05/11/2025
Há lugares que o tempo esquece devagar. A Ribeira Grande, em Fronteira, é um desses lugares onde o passado ainda respira. A água corre mansa entre as pedras, como se não tivesse pressa, como se soubesse que já viu demasiado para se apressar agora. À sua beira, está a velha Ponte Romana — cansada, ferida, mas ainda de pé, teimando em não desaparecer.
Durante séculos, foi caminho. Por ali passaram soldados romanos, viajantes, rebanhos, e talvez até sonhos. Hoje, passa apenas o vento e o som discreto da ribeira, que parece murmurar histórias que poucos ainda ouvem. As pedras da ponte estão gastas, partidas em alguns pontos, e há algo de triste nesse silêncio que a rodeia.
Mas há também uma beleza serena no abandono. Porque, mesmo esquecida, a ponte continua a cumprir o seu papel mais nobre: lembrar. Lembrar que ali houve vida, movimento, ligação. Que a força de uma obra não está apenas na pedra, mas na memória que carrega.
De vez em quando, alguém pára por ali — um curioso, um morador, um viajante — e olha para a ponte com um certo respeito. É como se o tempo ficasse suspenso por um instante, e todos percebessem que aquilo que parece perdido ainda pode renascer.
Talvez um dia a reconstruam. Talvez a Ribeira Grande volte a ver gente a atravessá-la, passos novos sobre pedras antigas. Até lá, ela espera — com a calma de quem já aprendeu que tudo o que é verdadeiramente importante resiste, mesmo quando parece esquecido.
Rui Campos Correia