11/27/2025
♔ | Rainha D. Luísa de Gusmão - Figura-chave da Restauração de 1640
D. Luísa de Gusmão, de seu nome completo Luísa Maria Francisca de Gusmão e Sandoval, nasceu em Sanlúcar, Espanha, em 13 de Outubro de 1613 e faleceu em Lisboa, Portugal, em 27 de Fevereiro de 1666. Era filha de Don Juan Manuel Peres de Gusmão, 8º Duque de Medina Sidónia, e de D. Joana Lourença Gomes de Sandoval e Lacerda, filha do 1.º duque de Lerma, o senhor mais poderoso de Huelva y Sanlucar de Barrameda.
Em plena monarquia-dual e união das Coroas de Portugal e Espanha, no início do reinado de Filipe III, então com 16 anos, em 1621, instalou-se em Madrid a política centralista de Gaspar Filipe de Gusmán, Conde-Duque de Olivares, plasmada no seu “Projecto Instrucción sobre el gobierno de Espanha”, de 1625, apontada à obliteração da autonomia portuguesa, abduzindo por completo o Reino de Portugal. O conde-duque de Olivares foi um nobre e político espanhol do século XVII, III conde de Olivares, I duque de Sanlúcar la Mayor, I duque de Medina de las Torres, I conde de Arzarcóllar, I príncipe de Aracena e valido e chanceler do rei Felipe IV da Espanha, III de Portugal. No ponto 1º do seu 'projecto' previa: 'Realizar uma cuidadosa política de casamentos, para confundir e unificar os vassalos de Portugal e de Espanha'.
Assim de acordo com a vontade de Espanha, D. Luísa de Gusmão casou por procuração no início de Janeiro de 1633, e presencialmente, com grande p***a e circunstância, em Elvas, no dia 12 desse mesmo mês, com D. João (II), 8.º Duque de Bragança, que em 29 de Novembro de 1630 sucedera ao mais importante título de nobreza portuguesa e herdara os bens da principesca Sereníssima Casa de Bragança, por morte de seu pai, o 7.º Duque, D. Teodósio. O casamento presencial foi celebrado pelo bispo D. Sebastião de Matos Noronha, ulteriormente arcebispo de Braga. Após a celebração, o Duque celebrou copiosas celebrações, em Vila Viçosa, onde se situa o Paço Ducal. Uma vez que o matrimónio ia ao encontro da vontade do conde-duque de Olivares, como presente de casamento, o chanceler-mor de Felipe IV, restituiu à casa de Bragança o ducado de Guimarães, assim como outras prerrogativas que lhe haviam sido abduzidas aquando da União dos dois Reinos.
Apesar de ser espanhola de nascimento, as suas ambições políticas levaram-na a influenciar o marido no sentido de se opor ao domínio filipino em Portugal, e, D. Luísa de Gusmão teve um papel fundamental na Restauração de 1640. Apesar de suas raízes, a Duquesa apoiou o coup dos Conjurados e foi determinante na aceitação de D. João do Trono português. É dito que, ao ser alertada sobre os perigos de se tornar rainha de um país que enfrentaria o poder da Espanha, ela pronunciou as famosas palavras: 'que tinha por mais acertado morrer reinando, que acabar servindo', palavras que o tempo parafraseou para 'antes ser Rainha uma hora, do que Duquesa toda a vida'.
Saíram pois goradas, as intenções do 'ministro' Gaspar Filipe de Gusmán, pois a duquesa orientou as políticas de seu marido durante a revolução portuguesa contra a Espanha dos Habsburgos, em 1640, e D. Luísa é considerada a principal influência por trás da aceitação do trono português por seu marido.
Concretizada a revolução do Primeiro de Dezembro, D. João IV ruma a Lisboa, onde entra no dia 6, sendo Aclamado rei perante os Três Estados em 15 desse mesmo mês. A rainha D. Luísa de Gusmão entrou em Lisboa a 21 de Dezembro, acompanhada pelo seu filho, o príncipe D. Teodósio e pelos Infantes D. Afonso, D. Joana e D. Catarina. O bom Povo português não estranhou a Rainha, e recebeu-a entusiasticamente, pois apesar de ser espanhola era notório quanto D. Luísa contribuiu para o seu marido aceitar a Coroa de Portugal, e, por isso, dedicou-lhe as maiores manifestações de agrado.
O seu papel de poder por detrás do trono, intensificou-se, e, quando foi informada de uma tentativa fracassada de assassinar o Rei em 1641, diz-se que D. Luísa foi um dos membros da Corte que apoiou a execução dos nobres conspiradores como o Duque de Caminha.
