27/10/2025
CHAMAVAM-LHE CALÇADO. E ERA UM RAFEIRO DO ALENTEJO
Mais do que ele, o que dava nas vistas era a sua enorme cabeçorra. Impunha respeito. Dela saíam uns olhos não se sabia se de ameaça se de ternura. E os sentimentos eram desencontrados que ora retraíam a mão para uma festa ora a elevavam para lhe afagar o pelo.
Era daqueles em que o lombo sobressaía no meio do rebanho, quando, com ele, caminhava como sua principal guarda e para todo o lado. Tinha a ponta das patas brancas como se calçasse soquetes e daí o nome de batismo.
Farejava mais ou menos longamente, de focinho no ar, perscrutando cheiros bafejados pela suave brisa ou vento mais açoitante, batendo vales e montanhas, arrastando vestígios de qualquer raposa, saca-rabos ou toirão. Doutras vezes, de focinho rente ao chão, caminhava lenta e pesadamente até o odor mais intenso lhe apressar o passo, pela denúncia da proximidade da presa.
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QUANDO terminei Ai Alentejo, memórias rurais, agora em 3.ª edição, também pela Editora Colibri, ficou a sensação de não ter dito tudo o que podia e devia, acabado de passar, daquela forma, à escrita. Acrescento por isso, agora, os 43 contos, ao longo dos quais evoquei e invoquei espaços, paisagens, pessoas dentro delas, pelo trabalho e demais socialidades, o lúdico formativo da difícil infância, a juventude não menos fácil, a presença dos animais nas vidas dos homens, e ainda a relação com as árvores e as plantas, estão na sequência pela qual me foram surgindo, à procura de contar o que me estava faltar, de acordo com o propósito atrás enunciado. Mas já na certeza de que muito f**a para narrar na longa saga de um povo...
(Abílio Amiguinho)
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