27/11/2025
🎙 Conversas d’Honra — Episódio 71
O convidado de hoje é o Bertinho. Durante toda a formação representou o seu clube, o clube da sua terra, o AD São Pedro da Cova, onde conseguiu estrear-se como sénior. Teve uma lesão que na altura o mais sensato teria sido abandonar o futebol mas afirmar que mais doloroso foi ver o seu clube a fechar portas, dizendo que “Foi uma tristeza e uma dor inexplicáveis” admitindo que não há nada melhor que representar o seu clube e o da sua terra e ver amigos e conhecidos nas bancadas.
📌 Na Divisão de Honra:
⚽ 2008/2013 – AD São Pedro da Cova
⚽ 2015/2016 – Ermesinde SC
⚽ 2018/2020 – Gens SC
⚽ 2022/2025 – SC Campo
O meu trajeto na formação foi muito simples: foi no clube do meu coração, o São Pedro da Cova.
É verdade que ao longo dos anos sempre recebia alguns convites para sair, mas sempre optei por permanecer no clube da minha terra.
O salto para os seniores aconteceu de forma natural. Na altura, o São Pedro da Cova estava a competir na antiga 3ª Divisão Nacional. Eu ainda era júnior, mas fui chamado para integrar a equipa sénior. Tive o privilégio de conhecer e fazer parte de um grupo de homens de grande experiência e caráter.
Os valores que sempre tentei transmitir aos mais novos são simples: no futebol, como na vida pessoal, não vale tudo para se chegar ao sucesso.
A humildade, a simplicidade, o trabalho e, acima de tudo, o caráter são o mais importante para se destacar neste desporto.
Essa pergunta é difícil e ainda mexe comigo…
Eu sentia me capaz de continuar a competir — ou melhor, sentia mesmo.
Mas a decisão que tomei teve muito a ver com a minha personalidade e com o meu caráter,
caráter, que são… digamos, fortes.
Decidi abandonar porque deixei de me sentir útil e, acima de tudo, deixei de me sentir ouvido.
E quando um jogador com a minha experiência e responsabilidade passa a sentir se apenas “mais um”, então já não faz sentido continuar no projeto do clube.
Por isso, optei por sair. Foi uma decisão dura, mas fiel a quem eu sou.
Ora bem, uma bela pergunta.
A minha carreira foi muito boa, mas ao mesmo tempo cinzenta.
Boa porque tive o prazer de jogar ao lado de grandes jogadores, alguns dos quais chegaram ao profissionalismo. Conheci pessoas extraordinárias, fiz amigos para a vida e vivi momentos incríveis no futebol.
Cinzenta por causa das graves lesões que enfrentei ao longo da minha trajetória. Lesões tão sérias que, em muitas situações, o mais sensato seria ter desistido.
Mas eu venho de uma terra onde a palavra “desistir” não existe — somos mineiros — e continuei.
No geral, estou muito agradecido ao futebol pelo que me proporcionou.
Em 20 anos como sénior, tive a honra de ser capitão em todos os clubes por onde passei, uma responsabilidade enorme que me fez crescer mentalmente e me ajudou muito na minha vida pessoal.
Ora bem, momentos marcantes no futebol, como é óbvio, há imensos ao longo de 20 anos.
Mas o que mais me marcou foi a lesão que nenhum jogador quer ter: fratura da tíbia e do perónio.
Ainda mais doloroso, porém, foi ver o meu clube, o São Pedro da Cova, fechar as portas.
Foi uma tristeza e uma dor inexplicáveis.
Para mim, o momento mais marcante da minha carreira foi o meu primeiro jogo no Estádio de Laranjal, a jogar pelo meu clube.
Porque não existe nada melhor do que representar o clube da nossa terra e sentir o apoio de quem nos rodeia.
Ver a bancada cheia de pessoas que conheces e gostas torna tudo ainda mais especial.
O maior conselho que posso dar aos jovens jogadores que estão a chegar a uma divisão tão competitiva, como a Divisão de Honra, ou qualquer outra, é simples: tenham humildade.
Aceitem um puxão de orelhas do colega do lado e não pensem que sabem tudo só porque eram bons na formação. O futebol é diferente e o respeito pelo treinador e pelos colegas é fundamental.
O caminho certo é ouvir, aceitar a crítica, trabalhar sempre o dobro e, acima de tudo, procurar ser sempre a sua melhor versão.
Por último, quero agradecer pela oportunidade de me dar a conhecer um pouco mais.
Agradeço também pelo trabalho extraordinário que vocês realizam.