13/11/2025
Houve um tempo em que o trabalho não se media em horas, mas em força.
Em que as mãos das mulheres eram o relógio do mundo — sempre em movimento, sempre a sustentar a vida.
Nas aldeias, nos campos, nos caminhos de terra, havia um ritual quase sagrado: o das mulheres que desciam aos poços para lavar a roupa da família.
Iam em grupo, equilibrando os cestos e os baldes, com os lenços amarrados à cabeça e os filhos pequenos a correr atrás. O poço era o ponto de encontro e o testemunho de uma época em que tudo era feito com as próprias mãos. Lá, ajoelhadas à beira da água, batiam a roupa contra as pedras, esfregavam com sabão e deixavam que o vento secasse o que a vida molhava.
Mas o que lavavam não era apenas tecido.
Naquelas águas frias, lavavam também o cansaço, o silêncio, as dores escondidas. Entre uma gargalhada e uma história contada, partilhavam confidências e desabafos que a sociedade não lhes permitia em voz alta. O poço era a sua sala de estar, o seu confessionário, o seu pequeno mundo de liberdade.
Muitas voltavam para casa ao entardecer, com as roupas limpas e o corpo exausto, mas com o espírito mais leve. Porque, de algum modo, sabiam que aquele esforço fazia parte de algo maior — o sustento da família, a dignidade, o amor em forma de trabalho.
Hoje, as máquinas fazem em minutos o que antes levava um dia inteiro.
Mas nenhuma máquina carrega o cheiro do sabão azul, o som das conversas entre mulheres, ou o reflexo do céu nas águas do poço.
Essas memórias ficaram gravadas não nas pedras, mas no coração do tempo.
E cada vez que uma mulher estende roupa ao sol, há um eco distante dessas outras mulheres — as que lavaram, sonharam e viveram com a força das mãos e a coragem da alma.