a saúde mental com respeito e empatia — e deixarmos de fingir que está tudo bem quando não está.

Cuidar da mente é um ato de amor. É dares-te tempo para parar, descansar, respirar e, se precisares, pedir ajuda. É aceitares que há dias bons e outros nem tanto. Que não tens de estar sempre no teu melhor. E está tudo bem.

Procurar um psicólogo, falar com alguém em quem confias ou, simplesmente, dizer «hoje não estou bem» — tudo isso conta. Tudo isso é coragem.

Neste mês, em que se celebra o Dia Mundial da Saúde Mental, quero lembrar-te de algo simples, mas mesmo essencial: tu não estás sozinho/a. A tua dor é real e verdadeira, o que sentes importa e há sempre um caminho, mesmo quando o mundo parece mais sombrio ou escuro.

E, se conheces alguém que está a passar por um momento difícil, oferece-lhe a tua escuta atenta, a tua presença. Às vezes, basta alguém que diga «estou aqui contigo».

A saúde mental merece ser cuidada todos os dias — com paciência, com gentileza e com amor. Porque a vida é mais bonita quando a mente encontra descanso.

E tu mereces essa paz.

— Sofia Pereira

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«Eu tenho de voltar àquela cidade! Eu tenho de voltar àquela cidade que assistiu à primeira golfada de ar com que enchi ...
11/10/2025

«Eu tenho de voltar àquela cidade! Eu tenho de voltar àquela cidade que assistiu à primeira golfada de ar com que enchi os meus pulmões, ao meu primeiro grito para a vida mascarado de choro, ao primeiro olhar embevecido da minha mãe para o seu novo rebento. Não sei quando, não sei como, mas tenho de voltar!» Foi este o primeiro pensamento a cruzar a minha mente naquela manhã.

Quis o destino – ou, melhor, a vida dos meus pais – que o meu primeiro olhar para o mundo, assim como os meus primeiros anos de vida, fossem vividos em França, numa cidade situada perto dos Alpes – Chambéry.

Apenas vivi lá os primeiros anos da minha vida. Com pouco mais de seis anos, fizemos o que muitos emigrantes decidem fazer e regressámos a Portugal. Aqui chegados, as bagagens foram pousadas na cidade da Covilhã. Curiosamente, a única semelhança que se poderia encontrar, entre as duas cidades – a francesa e a portuguesa –, era o facto de serem cidades encostadas aos pés de montanhas e, como tal, as visitas à neve serem algo mais ou menos recorrente. De resto, as duas cidades dos inícios dos anos 80 não poderiam ser mais diferentes. Aliás, o Portugal dos anos 80 em nada se parecia com a França daquela época. A velha ideia de que Portugal tinha um atraso de mais de 40 anos em relação a outros países da Europa não poderia ser mais verdadeira, pelo menos neste caso…

Contudo, ainda que o choque cultural fosse enorme, não poderei dizer que não gostei de Portugal e que não me tenha sentido em casa. Afinal, o meu sangue era português e este era o meu lugar. E, por estranho que pareça, ou porque, de facto, as crianças optam sempre por tirar o melhor partido daquilo que a vida lhes traz, rapidamente aceitei este país e a Covilhã como a minha nova casa e releguei para o esquecimento aquele país e aquela cidade.

Cresci e a vida foi decorrendo entre muitas vilas e cidades portuguesas. A minha profissão a isso me obrigou. Em todas deixei um pouco de mim e do meu coração. A todas tratei como «lares substitutos» da minha Covilhã. Em momento algum, até há pouco tempo, senti saudades daquela primeira casa, em França. Até ao dia em que, e sem nada que o fizesse prever, sonhei com Chambéry. Sonhei com a sua zona histórica, com as suas ruas pitorescas, a sua Place des Éléphants, o seu castelo… Passeava-me pelas ruas com uma sensação de leveza, como quem se sente a pairar. Sentei-me em esplanadas, deliciando-me com um éclair au chocolat. Observei os transeuntes não com o olhar de um visitante, mas com uma sensação de pertença àquelas ruas, àquelas velhas pedras.

