
30/10/2023
Há vários tipos de queixinhas. Existem os queixinhas ocasionais, os queixinhas antissistema e os queixinhas obsessivos.
Os queixinhas ocasionais são os que menos chateiam. Aliás, por vontade deles não chateiam mesmo nada e apenas se lamentam quando algo não está realmente bem. Estas pessoas, apenas se lamuriam com quem têm confiança e não espalham as suas queixinhas pelo meio da rua, como se todo o mundo tivesse que adotar as suas dores e sofrer com eles. Falam com quem sabe que os está a ouvir. Desabafam só com familiares ou amigos próximos. Detestam expor as suas fragilidades em praça pública.
Já os queixinhas antissistema, reclamam contra tudo e contra todos. Estão contra o governo e contra os políticos, porque são todos uma corja de malandros e corruptos. Estão contra os patrões, porque estes apenas querem sugar o sangue e suor do trabalho dos trabalhadores e retirar o máximo lucro possível. Estão contra os colegas, porque nunca fazem nada bem e destroem o laborioso trabalho que eles produzem. Estão contra os maldizentes, no entanto, eles próprios, falam mal de toda a gente. Estão contra quem tem sucesso, porque nunca souberam o que isso era e se soubessem não saberiam usufruir dele, tal a ânsia em procurar o lado negro das coisas.
Finalmente, temos os queixinhas obsessivos. Estes, são os mais irritantes! Neste grupo de gente visceralmente insuportável inserem-se aquelas pessoas que seja qual for o assunto de conversa, eles/elas conseguem ver sempre o lado negro da vida. Não interessa qual é o tema, são sempre capazes de se queixar de alguma coisa. Se está calor devia estar frio, porque o ártico está a descongelar, se estiver frio devia aquecer um pouco porque essas baixas temperaturas evidenciam que o planeta está desregulado pelas alterações climáticas. Se não chover vamos todos morrer de seca mas quando chove é um problema por causa das cheias e das constipações. Quando no Verão deflagra um fogo a algumas centenas de quilómetros de casa, estamos a um passo de sermos todos consumidos pelas chamas. Quando as águas do mar sobem meio milímetro são capazes de clamar aos Deuses por misericórdia, pois um terrível tsunami estará iminente e seremos todos engolidos por um vagalhão de água gigante. Quando têm trabalho queixam-se mas se lhes falta trabalho a culpa é sempre de terceiros. Se acordam cedo lamentam-se que lhes faltam horas de sono mas se dormem até tarde queixam-se de não aproveitar o dia. Quando têm miúdos rogam pragas ao barulho e confusão que causam em casa mas quando eles saem e vão à sua vida choram baba e ranho e contam inúmeras fábulas nostálgicas dos tempos em que ainda viviam juntos. Chegam a queixar-se do amor… porque, naquelas cabecinhas, não entra qualquer ideia ou conceito de altruísmo, de entrega, de dar sem esperar nada em troca.
Para melhor vender o país aos turistas estrangeiros devia ser utilizado o seguinte slogan: Bem-vindos a Portugal! Aqui podem encontrar as mais belas praias, a melhor gastronomia e a maior concentração de queixinhas por metro quadrado!
Texto integrante no livro Extremismos, Tabus e Preconceitos.
Pré-Venda disponível ao autor por mensagem privada ou nas lojas digitais habituais.