
25/07/2025
A obrigação de dar prendas
Não gosto de dar prendas nas datas "supostas" e "normais". Não gosto! Não gosto mesmo! É uma cena que me irrita fortemente: o stress de ter que pensar em algo que a outra pessoa gosta, só porque faz anos, porque é Páscoa, porque é Natal. Não gosto e luto contra isso!
Enerva-me ser obrigada a cumprir o protocolo, andar a correr, gastar dinheiro só para causar aquela sensação consumista/materialista (que dura 2 nano segundos) de "tenho uma prenda para ti", para dali a dois dias a pessoa já não saber quem lhe deu o quê.
Quem me conhece sabe disto e claro que nem sempre é bem visto, né? Imaginem chegar ao jantar de Natal de mãos a abanar. Ou a um aniversário dum amigo(a). Não é fixe, eu sei, mas é mais forte que eu. Se eu nadasse em dinheiro, lidava melhor com isto: comprava uma treta qualquer (que vai f**ar esquecido a um canto) e todos f**avam felizes. Odeio isso!
Sou o tipo de pessoa que gosto de dar, gosto mesmo! Mas gosto de dar "aquela" prenda pensada especif**amente para "aquela" pessoa. Gosto de personalizar. Gosto que a pessoa que recebe, olhe e pense: "caramba, isto é a minha cara e isto só podia vir da Ana". Adoro provocar esta sensação, adoro! Claro que isto dá muito mais trabalho que oferecer um vale da Fnac, claro! Mas a mim, dá-me prazer. Tenho todo o gosto em f**ar horas, HORAS, a preparar algo para alguém. E de preferência, algo marcante...
Há uns natais atrás, comprei na Ale Hop uma embalagem de guardanapos em formato de notas de 500€. Pensei nas pessoas a quem queria oferecer aquela brincadeira e na parte de trás de cada um, escrevi tudo o que me fazia lembrar e sentir aquela pessoa em particular. Em todos deixei uma mesma pergunta final: "preferias isto ou 500€?". Comprei envelopes e enviei para a morada de cada um. Sim, eu sou aquela pessoa que envia cartas aos amigos, via CTT. Escusado será dizer que a reação das várias pessoas foi simplesmente fantástica. Não só porque receberam no correio uma carta que não era uma conta para pagar, como pelo conteúdo personalizado de cada guardanapo.
Tanto para dar como para receber, eu gosto daquilo que não é esperado, gosto de ALMA nas coisas. Pode ser uma flor apanhada no momento, um guardanapo com uma mensagem, uma co**ha da praia, uma fotografia sem moldura, um porta-chaves fashion, um postal escrito à mão, sei lá.
Em tempos tive um namorado que só gostava de me oferecer coisas caras. Nem é preciso dizer que metade das prendas foram para trás. Se fossem caras mas fossem a "minha cara", eu teria aceite, mas não. Eram só caras e eu SÓ tinha de agradecer... Pois, só que não... "Se fodeu... "
Há uns tempos atrás, um dos meus sobrinhos fez anos. Esta foi a nossa conversa:
- Tia Ana, a minha prenda?
- Diz amor? - já de coração partido e com um nó na garganta
- A minha prenda, trouxeste?
- Amor, a tia não comprou prenda...
- Porque tia? Porque é que nunca compras?
Nisto aparece a Matilde, a irmã e minha sobrinha mais velha.
- Miguel, eu sei porquê.
Pronto, a miúda já fez queixas ao meu irmão e à minha cunhada e agora estou lixada. Juro que o meu coração parou, com receio do que vinha ali:
- A tia Ana nem sempre consegue encontrar a melhor prenda, não é tia?
- UAU Matilde! Sim meu amor...por outras palavras, é exatamente isso...
- Miguel, a tia Ana trouxe-me uma pulseira de Ibiza com o meu nome e eu nem fazia anos... - a minha sobrinha defensora.
E era aqui que queria chegar. Esta sou eu. Se amanhã vir algo que é a cara chapada de alguém, sou a primeira a gastar uma fortuna, se for preciso. Doutra forma, é muito complicado para mim dar só por dar, encher o quarto dos miúdos ainda com mais brinquedos que eles nem usam, comprar uma peça de roupa a alguém que eu nem sei bem o gosto... Não consigo...
Claro que, em alturas como o Natal, passo a vergonha de não levar prendas e de ainda por cima, os outros terem prendas para mim... Posso sempre oferecer um talão do Euromilhões, mas se não sai nada, faço má figura na mesma, ahahahahah!
PS: A nossa alma leva com ela momentos e memórias, só isso, apenas isso... ;)