17/08/2025
ANTÓNIO FAEL FALECE AOS 70 ANOS
Não sabemos as circunstâncias, tão só que faleceu no dia 14 de Agosto de 2025, com apenas 70 anos. António Luís Fabião dos Santos Fael viveu vários anos da sua juventude nas Cortes (1962-início anos 70), filho do médico Dr. Santos Fael e de D. Maria Eunice Crespo Fabião, irmão da Dra. Ana Maria Fael e do João José Fael. Era natural dos Milagres, onde nasceu a 8 de Janeiro de 1955.
Com ele, e durante vários anos, percorremos várias elevações das serras de Aire e Candeeiros, explorando grutas, descendo algares, registando as muitas e variadas formações geológicas subterrâneas, no âmbito das actividades do NEL – Núcleo de Espeleologia de Leiria, fundado em 1985. Algumas dessas "aventuras" foram registadas por nós em apontamentos na imprensa regional.
Numa entrevista que lhe fizemos no “Jornal das Cortes” n.º 193, de Dezembro de 2003 (p. 16), escrevemos:
«Dificilmente se falará deste homem sem evocar como componente integrante da sua vida o espírito da descoberta e da aventura. “Viver a minha infância com os meus avós, nos Milagres, no meio da terra e dos bichos, foi fundamental para minha visão do mundo, nunca mais deixando de estar em contacto com a Natureza e com as suas realidades, permanentemente envolvido em actividades de ar livre, da espeleologia ao montanhismo.” E esta, parece-nos, é uma das sínteses que caracteriza de forma bem clara o nosso entrevistado deste mês, o Eng. António Luís Fabião dos Santos Fael, nosso amigo desde os bancos da escola e também companheiro de inúmeras aventuras.»
Explorou a Loca da Moura (Vale da Abadia, Cortes) e concluiu então que era uma pequena gruta sem continuidade. Mas sobretudo determinou a ligação dos circuitos de água subterrâneos entre a zona do Soutocico e as Fontes, quando, há uns anos largos, o rio Lis ficou poluído, a partir das Fontes, descobrindo-se que por causa de um enterramento de aves em massa de um aviário no Soutocico, cuja lixiviação provocou a entrada de poluentes no lençol freático. Também estabeleceu a ligação entre a lagoa de Minde e as nascentes do Lis, nas Fontes.
Para além de ter feito parte da equipa de râguebi do Liceu de Leiria, durante os três anos que a equipa existiu, no início dos anos 70, António Fael sempre teve apreço pelas provas ao ar livre, designadamente o todo-o-terreno. Não foi por acaso que teve sociedade numa empresa de bicicletas daquele tipo. E, desde o início, esteve mesmo por detrás da organização das provas do Campeonato Nacional de BTT realizadas em Portugal – o famoso BTTrilhos – nos anos 90, que tiveram o seu arranque em Porto de Mós, com a responsabilidade de organização do NEL. No âmbito de uma empresa de que foi sócio, a "Azimute 66", organizou também duas provas de BTT a contar para o Campeonato do Mundo, uma nos campos do Jamor, em Lisboa, e outra em Silves, no Algarve. E esteve ainda numa prova do campeonato da Europa de BTT, em Porto de Mós. Em qualquer destes casos, António Fael fez parte da estrutura organizativa, sendo responsável pela montagem e segurança dos percursos. Com idênticas funções integrou ainda, durante cinco anos, a organização do Raide Rota do Sol em Jipes TT.
Monitor Nacional do Inatel durante quatro anos para as actividades ao ar livre, António Fael aproveitou essa experiência para colaborar com uma empresa de Braga, a "Obstáculo", igualmente como monitor dessas actividades, concebendo e organizando percursos pedestres, actividades de orientação e multiactividades. Desta parceria resultou também o projecto anual de actividades "Quinzena Sonae", patrocinada por este grupo económico em prol dos seus funcionários, e que constava de actividades ao ar livre.
Sem esquecer a saga da travessia dos Himalaias em BTT, que começou a 15 de Agosto de 2003, com 12 aventureiros, dos quais sete em BTT e 5 a pé. António Fael, que tivera um acidente no período da preparação, não pôde fazer o percurso em BTT, pelo que o fez a pé, numa distância de 140 quilómetros, em pleno maciço Himalaio, durante uma semana, atingindo a máxima altitude de 5.600 mestros! “Um fascínio total” – confessou-nos. Esta viagem, que levou o nosso viajante até ao Tibete e à fronteira com a Caxemira, na Índia, nunca mais lhe esqueceu.
Enquanto Engenheiro Mecânico de formação académica, trabalhou connosco numa empresa na região de Porto de Mós, depois de o ter feito em várias outras (designadamente Agricortes e Movicortes). Acabou por se estabelecer por conta própria numa sociedade designada "Azimute 66", dedicada à importação e comércio de bicicletas todo-o-terreno americanas.
Tudo isso pode ser relido na referida entrevista. Ver também suplemento “Viver” do “Jornal de Leiria” n.º 1122 (Jan. 2006) sob o título “Pioneiros das profundezas”.
À esposa, aos filhos e aos irmãos deste querido amigo que vivia feliz num local paradisíaco da serra, na freguesia de São Bento (Porto de Mós), o voto comovido de condolências. Que o seu espírito permaneça em aventura!