17/07/2025
🎙 Conversas d’Honra - Episódio 52
Um novo episódio desta rubrica semanal que dá voz a quem vive o futebol com paixão e autenticidade.
O convidado desta semana é Marco Gonçalves, treinador que ajudou a protagonizar uma época de sonho ao serviço do UD Beiriz, coroada com a conquista da Série 1 da Divisão de Honra, logo na sua estreia como treinador principal em seniores.
🏆 No seu currículo:
• Campeão da Série 3 da 2ª Divisão S-19 - 2023-2024
• Campeão da Série 1 – Divisão de Honra 2024-2025
📌 Disputou a Divisão de Honra:
⚽ 2024/2025 – UD Beiriz
Um nome que deixou a sua marca no UD Beiriz… e que agora se afasta dos relvados, pelo menos de forma direta.
Uma conversa sobre trabalho, mentalidade e amor ao jogo.
"Antes de mais gostaria de agradecer e enaltecer o vosso trabalho porque é sem dúvida um grande meio de divulgação do nosso futebol distrital, em particular da divisão de honra. Bem, aquilo que me levou a estar ligado ao futebol e principalmente como treinador, acho que foi a paixão que me foi passada desde pequeno pelo meu pai, que também era treinador.
Na realidade para mim o futebol surgiu de forma muito natural durante o meu crescimento, em casa sempre fomos muito ligados ao futebol e essa paixão foi passando para mim e também para as minhas irmãs, enquanto acompanhávamos o nosso pai. Somos todos uns apaixonados por futebol, e nos últimos anos a nossa família viu-se obrigada a dividir o apoio entre os meus jogos e os jogos da minha irmã, que neste momento está a viver um sonho que no fundo é de todos nós.
Eu ainda joguei futebol na formação, mas quando subi a sénior fiquei logo como treinador-adjunto da equipa que jogava até então. Como sénior joguei apenas dois anos, porque desde muito novo olhava para o jogo mais como treinador, até que o meu último ano como jogador coincidiu com o meu pai como meu treinador, e nessa época acho que fui mais adjunto dele do que propriamente jogador.
Eu estive três anos e meio a treinar os sub-19 da UD Beiriz, primeiro no nosso antigo contexto, no futebol popular, e a época passada na nossa estreia no futebol distrital, onde conseguimos subir de divisão, tal como a equipa sénior. Acho que o convite para a equipa principal surgiu com naturalidade, embora tenha sido o 3º treinador da equipa esta época, sei que acabei por ser uma “opção de último recurso” por culpa própria, uma vez que já tinha existido esta possibilidade antes e eu rejeitei, se calhar faltava-me alguma coragem mas eu acredito que as coisas acontecem quando tiverem que acontecer, e felizmente acabou por dar tudo certo para mim, e principalmente para o clube, que é o mais importante no final de tudo.
Nestas últimas 4 épocas eu nunca tive descanso, nunca tive uma noite tranquila de sono porque fui sempre obrigado a construir um plantel novo a cada ano, e felizmente acabei sempre por conquistar títulos em todos eles. Mas elegendo uma época mais difícil acho que tenho de escolher esta que terminou agora. Metade da época nos sub-19 com muitos altos e baixos e depois 5 meses de extrema exigência nos seniores com margem completamente nula para falhar. Começamos o nosso trabalho com 30 pontos em disputa e com 7 de desvantagem para o primeiro lugar, um grupo com uma competência acima da média, mas que se calhar já acreditavam pouco neles próprios para o que restava da época. Mesmo fisicamente estavam muito abaixo daquilo que era preciso, então tivemos de fazer uma espécie de pré-época numa fase em que o mais importante todas as semanas era somar 3 pontos.
O facto de logo nas primeiras duas semanas termos encurtado a desvantagem de 7 para 1 ponto, acho que foi o ponto principal para reacender a chama da ambição e motivação para o grupo de trabalho. Sabíamos que cada jogo era uma final e foi nesse sentido que encaramos o trabalho semana a semana, com muita responsabilidade e seriedade em todos os momentos e só assim foi possível chegar ao fim no primeiro lugar e sermos campeões de série. Acho que foi uma aventura épica para todos nós, porque envolveu muita coisa, como disse, elevar os índices físicos, psicológicos e ainda tentarmos dar algum cunho pessoal naquilo que era o jogo jogado.
Tudo isto, sem termos qualquer tipo de hipótese de escorregar uma única vez, já que a luta foi a 3 / 4 equipas até ao fim e nós só subimos para a frente ao faltarem 2 jornadas. Foi absolutamente inesquecível e sem a seriedade de todos nunca teria sido possível.
Acho que falar em qualidades e competências é indiscutível, para ganharmos jogos temos de ter jogadores capazes e nunca podem dizer o contrário.
Agora, se isso é suficiente? Claro que não.
Um grupo de jogadores é muito mais que isso e tive a sorte de encontrar um grupo que é verdadeiramente um grupo, com as devidas exceções logicamente, mas que também fazem parte daquilo que é a essência do futebol, da nossa gestão de homens e egos. O essencial é os jogadores saberem que dentro do campo cada um vai dar a vida pelo próximo, em todos os momentos, porque durante 90 minutos há muita coisa a acontecer e temos de estar sempre ligados uns aos outros, e isso cria-se dentro e principalmente fora do campo.
Os valores que para mim são a chave para qualquer sucesso são a seriedade, o compromisso e principalmente o altruísmo.
O maior conselho que dou a quem está nestas divisões é que tenham em si os valores que falei anteriormente.
Sermos o mais profissionais possível neste contexto que é amador, porque há uma coisa que é comum a todos os níveis de futebol do mundo, a paixão. Não há ninguém que esteja por aqui que não seja apaixonado pelo futebol, e quando assim é, não temos outra opção a não ser darmos o nosso máximo em todos os momentos, sendo sérios e comprometidos sem nunca nos esquecermos que o futebol é um desporto coletivo e precisamos de todos para sermos felizes.
Em janeiro já tinha decidido que no final desta época iria sair, mesmo sem imaginar que iria passar por todo um turbilhão de emoções até aqui. Mesmo assim, fui convidado a continuar, mas neste momento preciso de concentrar as minhas energias na minha vida pessoal e profissional.
Queria aproveitar para agradecer a todos aqueles que se cruzaram comigo neste caminho, em especial aos meus treinadores adjuntos, jogadores e obviamente, a minha família e amigos."