06/12/2025
No seguimento do artigo publicado no último impresso d’A Cabra, seguimos a viagem pela Imprensa de Coimbra, agora pelo século XX.
No virar do século, Coimbra continua a ser um verdadeiro ecossistema em papel: jornais políticos, médicos, literários, académicos, folhas de caixeiros, ferroviários e professores. À Porta da Républica, a cidade parece um parlamento tipográfico: democratas, republicanos, anarquistas, católicos e monárquicos disputam por um espaço em colunas.
Nas décadas seguintes, o ritmo abranda, mas o mapa alarga-se. Entram em cena boletins de museus e institutos científicos, revistas críticas e de literatura, jornais pedagógicos e títulos anarquistas. Nas faculdades, as polémicas universitárias fazem nascer folhas estudantis que fazem correr muita tinta. Pelo meio, o modernismo também marca presença ajudando a pensar a cidade no entre-guerras.
A partir dos anos 30, a imprensa cola-se ainda mais à Universidade. Disseminam-se as revistas científ**as de anatomia, farmacologia, climatologia ou hospitais, ao lado de jornais de bairro, publicações humorísticas, desportivas e de guerra. Em 1942 surge a Vértice, que se afirmará como um dos principais órgãos do neo-realismo português, juntando escritores e críticos ligados à resistência cultural ao Estado Novo.
Do Pós-guerra aos anos 60, Coimbra enche-se, literalmente, de papel. Surgem revistas de faculdades e laboratórios, boletins de paróquias, jornais de clubes desportivos e corais, publicações para emigrantes. A Imprensa da Queima das Fitas, ganha aqui um lugar especial: o jornal O Grelo, as revistas de finalistas, o pequeno jornal O Barbas, a Revista da Queima das Fitas, o número único Coimbra e a sua Padroeira e o jornal O Assalto ( do conselho de Repúblicas) transformam o jornal num verdadeiro ritual de passagem estudantil.
Entre o final dos anos 60 e 1985, a cidade entra na era da imprensa de intervenção e de proximidade. Reaparece O Badalo, ligado ao Conselho de Repúblicas e à efervescência estudantil dos anos 70. Nas prateleiras e nos quiosques acumulam-se revistas literárias, jornais de repúblicas, folhas sindicalistas, publicações de escuteiros, grupos de teatro universitário e cineclubes. Ao mesmo tempo, títulos como a Revista Crítica de Ciências Sociais e uma constelação de boletins de freguesia, hospitais e clubes culturais desenham uma Coimbra fragmentada, mas assumidamente plural.
É neste cenário saturado de vozes impressas que, a 27 de Fevereiro de 1985, se pendura nos quiosques mais um título: a Tribuna de Coimbra. Não nasce como primogénito, mas como o elo mais recente de uma cadeia iniciada em 1808. No século XX, a cidade aprende, de vez, a discutir-se em público através dos seus periódicos. A Tribuna mantém essa conversa acesa.