D. Luísa sofre um grande desgosto por morte prematura do filho primogénito D. Teodósio, com apenas 19 anos, em 15 de Maio de 1653, e com a qual o Infante D. Afonso, se torna herdeiro do trono.
Com a morte de D. João IV, em 1656, por testamento deixa a rainha sua mulher como tutora e curadora dos seus filhos, e regente do reino durante a menoridade de D. Afonso. O filho D. Afonso VI (1643-1683) que era diminuído física e mentalmente, devido a doença infantil, joguete dos irmãos Conti, dois genoveses que eram seus validos, e que desde a infância se lhe haviam colado, quis assumir a governação com 13 anos, mas, D. Luísa de Gusmão afasta-o da governação e toma a seu cargo a regência do reino. Durante a regência, a rivalidade entre cortesãos levou-a a nomear a chamada Junta Nocturna, constituída por vários conselheiros da sua confiança. Como viúva de D. João IV, ela defendeu os princípios de liberdade e independência da restauração e manteve-se no governo, receosa de que o filho mais velho comprometesse esses princípios.
Em 1661, a Rainha regente D. Luísa de Gusmão, digníssima viúva d’El Rei Dom João IV, o Restaurador, declarou em Cortes o contrato nupcial, aprovado pelo Conselho de Estado, do casamento da Infanta Dona Catarina Henriqueta de Portugal com o Rei Carlos II de Inglaterra. Seguiu-se um contrato de paz, com artigos muito curiosos, publicado no Gabinete histórico, de Frei Cláudio da Conceição, onde vem a descrição do real consórcio:
«0 nosso augusto Soberano Lorde Carlos II, pela Graça de Deus, rei da Grã-Bretanha, França e Irlanda, Defensor da Fé e a Ilustríssima Princesa D. Catarina, Infanta de Portugal, filha do falecido D. João IV, e irmã de D. Afonso, presente rei de Portugal, foram casados em Portsmouth na quinta-feira, vigésimo segundo dia de Maio, do ano do N. Sr. de 1662, 14.º do reinado de SM, pelo R. R. F. in G. Gilbert, Bispo Lorde de Londres, Deão da Real Capela de Sua Majestade na presença de grande parte da nobreza dos domínios de Sua Majestade e da de Portugal.»
Durante os seis anos de regência, D. Luísa encarou o maior esforço da guerra da Restauração com Espanha; alcançando-se nesse período as vitórias nas batalhas das linhas de Elvas e de Monte Claros, embora muito pela liderança do Condestável, o Marquês de Marialva. Deixou ainda obra, pois D. Luísa de Gusmão fundou em Lisboa o colégio dos irlandeses ao Corpo Santo; o convento de Corpus Christi, de carmelitas descalços; e no sítio do Grilo o mosteiro de religiosas da mesma ordem.
D. Luísa, está já por esta altura, de fim de regência, dominada pelo frade holandês Frei Domingos do Rosário, e, em 1661, farta das habilidades dos áulicos da Corte e tendo D. Afonso completado 18 anos de idade, quis largar a regência, mas o conselho de Estado insiste com a Rainha-regente para que se mantenha no poder, temendo que o novo rei, ao assumir o governo, atribuísse os principais cargos do Estado aos irmãos Conti. A Rainha anui, mantem-se na regência e desterra os dois irmãos genoveses para o Brasil.
Mas a 26 de Junho de 1662, num golpe palaciano, D. Afonso VI instigado por um grupo de nobres chefiados pelo conde de Castelo Melhor, pelo conde de Atouguia e por Sebastião César de Meneses, assume todos os poderes; D. Luísa de Gusmão discorda, mas não recusa, e, entrega a regência, mas continua a viver no Paço, até que, em 1663, o Conde de Castelo Melhor a afasta definitivamente para o convento do Grilo, em Xabregas. No seguimento, o casamento de D. Afonso VI com Maria Francisca Isabel de Saboia, Mademoiselle d’Aumale celebra-se por procuração em 27 de Junho de 1666, mas não se consuma. Apesar do Rei 'Vitorioso' ter consolidado a Independência, a impossibilidade de gerar descendência assusta a Família Real e a Nobreza, pois a Independência tão recente poderia periclitar.
D. Luísa de Gusmão faleceu em Lisboa, Portugal, em 27 de Fevereiro de 1666.
A 23 de Novembro de 1667, D. Afonso VI abdicou do poder em favor do irmão. A 24 de março de 1668, o seu casamento foi anulado e o rei desterrado para Angra do Heroísmo. D. Pedro II, "o Pacífico", serve a Nação, como regente do irmão, o Rei Afonso VI, a partir de 1668 até à ascensão ao trono como Rei de Portugal e Algarves em 1683.
Miguel Villas-Boas | Plataforma de Cidadania Monárquica