10/07/2025
«É um livro tão bonito quanto triste, sentimos vontade de resgatar aquele rapaz o tempo inteiro, enquanto torcemos para que consiga fazer diferente e para que a vida não o castigue tanto. Maravilhoso, maravilhoso.»
Em todos as livrarias, e aqui: https://penguinlivros.pt/loja/companhia-das-letras/livro/de-onde-eles-vem/
E pronto. Depois de os dois primeiros livros das férias terem sido assim meio nhé, sinto que Nossa Senhora da Literatura me compensou fazendo chegar até mim este “De onde eles vêm”, do Jeferson Tenório. Não sei se tem sido sorte ou uma boa curadoria mas, de facto, os autores brasileiros não me têm falhado. Peguei neste livro ontem de manhã e não descansei enquanto não lhe vi o fim. E vi. Porque sou obstinada/compulsiva e porque a história me prendeu logo nas primeiras linhas. A história: Joaquim, um jovem negro que consegue entrar para uma universidade pública através do sistema de quotas, com o objectivo de estudar literatura e ser poeta. O problema é que o sistema de quotas, que pretende ser mais inclusivo, revela-se insuficiente e a vontade de estudar não chega. Joaquim continua a ter de tomar conta de uma avó doente, a não conseguir arranjar trabalho, a não ter dinheiro para os transportes ou para comer, a ser olhado de lado por colegas, a ser “agredido pela pobreza”, como diz. O sonho da poesia vai morrendo, porque poucos sonhos subsistem quando é preciso lutar todos os dias pelas coisas mais básicas e quando se sente que não há muito espaço para pessoas como ele. Ou, pior, que só há um espaço e uma vida possíveis, iguais aos de tantos outros como ele. É um livro tão bonito quanto triste, sentimos vontade de resgatar aquele rapaz o tempo inteiro, enquanto torcemos para que consiga fazer diferente e para que a vida não o castigue tanto. Maravilhoso, maravilhoso.