16/07/2024
CÓDIGO DE BARRAS PARTE II
Vê-se ao longe,
A paisagem vai secar,
O verde vai acenar,
Vai se escapar dos olhos do velho,
O velho sente por dentro,
O rio vai acabar,
O leito vai se partir,
O velho sabe que vai sentir falta do verde,
Para respirar,
Vê o fogo nascer-lhe por dentro,
As chamas ganharem cor e nome,
As chamas comem-lhe o peito,
Mas o velho olha, e as chamas crescem,
Gosta do verde,
Queria fazer misturas
Juntar coco e areia branca
Porque o verde fala-lhe por dentro,
As areias brancas são a sua história
O velho é herege,
Aos hereges só o fogo,
mundo cruél?
E o velho sente, não tem perdão.
Porque tenta misturas improváveis,
Quer chamar Tundavala ao Ilhéu das Rolas.
Esquece-se que os kilometros são muitos,
Devia correr, cuspir para o céu e chamar a chuva,
Beijar a areia branca.
Não quer, detém-se a ver o rio que se partiu,
Sonha com o verde para respirar.
As margens nunca mais se juntam,
O velho é louco
Tenta umas misturas alucinadas,
Ele diz que lhe nascem por dentro,
Mas ele sabe que a paisagem se alterou,
O rio nunca mais volta a ter cor, porque o leito se partiu,
O velho tem a areia branca entre os dedos
Cerra as mãos e a guarda fundo
Porque sabe que o verde vai embora
Vai acenar e deixá-lo só, com o fogo a comer-lhe o peito
Vê o verde voar-lhe dos dedos,
Amaldiçoa a vida e as suas leis,
Tem orgulho em ser herege,
Em viver distante,
Acha que assim a vida tem outro gosto
Como cheiro pesado e fumo bom.
O rio se partiu, o Ilhéu das Rolas
Nunca mais se vai chamar Tundavala.
(Julho, 2015)