Senti aquilo que pensei nunca sentir. Saí tão nova daquela cidade que nunca lhe senti a saudade. Sempre me considerei uma cidadã portuguesa, com todas as minhas recordações de infância criadas neste pequeno país que é o nosso Portugal. Sempre pensei que, porque todos os meus ascendentes eram portugueses, não fazia sentido, sequer, pensar que poderia, de alguma forma, sentir que aquela cidade também me pertencia um pouco. Acordei com uma sensação de paz, de quem tinha regressado de uma bela viagem. Afinal, aquele regresso só tinha acontecido num sonho de uma noite de outono.

Contudo, aquele sonho acordou em mim algo adormecido. Como se, entre os ecos do francês esquecido e o perfume imaginário dos croissants matinais, Chambéry me chamasse de volta — não com a urgência de um regresso físico, mas com a doçura de quem recorda um colo. Percebi, então, que o regresso não precisava de malas, nem de bilhete de avião. Bastava fechar os olhos.

Voltar, ainda que apenas em sonho, foi como regressar a um berço. Um berço feito de montanhas e memórias difusas, onde o tempo se suspende e o coração reconhece, sem precisar de provas, o lugar onde começou a bater. Chambéry deixou de ser apenas o cenário de um início longínquo: tornou-se parte daquilo que sou, daquilo que sempre fui, mesmo sem o saber.

Afinal, o regresso — ainda que apenas imaginário — foi um reencontro com as origens, um regresso a casa. Acordei com uma sensação de paz e com uma certeza: «Eu tenho de regressar àquela cidade.»

— Estefânia Barroso

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Quando parti, deixei no ar a possibilidade de voltar.Não fechei a porta em definitivo. Limitei-me a caminhar, deixando-a...
09/10/2025

Quando parti, deixei no ar a possibilidade de voltar.

Não fechei a porta em definitivo. Limitei-me a caminhar, deixando-a entreaberta para voltar, mesmo sabendo que não o pretendia fazer.

Não gosto de portas fechadas. Elas atraem a nossa curiosidade. Fazem com que, por vezes, voltemos atrás só para saber qual o caminho que nos aguardaria se a tivéssemos aberto e entrado.

A vida segue por caminhos, por vezes, inesperados. Na maioria das vezes, não se trata de uma escolha nossa. Seguimos a corrente consoante o que nos é oferecido.

Podemos escolher f**ar ou sair de um emprego. Raramente sabemos o que se segue, mesmo quando temos o futuro certo noutro lugar, porque tudo é novo e a surpresa faz parte da vida. Mas arriscamos, porque o futuro não pode ser a certeza confortável. O desconhecido traz a magia, na maioria das vezes.

Podemos terminar uma relação porque outra pessoa surge… Podemos, simplesmente, terminar a mesma relação porque ela já não nos traz um sorriso ao rosto.

Podemos tudo, na verdade.

A vida traz-nos as escolhas. Mas nós só as fazemos quando somos forçados por ela.

A maioria de nós gosta do conforto da rotina, da certeza, mesmo que isso signifique uma existência confortável, sem as emoções que nos tornam humanos.

Quantas pessoas conhecemos que vivem em piloto automático, com a certeza de que o dia de amanhã será similar ao de hoje? Pouco ou nada esperam, somente o continuar até ao fim do dia, sem a esperança de que algo mude.

Quando parti, fi-lo com a certeza de que precisava de vida. Precisava de ter sentimentos, mais do que os normais. Precisava de emoções. Precisava de saber que estava viva.

Viva!

Viva porque sentia, cada vez mais, que era um zombie a viver uma vida cheia de nada.

Nada, porque não amava, não sentia. Não sentia nada — tudo me era indiferente.

Sabem o que custa não sentir? Não perceber se ainda respirava. Não perceber…

Parti…

Parti para longe do mundo que criei e que me criou. Deixei tudo o que me era supérfluo.

Levei a família, os amigos comigo, porque me definem, mas deixei tudo o resto. Sem despedidas. Sem dramas. Só com a certeza de que não devia voltar.

Mas não fechei as portas. Não deitei fora a chave. E a porta voltou a abrir-se para mim…

Talvez tenha somente ido ver a vida fora da minha.

Talvez tenha deixado a vida que me dava vida e voltado.

Voltei porque nunca fechei a porta.

Porque nunca tranquei a porta e deitei a chave fora.

Porque nunca deixei de olhar para a porta entreaberta.

