08/10/2025
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📌 A COMÉDIA OCULTA DE IDANHA
O luxo da vaidade e a ruína silenciosa do erário
Volume 4
Baseado na obra “A Comédia Humana” de Honoré de Balzac
O verão de 2025 em Idanha-a-Nova será lembrado não pelo calor dos campos, mas pelo calor do dinheiro público em chamas. Como nas grandes novelas balzaquianas, onde a aristocracia provincial se afunda em bailes e jantares para encobrir a ruína de seus cofres, também aqui o espetáculo se sobrepõe à substância
Enquanto o país ardia sob o calor implacável do sol, em Idanha-a-Nova os cofres municipais ardiam por outro motivo: o fogo lento e deliberado do desperdício público. Como se emulados da grandeza artificial das famílias provincianas de Balzac, os governantes de Idanha, encabeçados por Armindo Jacinto, erguem festas, quermesses e feiras como palcos de ostentação, tentando em vão disfarçar a ruína silenciosa do erário.
Nas mais recentes publicações de José de Alenquer, é evidente o paralelismo imediato com o “A Comédia Oculta de Idanha Volume 1 — Quando os fantasmas do poder dançam sobre o erário público”, onde os processos judiciais e indemnizações já haviam corroído a paciência do erário público. Aqui, o luxo, a vaidade e o descuido administrativo convergem numa comédia humana que é simultaneamente tragicómica e devastadora.
O leitor atento perceberá que, por toda a extensão do concelho, o mesmo padrão se repete: municípios que atingem o ápice do seu mandato ou exauriram o limite dos mandatos, celebram a si próprios com concertos de luxo, cachets astronómicos e contratos adjudicados por ajuste direto, enquanto a segurança dos cidadãos, a manutenção do património e a proteção da população vulnerável ficam esquecidas.
O exemplo de Oeiras, com Isaltino Morais pagando Mariza e Tony Carreira mais de 200.000€ em festas de verão, ecoa o mesmo espírito megalómano, mas Idanha impõe a sua própria marca de decadência: Feira Raiana, Festa de Penha Garcia, Feira Medieval Templária, todos eventos onde a vaidade do poder se sobrepõe à racionalidade e ao cuidado com a comunidade.
E, tal como nas grandes páginas de Balzac, onde o brilho das jóias e dos vestidos, oculta dívidas e humilhações, aqui o ouro das quermesses e dos prémios absurdos esconde a verdade de um concelho à beira da falência moral. O leitor verá, capítulo a capítulo, como o luxo, a ostentação e a improvisação se tornam sinónimos de ruína, e como cada festa, cada prémio e cada improviso é mais um ato desta comédia humana local, trágica e irónica ao mesmo tempo.
Em Idanha, como na Comédia Humana, a grandeza aparente não passa de cortina para a decadência, e o erário público paga o preço do espetáculo enquanto o poder, em vez de servir, dança sobre a miséria que ele próprio criou.
🟦 Capítulo I – O Teatro Nacional da Ostentação
O ano de 2025 ficou marcado, em Portugal, como um desfile de excessos e megalomanias autárquicas. Em municípios em fim de ciclo, ou em que os presidentes alcançaram o limite dos mandatos, a regra era clara: “Se é para gastar dinheiro, então gaste-se.” Festas, concertos e eventos de verão tornaram-se não instrumentos de cultura, mas palcos de vaidade política, com gastos que superaram largamente os valores de 2024.
Oeiras é paradigmático: Isaltino Morais, já condenado por fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, gastou mais 202.425€ em artistas como Tony Carreira, Mariza e Matias Damásio. Cada euro investido não buscava cultura, mas prestígio pessoal e aplauso público. De norte a sul do país, centenas de contratos entre 10.000€ e 20.000€, adjudicados por ajuste direto, demonstram um padrão nacional: a festa como forma de consolidar poder político, enquanto necessidades estruturais, prevenção de incêndios, aquisição de meios para bombeiros, manutenção de património municipal, eram esquecidas.
Idanha-a-Nova, com o seu histórico de gestão fragilizada, não ficou atrás. O luxo e a vaidade do executivo tornaram-se prioridade sobre a prudência, e o erário público passou a servir como financiamento de espetáculos e aplausos, mais do que como instrumento de serviço à população. Como nas grandes casas provincianas de Balzac, o brilho e a p***a escondem a ruína silenciosa que cresce por dentro.
🟦 Capítulo II – A Ilha da Fatura Raiana
A Feira Raiana de 2024 é o exemplo mais evidente desta lógica de gastos megalómanos. Quase 2 milhões de euros foram consumidos em artistas, ajustes diretos e promoções de conteúdos controversos, incluindo a apresentação de um livro infantil ideologicamente polémico apresentado com apoio institucional.
O processo de contratação foi realizado, na sua maioria, de forma pública, com valores disponíveis no portal Base, mas sem transparência ou explicações por parte do executivo. A oposição questionou os gastos, mas o silêncio foi absoluto, sinal de uma gestão que prefere o espetáculo à prestação de contas.
A ironia não podia ser maior: enquanto milhares de euros se dispersam em palco, contratos e cachets, problemas essenciais permanecem sem solução. Estradas, segurança, meios para bombeiros e proteção de idosos não recebem atenção. Balzac, se observasse este cenário, veria a mesma comédia humana: o luxo como máscara da incompetência, a ostentação como substituta da responsabilidade, e a fatura final paga por quem nada lucra com o espetáculo, o povo.
