
23/07/2025
Mergulho em Apneia
❣️Num mundo onde o raso e o superficial abundam, ser-se profundo pode tornar-se solitário.
As pessoas profundas sentem demasiado. Pensam demasiado. Precisam de um sentido e de um propósito. De ver o quadro maior. Precisam de falar sobre questões que remetem para a sua existência e para o funcionamento do mundo e do que as rodeia.
Só que as pessoas profundas podem facilmente afastar quem não está disposto a pensar mais ou a sentir mais. Questionam, colocam em causa, parecem espelhos ambulantes.
Para os rasos, pode ser cansativo lidar com quem precisa de mergulhar nas profundezas. E pode também ser incomodativo. É tão mais fácil andar-se à superficie de tudo. Para quem não mergulha, não faz sentido nenhum deambular sobre uma série de coisas que parecem desnecessárias.
Não há falta de gente à volta de quem carrega o privilégio e o fardo de ser profundo. Há sim, falta de conexão. Há falta de eco.
Os profundos precisam de se encontrar uns aos outros, para não se sentirem tão sozinhos, diferentes, estranhos ou deslocados.
E não se trata de seres de primeira ou de segunda. De superioridade ou inferioridade. De certo ou errado. Uma pessoa menos profunda pode ser melhor pessoa e ter melhor carácter do que uma que tem imensos recursos internos para a interioridade.
Trata-se, sim, da massa de que somos feitos e da necessidade de ressoarmos uns nos outros.
E se não encontramos companhia em quem é feito de uma massa semelhante, instala-se inevitavelmente um vazio, um enfado, um sentimento de não ser peixe embora viva e nade com o cardume no mesmo mar.
❣️