— Sónia Brandão

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Segue a emootiva e ativa as notif**ações ✨

Limites? Limites?? Li-mi-tes?!! Que é isso? Eu não sei o que é isso, não sei o que são limites. Eu cresci num convento! ...
08/10/2025

Limites? Limites?? Li-mi-tes?!! Que é isso? Eu não sei o que é isso, não sei o que são limites. Eu cresci num convento! (Ok, uma pequena pausa. O meu alter ego «Clarinha» entrou em cena. Num outro dia, falar-vos-ei sobre ela.) O que é isso de limites?

Ora bem, «limites» são aquelas linhas que eu deveria conhecer desde sempre e que só nos últimos anos é que me dei conta do que são, pelo menos, os meus.

Ao longo da vida, fui-me habituando a fazer tudo por todos e por todas as situações. Habituei-me, e mal – vejo-o agora –, a «varrer para debaixo do tapete» todas as minhas vontades, quereres, decisões e emoções, para agradar, para ser vista, para que notassem que eu existia. E, com isto, também habituei mal os outros. Habituei-os a poderem pedir tudo a qualquer hora, que eu iria largar tudo o que estava a fazer para os atender. Fosse quem fosse, deixei todos aqueles que me rodeiam muito mal habituados. E quem diz «pedir algo», também diz «esticar-se para com os meus limites sem eu dar conta, senão quando já é tarde demais».

E, afinal, quando é que reparei nestas linhas e comecei a traçá-las e a respeitá-las? Tornei-me uma «pessoa difícil, impossível, chata, egoísta» e todos os outros adjectivos que quem não entende que há limites costuma atribuir quando alguém os põe. Traçar as linhas de limite é menos complicado do que parece — pelo menos, assim tem sido para mim. Já respeitá-las? É outro bocado do percurso.

Não tenho propriamente uma noção cronológica, mas acredito que tenha começado a impor os meus limites quando comecei a respeitar as minhas pausas, as minhas horas de almoço e, sobretudo, a minha organização de tarefas diárias. Assim como quando comecei as aulas do mestrado e precisei de me organizar ainda melhor. Mais do que isso, precisei de me respeitar, de respeitar o meu cansaço, o meu foco – e a falta dele – e pensar bem quanto tempo demoraria cada tarefa para gerir o emprego, sair a horas para as aulas, os trabalhos, a vida pessoal, a vida artística, tudo!

E, não menos importante, quando comecei a impor limites quanto ao meu espaço pessoal, dentro e fora de casa. Quando pedi respeito pelo meu quarto e pelas minhas coisas em casa — sobretudo, quando estou.

Quando comecei a impor os meus limites, foi tudo mudando. Para mim, para muito melhor. Para os outros? Não sei, não tenho de lidar com as suas frustrações. Aprendi a respeitar o meu desconforto e a sair de situações que me deixavam nesse estado, assim como a afastar-me de pessoas que também só se lembravam de mim quando precisavam de uma «solucionadora» ou de quem fizesse tudo sem questionar.

A par com o «não» sem culpas, também veio a ausência de justif**ação. Eu nem a mim mesma justifico as decisões que tomo – só às vezes, vá, tenho de ser honesta! – quanto mais aos outros! Partindo da ideia de que não preciso de justif**ar à entidade patronal o que faço nas minhas folgas, também não o faço com ninguém no resto da minha vida – ou, pelo menos, é essa lição que tenho estado a tentar aprender e, acreditem, é possível, estou muito melhor.

A minha psicóloga ensinou-me um jogo muito fácil e lembra-mo muitas vezes: desenhámos círculos no chão e, conforme eu me sentia desconfortável com a sua presença perto de mim, mudava de círculo, até cair num deles muito pequeno e muito mais desconfortável do que qualquer outro ou mudar. E, então, aprendi que não posso estar sempre a mudar de sítio ou a diminuir-me para caber nas expectativas dos outros ou nos espaços que me dão. Precisamente por serem «dos outros», não tenho culpa que esperassem algo de mim e não tiveram. O que aprendi, também, é que se desenho um círculo de 360º, não posso diminuí-lo para que tu caibas, não! É o meu espaço. São as minhas vontades, escolhas e decisões. Sou eu que dito as minhas próprias regras, e a isso também chamamos de «limites».

Tenho aprendido a não fazer por ti, se para mim for mau. Se me deixar mal, não vou mexer-me. Por mais criativa que seja, não me adianta pensar em ‘n’ soluções para resolver ou fazer um favor, se, logo de início, é algo que não vai deixar-me bem comigo mesma.