🟦 Capítulo III – Penha Garcia: O Último Suspiro do Rei Jacinto
O verão de 2025 trouxe a Festa de Penha Garcia, um verdadeiro exercício de vaidade e megalomania. Armindo Jacinto, acompanhado pela família, transformou o evento numa encenação real da sua própria glória. O filho, António Gaspar Moreira, subiu ao palco, discursando com vaidade, enumerando feitos do evento; a esposa e a filha geriram o bar e a venda de senhas, tornando o evento quase num negócio familiar.
Os prémios da quermesse ultrapassaram todos os limites do razoável: bicicleta elétrica, televisão LG, presunto, estadia num alojamento local, whirlpool bath, vouchers de refeições, cada prémio um símbolo de desperdício e irresponsabilidade fiscal, um atentado aos cofres já fragilizados.
Ao final da noite, Jacinto exausto sentou-se na mesa das senhas, visivelmente agastado, o último suspiro do Rei em decadência. Cada gesto familiar e cada ostentação do evento são metáforas literárias da decadência da aristocracia provinciana de Balzac: enquanto a p***a aumenta, a ruína cresce por dentro, e o poder demonstra incapacidade de gerir o essencial em prol do efémero.
🟦 Capítulo IV – Incidentes e Negligência
Enquanto a vaidade reinava em festas e quermesses, a realidade da população de Penha Garcia gritava por atenção.
Na missa dominical de 17 de agosto de 2025, sob temperaturas matinais próximas de 40ºC, uma idosa desfalecia e caía, ferindo-se na cabeça. A população local é envelhecida e vulnerável, e como é sabido, não existe ar condicionado na igreja, levantando a pergunta: será que faltava dinheiro ou vontade política para proteger cidadãos?
Dias depois, uma viatura ficou pendurada numa rampa, quase provocando acidente, evidenciando ausência de barreiras de proteção.
A nova malograda viatura Lexus de Jacinto, para além do polémico acidente que aconteceu dias depois de sair do stand, tem sofrido inúmeros acidentes menores, mas as facturas para pagar somam-se, enquanto uma carrinha municipal vagueia por Penha Garcia, conduzida pelo filho sem vínculo formal, transporta idosos e crianças, um verdadeiro descuido administrativo e legal.
Cada incidente, cada perigo evitável, reforça o contraste entre luxo, vaidade e descuido, mostrando que enquanto o espetáculo domina a atenção, o bem-estar e a segurança do povo ficam em segundo plano. Balzac teria reconhecido aqui a tragicomédia da ostentação sobre a negligência, o luxo sobre a necessidade.
🟦 Capítulo V – O Palco Medieval do Caos
A Feira Medieval Penha Garcia Templária 2025 representou o ato final do reinado de Jacinto. O autarca vestiu-se a rigor, sentou-se na “cadeira do Rei” em palco, mas o espetáculo desmoronou-se pela falta de organização e decisões tomadas em cima do joelho.
João Abrantes, dias antes do evento, circulava desnorteado com o seu cão de fila, simbolizando o caos nos bastidores. O tão aguardado “Assalto ao Castelo” falhou três vezes, obrigando “D. Ramiro” a improvisar durante uma hora para manter a atenção do público. Staff em desespero, público desapontado, tudo evitável, tudo resultado de uma gestão falhada.
O episódio é simbólico: a grandiosidade do palco e do figurino não consegue disfarçar o improviso e a ruína estrutural, e o ato final do Rei Jacinto revela que, enquanto o poder se ocupa do espetáculo, a decadência se consolida. Balzac teria apreciado a ironia: a máscara do rei caiu, e só ficou a comédia humana da vaidade e do caos.
💡 O Epílogo de uma Tragédia Anunciada
Como nos salões de Balzac, onde o ouro brilha e as dívidas crescem nas sombras, o reinado de Armindo Jacinto encerra-se em festa, vaidade e descuido.
O leitor percebe que o espetáculo foi encenado para ocultar o colapso do poder, mas o verdadeiro drama, o desperdício, o desleixo e a decadência moral, permanece evidente. Aqui, a Comédia Oculta de Idanha revela-se na sua forma mais pura: a grandeza do teatro humano, erguida sobre as ruínas da razão e do erário.
A ostentação das festas, quermesses e feiras tornaram-se o palco de uma vaidade que não protege, não educa, não salva. Os prémios absurdos, a família no palco, artistas contratados a preços exorbitantes, cada improviso do staff é uma prova de que o poder em Idanha se divorciou da responsabilidade e compõem o quadro de uma autarquia em ruína
Enquanto o Rei Jacinto se pavoneia na sua última encenação, a população paga o preço do delírio: idosos debilitados, infraestruturas negligenciadas, acidentes evitáveis e viaturas municipais mal geridas. O ouro brilha, mas a decadência é visível, um retrato irónico e cruel da comédia humana local.
E como em Balzac, a grandeza aparente não engana: tudo é espetáculo, tudo é máscara. Mas a verdade é que, por detrás do brilho das luzes e do glamour dos artistas, o concelho de Idanha-a-Nova enfrenta a ruína silenciosa de quem governa apenas para o aplauso e para a vaidade própria.
O leitor que atravessou estes capítulos entende que a comédia terminou, mas o desastre permanece, e que o último suspiro do Rei Jacinto é, afinal, o epílogo de uma tragédia anunciada.
🪶Artigo de Opinião de José de Alenquer