E, ainda, a dar prioridade a tudo o que é relativo a mim. Posso até ter um dia inteiro livre; se eu quiser descansar, em vez de andar a fazer recados, é uma escolha minha. Eu não quero sentir-me obrigada a estar em sítios onde não quero estar, ou a ver pessoas com as quais não empatizo – honestamente, já me chega ter todo esse tipo de situações no trabalho.

Impor limites, dizer «não», não justif**ar as minhas escolhas e ações, tem sido uma grande aprendizagem, simplesmente porque eu desconhecia tudo isto, porque, ao longo da minha educação, eu é que tinha de respeitar os limites dos outros e não podia ter os meus. Estranho, não é? Fazer pelos outros e não fazer por mim.

Então, mas sou a Cinderella? Abdicava de mim constantemente e sem me dar conta. Imaginem, até, pensar «será que gosto mesmo de comer isto, ou gosto porque X também gosta e quero muito ser amiga dela/e?» Ou até duvidar das minhas capacidades: «será que sou mesmo boa nisto ou é só porque não sou capaz de fazer mais nada?». É que, ao não colocar limites, estava a passar aos outros a mensagem de «estou sempre disponível, eu não importo, tu é que importas» – tudo errado nisto! Não estou sempre disponível e eu importo! Eu gosto de passar horas sem fazer nada, a olhar para as paredes e a organizar as ideias, ir para um jardim sentir o vento e não pensar em horas, perder-me entre frases e escrever crónicas sem fim.

Eu gosto de escrever e não ser interrompida. Eu gosto de ler e sentir-me de tal maneira focada que mergulho nas histórias. Gosto de comer sem culpas. Gosto de experimentar novos restaurantes. Gosto de entender o que me irrita, de perceber de onde vem esse sentimento mau e como posso eliminá-lo. Gosto de aprender mais sobre mim, doa mais ou doa menos. Estou a fazer por me consertar e ser cada vez melhor para mim.

E se, neste caminho da imposição de limites e de ser melhor para mim, acabar por afastar pessoas, não me importo. Também pode doer, é certo, mas já não me importo. É porque, na verdade, essas pessoas já não faziam nada perto de mim e só o faziam por interesse.

Se é para ser notada, que seja pela mulher incrível e inteligente que sou — não por fazer tudo por todos e em todas as situações.

— Inês Biu Faro

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Voltei para casa, mas não lhes disse.Talvez nem devesse chamar-lhe de casa, porque não é a mesma de sempre – aquela onde...
07/10/2025

Voltei para casa, mas não lhes disse.

Talvez nem devesse chamar-lhe de casa, porque não é a mesma de sempre – aquela onde cresci –, mas é a que será daqui para a frente, por tempo indeterminado.

Não fui à casa deles. Na verdade, nem sabem que estou aqui na terra. Decidi aproveitar o dia para passar nos recantos que fizeram parte da minha infância, aqueles sítios que conhecia tão bem e onde f**aram tantas recordações. Houve momentos em que pensei que já não reconheceria o caminho — afinal, passaram-se tantos anos desde a última vez. Mas, na verdade, foi como se tivesse sido ontem, como se tivesse percorrido aquele caminho em cada dia que estive fora.

Passaram mais de 10 anos.

Olho para o que está à minha frente, naquele sítio que posso jurar que era o mesmo onde eu vinha quando era pequena, onde havia uma casa em ruínas, cujas pedras eu adorava riscar; onde apanhei figos secos com a avó, do lado da pequena fonte; onde descobri umas flores selvagens brancas, pequenininhas e, do alto da minha inocência infantil, disse que, quando casasse, queria que o meu bouquet tivesse aquelas mesmas florzinhas.

Não há nada. Nada!

Já não existe aquela ruína onde me escondia e brincava e criava histórias sozinha. Já não existe aquela fonte nem a figueira ao seu lado. Já não existe aquele pedaço de terra descampado, liso, onde encontrava as pequenas flores que adorava. Já não existem as vinhas que, poucas vezes, percorri. Está tudo diferente. Como pude ser tão ingénua ao pensar que estaria igual?

Aquele sítio já não era meu. Não fazia sequer sentido que uma pequena parte dele tivesse sido conservada. Os novos proprietários não têm as mesmas memórias que eu tenho e nunca tiveram as mesmas histórias para contar. Nunca vão saber o quanto eu amava a vinha velha e os esconderijos ou cada caminho de terra que se inventava ali para chegar a qualquer lado.

Os novos donos nunca saberão que, ali, mais abaixo, atravessei outro terreno para ir molhar os pés ao rio Douro pela primeira vez.

Os novos donos nunca vão saber que, um dia, em criança, vim com os meus pais fazer os trabalhos que eram necessários (ou melhor, os meus pais foram trabalhar e eu fui brincar, como era habitual) e, quando era hora de irmos embora, encontrámos fogo pelo caminho e passámos pela estrada de terra batida entre as chamas; que ainda não havia ali bombeiros e que eu temi perder aquele pedaço de terra que chamava de meu.

Os novos proprietários já o são há mais de duas décadas.

Eu é que nunca mais tinha voltado aqui.

Não me traziam cá.

Hoje entendo que talvez soubessem que me ia magoar, chegar aqui e não ver nada do que conheci.

Desculpa, avó.

Não me deixaram manter este sítio teu (e meu) tal como era quando o conheci, tal como era antes de ires.

Ninguém me ouviu quando eu disse o que me mostraste.

Eu era apenas uma criança. Não tinha voz nem razão.

Perdemos as duas.

Talvez mais eu, porque não te tenho aqui.

Refiz o caminho de volta ao centro da aldeia. Era hora de passar por casa dos pais.

A caminho, encontrei na esplanada do café aquele que foi um amor do passado.

Lembro-me que, cada vez que o via, as minhas pernas tremiam e o sorriso aparecia.

Não enganava ninguém!

Mas enganei-me com ele.

Nunca teve coragem ou ousadia.

Prendeu-me nas meias palavras e nas promessas que não o eram.

Lembro-me do dia que lhe disse «amo-te».

Foi apenas uma vez.

E vem, de rompante, a resposta mais fria de todos os tempos: «amanhã falamos».

Um amanhã que nunca existiu.

Hoje sei porquê.

Lembro-me de ele ter dito, da boca para fora, algo sobre «daqui a 10 anos» e, o mais engraçado da vida, é que a vida levou esse exato tempo a desbloquear, chamemos-lhe assim.

Como se houvesse volta a dar pelo caminho e o que foi feito para magoar pudesse reiniciar.

Não mudou.

Ou melhor, mudei eu.

Passo pela esplanada e não há nada ali: nem as pernas bambas, nem o sorriso, nem o coração a saltitar como se quisesse sair do peito.

Estou curada de ti.

Tenho essa certeza desde que o teu prazo terminou e, agora mesmo, pude comprová-la.

Toco à campainha.

A mãe vem à varanda, como é habitual.

Vê-me, faz uma festa e desce para abrir a porta.

Abraça-me e eu sei que ali tudo é frio e fingimento.

Coloco a minha máscara feliz.

Passei o resto da tarde com ela e com o pai.

Jantei com eles.

Perguntei por várias pessoas.

Disse-lhes que estava só de passagem, por causa do trabalho, e tinha de seguir viagem, mas não podia deixar de fazer a paragem na casa deles.

Saí.

Entrei no carro e fui até à minha nova casa.

Esta era mesmo minha.

Não havia fingimento nem aparências aqui.

Voltei à terra onde cresci.

Comprei uma casa aqui.

É hora de fazer as pazes com este sítio, abraçar as mudanças e recomeçar.

Mas devagarinho.

Não sei se vou f**ar ou quanto tempo vou ser capaz de f**ar aqui.

Mas sei que, a partir de hoje, posso sempre voltar.

Mesmo vendo diferente tudo o que perdi.

Mesmo que o tempo tenha levado tudo o que conheci.

Mesmo que a vida me tenha tirado as pessoas importantes daqui.

Agora, tenho uma casa minha.

Aquela que nunca souberam que tinha sido eu a comprar.

Desculpa, avó, por ter perdido a tua quinta.

Mas consegui f**ar com a tua casa: aquele meu cantinho feliz das memórias boas.

Prometo mantê-la o mais fiel ao que me recordo, possível (incluindo a lareira aberta da cozinha, aquela parede especial, a clarabóia e o chão de madeira da sala de estar).

Um dia, haverá uma família grande aqui reunida à volta da mesa e crianças a brincar nos corredores, na varanda e no quintal, como era todos os anos no verão, quando ainda eras viva.

Mesmo que demore uma eternidade!

Prometo, por ti, por mim.

— Daniela Rodrigues

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